sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O FILME INFIEL

     Que filme é este que tem causado protestos por toda parte?
     Trata-se de “Inocência dos Muçulmanos” (segundo Frei Betto); “Julgamento de Maomé” (segundo Maria Clara Luccetti Bingemer); ou, ainda, “Maomé, Profeta dos Muçulmanos”...
     O filme inteiro, até agora, não foi exibido. O que foi divulgado foi um “trailler” de 14 minutos.
     O que o filme mostra?
     Ser um filme anti-islâmico; apresenta o Islã como uma religião de violência e ódio; Maomé é um homem tolo e com sede de poder; segundo Frei Betto, “as cenas do filme vão da grosseria à pornografia. Num dos trechos, diz uma velha: “Tenho 120 anos. Nunca conheci um assassino criminoso como Maomé. Mata homens, captura mulheres e crianças. Rouba caravanas. Vende meninos como escravos depois que ele e seus homens abusaram deles”.
     Por isso, protestos dos muçulmanos se espelharam por toda parte. E levantam a questão sobre até que ponto vai a “liberdade de expressão” e se é tolerável o anonimato de quem quer se esconder por trás dessa liberdade.
     A Constituição Brasileira reza, no artigo 5°, inciso IV: “É livre a manifestação de pensamento sendo vedado o anonimato”.
     O citado filme é dirigido por um tal de San Basile, e se acredita tratar-se de um pseudônimo!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012


DEUS MORTO? VIVO? “NA MODA”?(II)

                                                                 Pe. Francisco de Assis Correia

      No artigo anterior, citei o 7° Sínodo Nacional do Clero de Portugal, segundo o qual os padres “são convidados a trazer a discussão sobre Deus para a praça pública”.
      Tema de “Teologia Pública”!
      Há, porém, uma complexidade de discussão sobre Deus, atualmente. Ou, melhor, é preciso levar em conta as diferentes “gramáticas”, ou seja, “os novos modelos de se pensar sobre o mundo”.
      Há, por exemplo, o dos novos ateístas como: Dawkins, Dennet, Harris e Hitchens, com sua “retórica virulenta”, “fundamentalista”, “filosoficamente ingênua”, como observou Marcelo Gleiser (1).
      Isto equivale a pensar toda e qualquer realidade em toda a sua complexidade.
      É preciso pensar também na relação entre teologia e ciência.
      No Brasil, destaca-se, neste tema, o Pe. Erico Hammes: é graduado em Filosofia pela faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição e em Teologia pela PUC do Rio Grande do Sul; tem mestrado e doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; pós-doutorado em Cristologia e Paz pela Universidade de Tubingen, na Alemanha.
      Suas pesquisas atuais estão relacionadas à Teologia e às Ciências Naturais, com destaque especial à Cosmologia e às Ciências da Vida.


      (1) Marcelo Gleiser é graduado em Física pela Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio; mestre em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e doutor em Física Teórica pelo King’s College, em Londres; tem pós-doutorado pelo Fermilab e pela Universidade da Califórnia Santa Barbara nos Estados Unidos. Leciona no Dartmouth College, em Hanover, nos Estados Unidos. Dentre sua vasta produção acadêmica, além de inúmeros artigos e livros publicados, destaco:
      - A Dança do Universo (Rio de Janeiro: Companhia de Bolso, 2006);
      - Cartas a um Jovem Cientista (Rio de Janeiro: Campus, 2007);
      - Criação Imperfeita (Rio de Janeiro: Record, 2010)
      - Conversa sobre Fé e Ciência (São Paulo: Agir, 2011), escrito com Frei Betto.
        

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DEUS: MORTO? VIVO? “NA MODA”? (I)


 DEUS: MORTO? VIVO? “NA MODA”? (I)

                                                                 Pe. Francisco de Assis Correia

      Li, no ultimo dia 12, que Gabriel Vahanian faleceu. Ele era natural de Marselha, na França, onde nasceu, em 1927.
      Ele fora um dos protagonistas da “teologia da morte de Deus”, na década de 1960, “levando à extremas consequências a lição de Friedrich Nietzsche e de Dietrich Bonhoeffer”.
      Entre as obras de Vahanian, estão: “A Morte de Deus: a cultura da nossa era pós-cristã”(1961); “Espera sem Deus” (1964); “Não há outro Deus”(1966); “A Condição de Deus”(1969); “Deus e Utopia”(1977); “O Deus Anônimo ou o Medo das Palavras”(1989)...
      Era eu estudante de Filosofia no Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo-SP e tomei conhecimento desta literatura conhecida como “Teologia da Morte de Deus”.
      Nesta linha, vieram os teólogos: Willian Hamilton, Thomas Altizer, Harvey Cox, (que conheci pessoalmente, em 1968, na Universidade Gregoriana de Roma e, na mesma ocasião, Karl Rahner!).
      Foi um dos movimentos teológicos daquela época!
      Li uma entrevista, também recente, na qual, um dos maiores filósofos vivos do mundo (“amigo de Pasolini e de Heidegger”), “uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo” (segundo TIMES e LE MONDE), Giorgio Agamben, afirmou que “Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro”!
      Por outro lado, o arcebispo de Burgos, na Espanha, Dom Francisco Gil Hellín, todo otimista, tratou do “retorno a Deus”, sublinhando várias conversões de autores, tais como:
      - Sylvie Germain (nascida em 1954),francesa; dentre suas obras, encontram-se, traduzidas para português: O Livro de Tobias (Dedalos, 2002); A Canção de Amantes Falsos (Dedalos, 2004); Magnus (Dedalos,2008); Vidas Ocultas
(Dedalos,2010)...
      - François Taillandier (nascido em 1955, na França), romancista, jornalista; em português, podem ser encontradas as seguintes obras: Paraíso Opção (A Trama Grande I), Stock, 2005; O Épico de Compostela (L’durável Instantâneas, 2006); Refratária: Bardey d’Aurevilly (Bartillat, 2008); etc...
      - F. Hadjady: escritor e intelectual judeu que se converteu ao catolicismo;
      - Dactec: intelectual excêntrico e controverso;
      - Alessandra Borghese (nascida em Roma, 1963), escritora e jornalista italiana; vários livros seus encontram-se em português;
      - Maria Nájera (nascida em Madri, Espanha), romancista, casada, mãe de três filhos, com obras traduzidas para o português;
      - Akiko Tamura, cirurgiã toráxica da Clínica Universitária da Universidade de Navarra, na Espanha, que entrou para um convento de carmelitas descalças; etc...
      Entretanto, falar que Deus está na moda, parece-me uma expressão banal e incorreta!
      Como sublinhou o 7° Simpósio Nacional do Clero de Portugal, os padres são “convidados a trazer a discussão sobre Deus para a praça pública”.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

OS CATÓLICOS E O CENSO 2010


                                OS CATÓLICOS E O CENSO 2010

                                                                       Pe. Francisco de Assis Correia

            Três pontos principais do Censo 2010 são brevemente desenvolvidos nesta crônica: primeiro, a atual situação dos católicos no Brasil; segundo, as diferentes leituras dos dados e, terceiro, a saída.
            A atual situação dos católicos revelada pelo Censo 2010, mostra queda do numero dos mesmos! Em 1970, 91,1% dos brasileiros eram católicos. Agora, esta porcentagem, reduziu-se a 64,6%, correspondendo, numericamente, a 123,2 milhões, dentro de uma população cujo total é de 197,7 milhões! O Brasil de hoje mostra uma diversidade religiosa muito grande.
            O quadro presta-se a diferentes interpretações: uma delas é – como observou o Prof. Faustino Teixeira, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora-MG – “é a incapacidade dos setores eclesiásticos, no âmbito católico-romano, de perceberem com clareza a dimensão da crise em curso. Diante dos dados apresentados, reage-se com ingênuo otimismo. Ou se diz que aqueles que permanecem católicos são de fato os mais convictos, e que o catolicismo privilegia não o traço quantitativo, mas qualitativo; ou então se busca firmar um outro olhar, sinalizando, na contramão, a vitalidade do catolicismo. É o que se verificou com reação de muitos clérigos diante dos dados apresentados no último censo”.
            O certo é que o censo demonstra uma grande transformação do campo religioso brasileiro; que a diminuição da declaração de crença católica vem se acentuando há mais tempo; que “é das religiões tradicionais que as pessoas tendem a se afastar” ( Pierre Sanchis); que a Igreja Católica com a linguagem antiquada e incompreensível para a maioria do povo e a desatualizada abordagem dos temas vitais de moral afasta muitas pessoas; não se pode esquecer também que nosso testemunho igualmente dificulta a permanência dos fiéis... Isto sem falar dos casos de pedofilia e de outros escândalos que a mídia mostra com frequência.
            O que fazer?
            Propõem-se as comunidades de base como saída, para qual tem faltado “vontade política”.
            As grandes concentrações de gente, os megas templos não criam comunidade, não têm “senso de comunidade”. Os movimentos carismáticos revelaram não ser saída.
            Vale lembrar o que o padre Alberto Antoniazzi escreveu, tratando do Censo de 2000:
            “... não foram os fiéis que abandonaram a Igreja Católica, mas esta deixou sem o devido acompanhamento pastoral importantes grupos da população”.