sábado, 20 de junho de 2015

IPÊS (Serie 70 anos, 88°)


            Um amigo, que faz o trajeto, diariamente de Brodowski a Ribeirão Preto, pela Candido Portinari, sabendo como gosto de ipês, avisou-me que os ipês, à beira da referida rodovia, já começaram a florir.
            É, na verdade, eles começam, a florir já por volta do mês de junho. Ruben Alves, que amava os ipês (veja Tempus Fugit, Pag. 12), observou sabiamente, que os ipês “Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está pra chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio.”
            São ipês rosa, amarelos, brancos.... prefiro os brancos. Carregado, um pé de ipê branco, parece estar coberto de neve, mas, para Ruben Alves, as cores do ipê tem um outro sentido: “Agora são os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.
Cada um dizendo uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira musical, que certamente teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se tivessem vivido aqui.
Primeiro movimento, “Ipê Rosa”, andante tranquilo, como o coral de Bach que descreve as ovelhas pastando. Ouve-se o som rural do órgão.
Segundo movimento, “Ipê Amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê, fazem soar a exuberância da vida.
Terceiro movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e esperança. Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno…”
            Não podendo mais contemplar a beleza das flores do ipê, por causa de minha deficiência visual, mentalmente os visualizo naquela rodovia, por onde passei por tantos anos, e conto com as informações sobre eles, dadas pelo meu amigo. Nem mesmo me esqueço da letra e musica de Tião Carreiro e Pardinho – O ipê e o prisioneiro – que imortalizou, tão poeticamente a diferença de vida que o ipê sugeriu entre ele e o prisioneiro.
            Ipê, madeira nobre, um dos símbolos do Brasil, tenha mais espaço para ser contemplado, quer no serrado, quer no asfalto, mesmo que suas flores incomodem as “donas das vassouras”.


Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário