Um amigo, que faz o trajeto,
diariamente de Brodowski a Ribeirão Preto, pela Candido Portinari, sabendo como
gosto de ipês, avisou-me que os ipês, à beira da referida rodovia, já começaram
a florir.
É, na verdade, eles começam, a
florir já por volta do mês de junho. Ruben Alves, que amava os ipês (veja Tempus
Fugit, Pag. 12), observou sabiamente, que os ipês “Alegram-se em fazer as
coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o
amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está pra chegar, com seu
calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa
florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio.”
São ipês rosa, amarelos, brancos....
prefiro os brancos. Carregado, um pé de ipê branco, parece estar coberto de
neve, mas, para Ruben Alves, as cores do ipê tem um outro sentido: “Agora são
os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.
Cada um dizendo
uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira musical, que certamente
teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se tivessem vivido aqui.
Primeiro
movimento, “Ipê Rosa”, andante tranquilo, como o coral de Bach que descreve as
ovelhas pastando. Ouve-se o som rural do órgão.
Segundo movimento,
“Ipê Amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê,
fazem soar a exuberância da vida.
Terceiro
movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e
esperança. Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom
se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno…”
Não podendo mais contemplar a beleza
das flores do ipê, por causa de minha deficiência visual, mentalmente os
visualizo naquela rodovia, por onde passei por tantos anos, e conto com as informações
sobre eles, dadas pelo meu amigo. Nem mesmo me esqueço da letra e musica de
Tião Carreiro e Pardinho – O ipê e o prisioneiro – que imortalizou, tão
poeticamente a diferença de vida que o ipê sugeriu entre ele e o prisioneiro.
Ipê, madeira nobre, um dos símbolos
do Brasil, tenha mais espaço para ser contemplado, quer no serrado, quer no
asfalto, mesmo que suas flores incomodem as “donas das vassouras”.
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador
do autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário