terça-feira, 31 de julho de 2012

COMO SE FAZ UM BISPO: SEGUNDO O ALTO E O BAIXO CLERO

           COMO SE FAZ UM BISPO:
                                SEGUNDO O ALTO E O BAIXO CLERO
                                                                                 

Pe. Francisco de Assis Correia

      Em tempo de sede vacante, vale a pena ler este livro:
      J.D. Vital
      Como se faz um Bispo: segundo o alto e o baixo clero.
      Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
      Leitura fácil, envolvente, fluente. Prende o leitor do começo ao fim. Ainda mais para nós que conhecemos muitos do alto e do baixo clero presentes no livro. A começar de um ex–aluno do CEARP e ex-padre de nossa querida Arquidiocese que, sem curso reconhecido pelo MEC, como quase todos os ex-padres deste imenso Brasil, procura emprego.
      O autor, ex-seminarista, faz-nos lembrar a vida de seminário dos velhos tempos e perceber a política eclesiástica em torno de nomeações episcopais, arquiepiscopais e cardinalícias.
      Alerta-nos contra a terrível invidia clericalis (inveja clerical) que frustra tantas excelentes candidaturas e favorece mediocridades.
      O inicio do livro traz uma lista de terminologia clerical – um pequeno léxico – útil para os que não estudaram latim.
      Esse texto fez me lembrar de um grande romancista norte-americano, padre, professor de sociologia na Universidade do Arizona, membro do Centro Nacional de Pesquisa da Universidade de Chicago, autor de mais de 50 romances e mais de 100 obras de não ficção. Trata-se de Andrew M. Greeley.
      Dentre suas obras, em relação a este tema, destaco:
      Como se faz um Papa: a história secreta da eleição de João Paulo II.
      Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
      E
      Os Pecados de um Padre
      Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
      Nos EUA este romance esteve na lista dos mais vendidos do New York Times.
      Vale a pena conferi-los, neste tempo de sede vacante.
     

quinta-feira, 26 de julho de 2012

CARTA AOS MEUS EX – ALUNOS DE TEOLOGIA

                   CARTA AOS MEUS EX – ALUNOS DE TEOLOGIA

         Bom dia, Jovens!
         Que vocês estejam bem!
         Quanto a mim, como dizem (ou diziam) os mineiros, “vou pelejando, graças a Deus”.
         Dom Felicio, nosso, então, Santo Arcebispo, perguntado “como estava” respondia: “Como o Senhor é servido”! Eu, que não sou santo (no sentido atual), só posso responder: “pelejando, com a ajuda da graça de Deus”! Afinal... “tudo é graça”!
         O motivo desta é convidar vocês à leitura do número da REB (Revista Eclesiástica Brasileira, Fascículo 283, julho, 2011). Desculpem o atraso. É que somente neste mês de julho de 2012 consegui um digitador. Manuscrito, o artigo já completou um ano. Mas leiam principalmente a parte “Comunicados”. Dentre esses (leiam todos, por favor!), a entrevista do meu querido contemporâneo e amigo do Pio Brasileiro, Pe. João Batista Libânio (pp. 730-735, só 5 páginas!). Ainda neste mesmo ano, enviei-lhe um e-mail pelo seu jubileu de ouro de ordenação presbiteral. Na sua resposta, dizia que se lembrava de mim “alto e forte” (não nos vemos há quase trinta anos!). Valeu essa lembrança...
         O titulo de sua entrevista é: “A liberdade cristã: um dos núcleos da teologia de José Comblin”.
         É sobre o teólogo Pe. Comblin falecido em 27 de março de 2011, aos 88 anos de idade, em local próximo a Salvador, na Bahia e sepultado no Santuário de Santa Fé do Pe. Ibiapina, em Guarabira, na Paraíba.
         Belga de nascimento, veio para o Brasil, em 1958. Lecionou no Seminário Menor de Campinas e depois, fez longo percurso, como teólogo, pelo Brasil e pela América Latina.
         Veio do mesmo colégio de Lovaina (Bélgica) para Sacerdotes que desejavam trabalhar na America Latina.
         É deste mesmo colégio que Dom Luis do Amaral Mousinho, nosso 1º Arcebispo Metropolitano, esperava receber professores especializados em diferentes disciplinas para lecionarem no seminário de Brodowski! (aqueles apartamentos do pavilhão da frente do mesmo eram destinados a professores: escritório, quarto e banheiro. No final do corredor a sala destinada à biblioteca dos professores!).
         Mas de Lovaina não vieram para nós Padres Professores e, sim, Padres Pastores: primeiro foi o Pe. Emilio Jarbinet. Tinha sido missionário em Moçambique onde, também, foi professor de seminário menor; chegou ao Brasil em 26 de setembro de 1962; trabalhou primeiro como vigário cooperador da Catedral de Ribeirão Preto, assessorou a JOC (Juventude Operária Católica), o Círculo Operário Ribeirãopretano, a Cooperativa Popular de Consumo e, de 1964 a 1968, foi vigário ecônomo da Paróquia Senhor Bom Jesus da Lapa, em Ribeirão Preto, primeira Paróquia dos “belgas”. Pe. Jarbinet – como era chamado – faleceu solitariamente em São Paulo aos 16 de novembro de 1968!
         Depois dele vieram os Padres: Renato Verschelden, Paulo Verschelden, Balduíno, Estevão Remi Bruyland e Francisco Vannerom.
         Voltando ao artigo do Pe. Libânio, como sempre, o que ele escreve é de enorme riqueza! Desde o “olhar do teólogo” do semanário JORNAL DE OPINIÃO (sempre à página 9), às suas muitas e variegadas obras. Pois bem. Seu mencionado artigo da REB é muito mais do que uma memória sobre o pranteado Comblin. É um texto para Introdução à Teologia, para o método de estudar Teologia, para uma visão teológica atual, para diferentes enfoques nas disciplinas teológicas, etc... até mesmo utilíssimo para quem se dispuser a elaborar sua “monografia” sobre José Comblin ou sobre algum tema atual especifico.
         Observem atentamente, meus ex-alunos, o que o Pe. Libânio menciona como temas teológicos atuais: Jesus histórico, pobre, andarilho, sem pretensões de poder, kenótico; teologia corajosa e crítica, ecumenismo, diálogo inter-religioso, construção de novo paradigma teológico de libertação, “que além de tocar os aspectos estruturais da realidade político-econômica, avanço para os campos da etnia, ecologia, consumismo, pacifismo...”
         Vejam que riqueza, meus caros!
         Em um destes “comunicados” – Prof. Domingos Zamagna – meu amigo há mais de 40 anos, também do Pio Brasileiro, o autor menciona:
         “Falando dele (Comblin) para alunos, dentre os quais muitos seminaristas, a maior parte nem sequer sabe quem foi este teólogo” (p. 718).
         Espero que vocês se lembrem de quanto o citava!
         Até, por isso mesmo, tive de ouvir uma agressiva irritação de um ex-aluno e, hoje, ex-padre que me enfrentou com essa aleivosia:
         “O senhor não tem outro teólogo... só fala nele?!”
         Ainda que fosse... só teríamos a ganhar...
         O certo que, sem muita leitura, estudo... só teremos “Padres de pouca leitura e muita conversa, sem articular coisa com  coisa...”
         Vamos estudar, Jovens!
         Abraço fraterno a todos.
                                                  Pe. Francisco de Assis Correia. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O COLÉGIO SAGRADO DO CORAÇÃO DE JESUS

   O COLÉGIO SAGRADO DO CORAÇÃO DE JESUS
                                                            Pe. Francisco de Assis Correia

         O Colégio Sagrado Coração de Jesus de Jardinópolis foi fundado em 1914, então, pelas Irmãs Franciscanas Missionárias do Egito. Depois, esta Congregação, em 1950, passou a se chamar Irmãs Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria.
         Funcionou como internato e externato.
         Havia curso primário, ginasial, a Escola Normal e, até mesmo Curso de Contabilidade. Encerrou suas atividades no final de 1990, quando passou a abrigar a Escola de Formação de Soldados da Polícia Militar (1991- 1999) e, depois, a Prefeitura Municipal.
         Do Colégio tenho muitas lembranças, como coroinha: ter ajudado missa de muitos padres, de alguns bispos como Dom Luís do Amaral Mousinho, Dom Antônio Maria Alves de Siqueira...
         Das Madres e Irmãs: Madre Maria Berarda Curti já idosa. Devendo ir à Itália fui providenciar uma mala que estava no alto do maleiro da clausura e levou uma queda e se machucou bastante. Irmã Maria Angélica Resende (depois, Madre), Irmã Maria Clara Resende, Irmã Maria Sandra Salgado, Irmã Maria Teresinha Vaz, Irmã Maria Gemma – Irmã dos pobres da Caixa d’Água, ouvinte da Rádio Vaticano -, Irmã Maria Olímpia Radaelli – alta, forte e de trabalho tão humilde! -, Irmã Maria Stefanina Passagnolo, etc etc.
         Não me esqueço da então Irmã Maria Aloisia Dieli – depois, Irmã Maria Teresa – que pacientemente bordou a túnica da minha ordenação presbiteral!
         Da Madre Maria Eulália que me viu no pátio engraxando sapato das meninas internas e me expulsou como se eu estivesse violentando as suas donzelas! Perdoei sua prepotência e arrogância...
         Volto a Irmã Maria Teresinha Vaz. Eu há muito tempo sabia que era filha de Da. Fina (Maria Rufina Vaz) e do Professor Francisco Vaz – “Inhozinho”. Eu sempre acompanhei os padres que os visitavam e nunca desconfiei de nada. Era uma amizade tão familiar. Isso eu percebia.
         Quando o professor faleceu vim a saber que ele tinha sido padre! Ninguém, antes, me falou sobre isso. Era um tempo em que o padre que deixava o ministério passava por discriminação e abandono. Era como se fosse um herege. Um escândalo! Daí o silêncio, a discrição que acompanharam o casal!
         Irmã Maria Teresinha, tendo nascido em Ipameri – GO (10/02/1909 – 05/06/1979) passou a maior parte de sua vida em Jardinópolis. Faleceu em Amparo – SP e, aí, foi sepultada.

“SÔ” HUMBERTO E DA. CLARINHA

           “SÔ” HUMBERTO E DA. CLARINHA
                                                                       Pe. Francisco de Assis Correia
           
Quando eu nasci - foi na Santa Casa de Misericórdia de Jardinópolis gêmeo da Maria Clara - meus pais moravam na Fazenda Niagara.
            Alias, do lado materno, além de minha mãe, todos trabalharam na casa do “Sô” Humberto e de Da. Clarinha.
            Do lado paterno, só Tio Irineu trabalhou para eles.
            Havia uma amizade vassalar com os Pereira Lima.
            Meu avô e minha avó trabalharam para eles.
            Da. Clarinha durante muito tempo pedia que minha avó lhe fizesse sabão-de-cinza. Vi muitas vezes minha avó, com toda dedicação, mexendo naquele liquido fervente num tacho de cobre, com um fogão de lenha improvisado, o que depois, bem fatiado, pronto, seria levado “à fazenda” (nome da casa dos patrões).
            Da. Clarinha mandou que o leite de vaca fosse da vaca Riqueza que, menino ainda conheci, complementando nossa alimentação no primeiro ano de vida.
            Somos gratos a Da. Clarinha e à vaca Riqueza!
            Ela, Da. Clarinha, durante vários anos, mandou-nos também roupas usadas de seus filhos, mas em bom estado, para usarmos.
            Ela fora madrinha de crisma da Clara. E, de certa forma, tínhamos uma certa proximidade,quase familiar. Quando fiz a 1º Comunhão, deu-me um livro de orações que guardo até hoje. Eles gostavam da gente.
            Depois que eles faleceram, o único filho deles que manteve um certo contato com meus tios, foi o Eduardo Pereira Lima!
            Depois que minha avó Maria faleceu, nunca mais voltei à Fazenda Niagara da qual tenho muitas e muitas inapagáveis lembranças!
            Às vezes, elas jorram volumosas como as cataratas homônimas ou doces como as também homônimas uvas.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A CHACINA DO COLORADO E A VIOLÊNCIA NO BRASIL

A CHACINA DO COLORADO
E A VIOLÊNCIA NO BRASIL
                                                                                  Pe. Francisco de Assis Correia

            É sempre com indignação e temor que recebemos noticias de chacinas.
No Brasil, para além das que acontecem frequentemente lembramos a de São Paulo, em 1999! A do Rio de Janeiro, em 2011. No mesmo ano, a chacina da Noruega - 22/07/11 - provocada por Anders Behring Borsivic.
            Agora, a chacina do Colorado nos EUA!
            É inevitável a pergunta sobre os fatores que levam um individuo ( ou vários) a se servir da violência contra seus semelhantes.
            Os especialistas apontam vários: fundamentalismo religioso, loucura, desejo de “ser vencedor”, globalização, fragilidade das estruturas familiares, imaturidade, falta de sentimento de comunidade, alienação social, individualismo...
            Recente pesquisa revela que nosso país “lidera o ranking da violência contra crianças e adolescentes”!
            É o que revela o Mapa da Violência 2012- Crianças e Adolescentes do Brasil- estudo feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Flacso Brasil...
            Como observou o jornalista Bruno Paes Manso (O ESP, 18/07/12): “e a sociedade parece viver um contrassenso. Ao mesmo tempo em que avanços na saúde permitem combate mais eficiente a doenças, o Brasil parece incapaz de construir instituições capazes de garantir comportamentos mais civilizados. São responsáveis pelos homicídios de crianças e adolescentes tanto os jovens que convivem com eles e matam muitas vezes por motivos banais, quanto integrantes das instituições policiais, que deveriam ser responsáveis por controlar e punir comportamentos violentos”.
            Acrescente-se a isso, outro resultado de pesquisa, segunda a qual, os jovens não medem no presente as consequências de suas ações no futuro. Fez me lembrar a proverbial a afirmação de Pablo Neruda: “ Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.

terça-feira, 17 de julho de 2012

ANTIGO CORETO DE JARDINÓPOLIS

   ANTIGO CORETO DE JARDINÓPOLIS
                                                                                              Pe. Francisco de Assis Correia

            Coreto, segundo Houaiss, é “pavilhão, erigido em praças ou jardins públicos, para concertos musicais”.
            Era assim o coreto antigo de Jardinópolis.
            Fora erguido em 1907 e demolido em 1954.
            Tinha eu 10 anos. Por isso guardo bem na lembrança o coreto, que, de dia, nele cheguei a brincar. Algumas vezes, à noite, cheguei a ouvir a banda tocar, depois da reza ou da procissão. A praça enchia-se de gente. Gente sentada nos bancos do jardim. Gente de pé, ouvindo, apreciando. Gente circulando. Criançada correndo, alegre, livre...
            Lembro-me que o coreto era coberto por era, o que lhe dava um colorido verde-forte, agradável e um aspecto de permanente primavera.
            O coreto com banda tocando dava, ainda, um tom festivo ao centro da cidade.
            Quantos namoros e, depois casamentos, não surgiram daí?
            Era o coreto ponto de encontro da cidade. Ponto de cultura. Ponto de alegria e felicidade, ainda que por poucas horas.
            Às nove da noite tudo caía em silêncio...
            A cidade toda ia dormir. De quando em quando, escutava-se o apito do guarda-noite...

A SEDE DA “CARLOS GOMES”

A SEDE DA “CARLOS GOMES”
                                                                       Pe. Francisco de Assis Correia

            Quando ia à Fazenda Niagara à casa da minha avó Maria, na maioria das vezes, passava em frente à sede da Corporação Musical “Carlos Gomes”.
            Admirava o prédio com a estátua de Carlos Gomes, no alto do mesmo, na esquina das Ruas Rui Barbosa e Prudente de Morais.
            Várias vezes, encontrei-me com o casal que tomava conta da sede e nela morava, e entre uma coisa e outra, explicava-me – eu era menino – que, duas vezes por dia, precisava trazer a estátua de Carlos Gomes para mijar!
            Eu olhava desconfiado e não desmentia o casal. Quem mandou cuidar da estátua e da sede que desse outra solução...
            Pior fez quem pôs a sede abaixo, não preservando um monumento histórico, cultural como ela!
            Onde foram parar os “guachos”, os cinéfilos do cine Carlos Gomes, os membros do Partido Constitucionalista de Jardinópolis e os torcedores do São Paulo Futebol Clube de Jardinópolis?
             Com esta perda, mais uma vez esta cidade se empobreceu!
            

THOMAS MERTON (1915- 1968)

             THOMAS MERTON
                                                       (1915- 1968)
                                                                         Pe. Francisco de Assis Correia

            Iniciei a leitura de Thomas Merton quando estava no colegial. O primeiro livro que li dele foi: Homem Algum é Uma Ilha. Depois, fui devorando um por um dos seus livros traduzidos para o português: A Montanha dos Sete Patamares, Diário Secular, Sementes de Contemplação, Sementes de Destruição, O Pão Vivo, Águas de Siloé, O Pão do Deserto, A Via de Chuang Tzu, A Vida Silenciosa, A sabedoria do Deserto, Poesia e Contemplação, Marta, Maria e Lázaro, até o Seu Diário da Ásia... Ele escreveu mais de 60 livros!
            Nunca me esqueci da alegria de Alceu Amoroso Lima ao se encontrar com Thomas Merton, em 1951, encontro descrito no seu Memórias Improvisadas!
            Segundo ele próprio, T. Merton, ao lado de Gabriel Marcel, Emmanuel Mounier e Teilhard de Chardin, foi um dos que “influíram na evolução do seu pensamento”.
            Aliás, Tristão de Athayde foi tradutor de algumas obras de T. Merton, entre elas, do Diário Secular.
            Entre tantas lembranças suas a respeito do Monge Trapista, Alceu recordou-se de um pensamento, tão atual: “Nada é mais pernicioso para a Igreja do que o fanatismo”!
            Mas quem foi Thomas Merton?
            Francês de nascimento, nascido em 1915, filho de pai neozelandês e de mãe norte-americana, ambos pintores.A mãe morreu quando ele tinha seis anos e o pai, quando ele tinha dezesseis anos.
            Formou-se em Cambridge, na Inglaterra e na Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque.
            Começou sua vida profissional como jornalista, escritor e professor.
            Converteu-se ao catolicismo, entrou para Abadia Trapista de Getsemani, no Kentucky, Estados Unidos, onde viveu até o fim de sua vida.
            Faleceu aos 53 anos em Bangcoc, na Tailândia, no dia 10 de dezembro de 1968.
            Fiquei sabendo de sua morte, no intervalo de aulas, na Gregoriana em Roma.
            Thomas Merton distinguiu-se por seus livros sobre teologia, arte, vida monástica e religiosa, além de ter sido poeta e estudioso de religiões comparadas.
            Foi um dos maiores mestres de espiritualidade a partir da segunda metade do século XX. Engajado na campanha contra a guerra do Vietnã, na campanha a favor do desarmamento atômico, a ponto de perguntar:
            “Por que um vergonhoso silêncio e apatia por parte dos católicos, do clero, da hierarquia, dos leigos, sobre essa terrível questão da guerra nuclear, da qual depende a real continuação da raça humana?”
            Lembra até um dos pontos da Campanha da Fraternidade do ano de 2011!
            Foi um místico do século XX, engajado nos grandes temas da época e profeta sofrido, quer na Igreja , quer na sociedade de seu tempo.
            

“SÔ” RODOLFO E Da. ELVIRA

“SÔ” RODOLFO E Da. ELVIRA         
                                                 Pe. Francisco de Assis Correia
         A casa deles na Fazenda Niagara ficava próxima à casa de minha avó Maria.
         Eles tinham muitos filhos. Alguns nomes ainda guardo na memória, como eram chamados em família: Deco, Nenê, Aracy e Pérsio.
         Este ultimo deveria ter a mesma idade que eu. Brincamos muitas vezes naquele imenso quintal, à beira de um riacho.
         Várias vezes, pela manhã, tomamos leite quente com café e polenta com aquela deliciosa casca preta. Era  feita na chapa. Fubá dali mesmo. Leite tirado pelo “Sô” Rodolfo Ferroni que fumava cigarro de palha e, ás vezes, “Fulgor” de maço retangular e fino.
         Quantas vezes, também, “Sô” Rodolfo serviu-nos leite, acabado de tirar da vaca, numa caneca com chocolate! Era uma festa!
A minha ida ao Seminário em Ribeirão Preto- 1957 – separou-nos.
         Ficaram-me gostosas lembranças...

IRACEMA E DJANIRA VIEIRA

IRACEMA E DJANIRA VIEIRA
                                                                                                                                      Pe. Francisco de Assis Correia

 

       Duas irmãs. Duas professoras do Grupo Escolar de Jardinópolis que lecionaram a várias gerações de jardinopolenses. Duas pessoas impossíveis de serem esquecidas nesta cidade, por suas varias colaborações e participações.

            Ambas foram filhas do Capitão Nilo Vieira da Guarda Nacional do Exército Brasileiro e de Dona Maria de Sylos Vieira. Ele fora também Oficial Maior do Cartório de Casa Branca e era baiano de nascimento. Ambas nasceram em Casa Branca- SP. Tiveram mais três irmãs.

            O pai delas faleceu quando Djanira tinha apenas seis meses e a mãe, Da. Maria, com sua facilidade e muita luta, passou a fazer doce para vender e, assim, não deixar faltar nada à família e formar as filhas. Por isso, Iracema e Djanira cursaram a Escola Normal de Casa Branca e se formaram professoras. Alias, Da. Iracema pertenceu à primeira turma desta Escola!

            Em 1916, ingressou no Grupo Escolar de Santa Cruz das Palmeiras e, depois, em 1920, ingressou definitivamente no Grupo Escolar de Jardinópolis, no qual, por quase quarenta e sete anos consecutivos lecionou (1920- 1967)!

            Como professora, Da. Iracema ficou famosa por sua dedicação ao ensino, sua pontualidade e responsabilidade, bem como por sua exigência, disciplina severa e firme, não dispensando a palmatória, o tapa, o puxão de orelha, os mais variados castigos... sem, com isso dispensar, o carinho e o amor de mestra.

            Fora professora de meu pai, minha e, em família, falava- se dessas qualidades de Da. Iracema. Alem disso, por graça de Deus, ela assumiu o em cargo de ser minha madrinha de Seminário, o que significava pagar toda pensão do mesmo, no lugar de meu pai, que tendo cinco filhos para criar, não podia arcar com mais essa responsabilidade. Daí, no dia 9 de outubro de 1971, estar ao lado de meus pais e ao meu lado, no momento da minha ordenação presbiteral. Feliz. Reconhecida. Gratificada. E eu eternamente grato por essa sua generosidade silenciosa, discreta e abnegada.

            Alias, Da. Iracema foi muito religiosa, sem ser beata. Foi presidente da Irmandade do Apostolado da Oração da paróquia, fez parte de varias comissões da mesma. Como pianista e organista dirigiu o coral da Igreja.

            Não perdeu sua ligação com Casa Branca, para onde se dirigia, sempre acompanhada por Da. Djanira, quer para visitar os familiares, quer para a festa de Nossa Senhora do Desterro, da qual falava com muito entusiasmo.

            Da. Iracema faleceu no dia 20 de abril de 1992, em Jardinópolis, aos 96 anos de idade.

            Da. Djanira ingressou no Grupo Escolar de Jardinópolis em 1928, após ter lecionado na fazenda São Pedro (1926), São Felipe. Aposentou-se do Grupo em 1967.

            Entrementes, lecionou, ainda, Educação Física, no Colégio Sagrado Coração de Jesus (1935- 1956). Foi fundadora e primeira presidente do Clube Recreativo Jardinopolense e, também, por 19 anos, presidente da Legião Brasileira de Assistência.

            Da. Djanira, igualmente severa e inteligente, não fora religiosa quanto Da. Iracema.  Vivia mais envolvida com festas e comemorações cívicas, com aquele corpo esguio, magro, espivetado, lembrava mais uma militar no comando da tropa!

            Ela faleceu no dia 24 de janeiro de 1982, aos 79 anos de idade.

            Ambas receberam o titulo de Cidadãs Beneméritas, outorgado pela Câmara  Municipal de Jardinópolis, na sessão realizada no dia 18 de fevereiro de 1974. Alem disso, em 1987 a recém- inaugurada Escola  Profissionalizante recebeu o nome da “Profa. Djanira Vieira”, sendo a placa decerrada por Da. Iracema.

            A bênçao madrinha! Deus lhe pague!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

AS SÁS

                                                     AS SÁS
                                                                   Pe. Francisco de Assis Correia

         Quando menino,
         Conheci duas Sás:
         A Sá Josefa
         E a Sá Idelma.

         A Sá Josefa, diziam,
         Era Filha de escravos.
         Teria quase 100 anos.
         Solteira? Viúva?
         Morava em casa de pau- a - pique.
         Uma “pobreza de dar tristeza”!
         Não se lamentava
         Não amaldiçoava
         Não se desesperava!
         Diziam que ela tinha parte
         Com os bons espíritos
         E vivia iluminada por eles.
         Por isso, benzia
         E ensinava abençoados remédios!

         Sá Idelma, negra, gorda, forte
         Sempre de pé no chão:
         Em casa, na roça, na horta...
         Casada, muitos filhos...
         De pé, comia na tampa da panela...
         Como sorria a Sá Idelma...
         Sua horta,                                                          
         Grande e variada,
         Dava inveja a japoneses...
         Como era boa a Sá Idelma
         A quem minha avó Maria
         Chamava sempre de “comadre’delma”
         E ao marido,
         “compadre Chico Leme”!