O Blog contém artigos da autoria de Francisco de Assis Correia (Padre, 71 anos. Pároco Emérito. Foi professor de filosofia e de teologia no CEARP. Encontra-se com deficiência visual completa, desde março de 2013).
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
MANOEL DE BARROS (1916- 2014) (Serie 70, 1°)
No dia 13/11/2014, faleceu em Campo Grande Manoel de Barros.
Este grande poeta –
pouco conhecido – admirador do Pe. Antônio Vieira, -”encantador de palavras”-,
nasceu em Cuiabá – MT, no Beco da Marinha, à beira do Rio Cuiabá, em 19 de
dezembro de 1916.
Morou em Corumbá - MS
– e, ultimamente, em Campo Grande – MS.
Foi advogado, fazendeiro
e poeta, descoberto aos setenta anos de idade! Seu nome completo era Manoel
(daí o apelido familiar de Néquinho) Wenseslau Leite de Barros.
Aos 8 anos foi para o
Colégio interno em Campo Grande e, depois, foi para o Rio de Janeiro onde se
formou em Direito em 1949.
Passou uns tempos na
Bolívia e no Peru seguindo depois para Nova Iorque, onde estudou cinema e
pintura.
Voltando para o Rio
de Janeiro, conheceu a mineira Stella com a qual se casou. Tiveram três filhos:
Pedro, João e Martha.
Graças a Millor
Fernandes, Fausto Wolff, Antônio Houaiss, João Antônio e outros tornou-se
conhecido nacional e internacionalmente.
Chegou-se a compará-lo,
na poesia, ao que fez, na prosa, Guimarães Rosa: revolução na poesia!
Deixou- nos as seguintes obras:
1937-Poemas concebidos sem pecado
1942-Face
imóvel
1956- Poesias
1960-Compêndio para uso dos pássaros
1966-Gramática expositiva do chão
1974-Matéria
de poesia
1982-Arranjos
para assobio
1985-Livro
de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)
1989-O
guardador das águas
1990-Poesia quase toda
1991-Concerto a céu aberto para solos de aves
1993-O livro das ignorãças
1996-Livro
sobre nada (Ilustração de Wega Nery)
1998-Retrato do artista quando coisa
(Ilustrações de Millôr Fernandes)
1999-Exercícios de ser criança
2000-Ensaios fotográficos
2001-O fazedor de amanhecer (infantil)
2001-Poeminhas
pescados numa fala de João
2001-Tratado
geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)
2003-Memórias
inventadas (A infância) (Ilustrações de Martha
Barros)
2003-Cantigas para um passarinho à toa
2004-Poemas rupestres (Ilustrações de Martha
Barros)
2005-Memórias
inventadas II (Ilustrações de Martha Barros)
2007-Memórias
inventadas III (Ilustrações de Martha Barros)
2010-Menino do Mato
2010-Poesia completa. São Paulo: Leya
Dessa ultima obra, colhi estas citações:
“Um bicho muito
pretinho com pouca experiência de sofrimento”, 25.
“Mascava uma raíz de pobreza coisa que serve”,
27.
“... Vocês poetas são uns intersexuais”, 31.
“Mulheres mastigando as esperanças mortas”,
36.
“Que ficou como certas casinhas tortas, que
jamais podem ser evocadas fora da paisagem”, 44.
“Passar, como
nuvem...”, 49.
“Vadio e evadido
Vagabundeio só”, 51.
“Tangido vou”, 52.
“Ele me fará
frutificar como as árvores na chuva”, 53.
“Vi o homem andando
para semente
E a semente no escuro
remando para a raiz”, 57.
“Lembrar da casa da gente, das irmãs, dos
irmãos e dos pais da gente.
Lembrar que eles
estão longe e ter saudades deles....
Lembrar da cidade
onde se nasceu, com inocência e rir.
Rir de coisas
passadas.Ter saudade da pureza”, 59
(...)
“Para falar a
verdade, sentir-se quite com a vida.
Lembrar dos
amigos. Recordar um por um.
Acompanhá-los na
vida.
Como estão
longe, meu Deus! Um aqui. Outro lá, tão distantes...
Que fez deste o
destino? E daquele?
Quase vai se esquecendo
do rosto de um... Tanto tempo!”, 61
“Estou simples”, 78.
“com um ar de
triste ar“, 105.
“encantador de
palavras”,10.
“O homem que possui um pente e uma árvore
Serve para
poesia”, 145.
“Poesia é a
loucura das palavras:
Na beira do rio
o silêncio põe ovo”, 153.
“O poema é antes
de tudo um utensílio”,174.
“uma teologia do
traste”, 176.
“Para entender
nós temos dois caminhos: o da sensibilidade que é o entendimento do corpo, e o
da inteligência que é o entendimento do espírito”, 178.
“Minhocas arejam
a terra; poetas, a linguagem”, 219.
“Poeta é um ente que lambe as palavras e
depois se alucina”, 257.
“- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a
ocupação da palavra pela imagem.
- Poesia é a
ocupação da Imagem pelo Ser”,263
“Notei que descobrir novos lados de uma
palavra era o mesmo que descobrir novos lados do Ser”, 280.
“Poesia é voar fora da asa”, 302.
“A minha independência tem algemas”, 310.
“esticador de horizontes”, 322.
“Cristo
monumentou a Humanidade quando beijou os pés dos seus discípulos”, 343
“Morrer é uma coisa indestrutível”, 370
“A maior riqueza do homem é a sua
incompletude”, 374
“Poema é lugar onde a gente pode afirmar que o
delírio é uma sensatez”, 374.
“Poderoso para mim não é aquele que descobre
ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e
as nossas)”, 403.
“Poesia é uma
graça verbal”, 404.
“A gente só chega ao fim quando o fim chegar!
Então pra que
atropelar”, 407.
“Eternidade
É palavra
Encostada em
Deus”,415.
“Poeta
É uma pessoa
Que reverdece
nele mesmo”, 420.
“As águas são a epifania da criação”,455.
“Sentado sobre uma pedra
No mais alto do
rochedo
Aquele gavião se
achava principal:
Mais principal
do que todos.
Tem gente assim”,483.
“E Deus choveu na roça do homem.
E o homem
agradeceu aquela graça
Como quando o
azul se abre para nós”,483.
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