segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

MANOEL DE BARROS (1916- 2014) (Serie 70, 1°)


No dia 13/11/2014, faleceu em Campo Grande Manoel de Barros.

Este grande poeta – pouco conhecido – admirador do Pe. Antônio Vieira, -”encantador de palavras”-, nasceu em Cuiabá – MT, no Beco da Marinha, à beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916.

Morou em Corumbá - MS – e, ultimamente, em Campo Grande – MS.

Foi advogado, fazendeiro e poeta, descoberto aos setenta anos de idade! Seu nome completo era Manoel (daí o apelido familiar de Néquinho) Wenseslau Leite de Barros.

Aos 8 anos foi para o Colégio interno em Campo Grande e, depois, foi para o Rio de Janeiro onde se formou em Direito em 1949.

Passou uns tempos na Bolívia e no Peru seguindo depois para Nova Iorque, onde estudou cinema e pintura.

Voltando para o Rio de Janeiro, conheceu a mineira Stella com a qual se casou. Tiveram três filhos: Pedro, João e Martha.

Graças a Millor Fernandes, Fausto Wolff, Antônio Houaiss, João Antônio e outros tornou-se conhecido nacional e internacionalmente.

Chegou-se a compará-lo, na poesia, ao que fez, na prosa, Guimarães Rosa: revolução na poesia!

          Deixou- nos as seguintes obras:

         1937-Poemas concebidos sem pecado

         1942-Face imóvel

         1956- Poesias

         1960-Compêndio para uso dos pássaros

         1966-Gramática expositiva do chão

         1974-Matéria de poesia

         1982-Arranjos para assobio

         1985-Livro de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)

         1989-O guardador das águas

         1990-Poesia quase toda

         1991-Concerto a céu aberto para solos de aves

         1993-O livro das ignorãças

         1996-Livro sobre nada (Ilustração de Wega Nery)

         1998-Retrato do artista quando coisa (Ilustrações de Millôr Fernandes)

         1999-Exercícios de ser criança

         2000-Ensaios fotográficos

         2001-O fazedor de amanhecer (infantil)

         2001-Poeminhas pescados numa fala de João

         2001-Tratado geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)

         2003-Memórias inventadas (A infância) (Ilustrações de Martha  Barros)

         2003-Cantigas para um passarinho à toa

         2004-Poemas rupestres (Ilustrações de Martha Barros)

         2005-Memórias inventadas II (Ilustrações de Martha Barros)

         2007-Memórias inventadas III (Ilustrações de Martha Barros)

2010-Menino do Mato

         2010-Poesia completa. São Paulo: Leya

        

 Dessa ultima obra, colhi estas citações:

“Um bicho muito pretinho com pouca experiência de sofrimento”, 25.

 “Mascava uma raíz de pobreza coisa que serve”, 27.

 “... Vocês poetas são uns intersexuais”, 31.

 “Mulheres mastigando as esperanças mortas”, 36.

 “Que ficou como certas casinhas tortas, que jamais podem ser evocadas fora da paisagem”, 44.

“Passar, como nuvem...”, 49.

 “Vadio e evadido

Vagabundeio só”, 51.

“Tangido vou”, 52.

“Ele me fará frutificar como as árvores na chuva”, 53.

“Vi o homem andando para semente

E a semente no escuro remando para a raiz”, 57.

 “Lembrar da casa da gente, das irmãs, dos irmãos e dos pais da gente.

Lembrar que eles estão longe e ter saudades deles....

Lembrar da cidade onde se nasceu,  com inocência e rir.

Rir de coisas passadas.Ter saudade da pureza”, 59

                                       (...)                                                                                                                                       

“Para falar a verdade, sentir-se quite com a vida.

Lembrar dos amigos. Recordar um por um.

Acompanhá-los na vida.

Como estão longe, meu Deus! Um aqui. Outro lá, tão distantes...

Que fez deste o destino? E daquele?

Quase vai se esquecendo do rosto de um... Tanto tempo!”, 61

 “Estou simples”, 78.

“com um ar de triste ar“, 105.

“encantador de palavras”,10.

 “O homem que possui um pente e uma árvore

Serve para poesia”, 145.

“Poesia é a loucura das palavras:

Na beira do rio o silêncio põe ovo”, 153.

“O poema é antes de tudo um utensílio”,174.

“uma teologia do traste”, 176.

“Para entender nós temos dois caminhos: o da sensibilidade que é o entendimento do corpo, e o da inteligência que é o entendimento do espírito”, 178.

“Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem”, 219.

 “Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina”, 257.

 “- Imagens são palavras que nos faltaram.

- Poesia é a ocupação da palavra pela imagem.

- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser”,263

 “Notei que descobrir novos lados de uma palavra era o mesmo que descobrir novos lados do Ser”, 280.

 “Poesia é voar fora da asa”, 302.

 “A minha independência tem algemas”, 310.

 “esticador de horizontes”, 322.

“Cristo monumentou a Humanidade quando beijou os pés dos seus discípulos”, 343

 “Morrer é uma coisa indestrutível”, 370

 “A maior riqueza do homem é a sua incompletude”, 374

 “Poema é lugar onde a gente pode afirmar que o delírio é uma sensatez”, 374.

 “Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas)”, 403.

“Poesia é uma graça verbal”, 404.

 “A gente só chega ao fim quando o fim chegar!

Então pra que atropelar”, 407.

 “Eternidade

É palavra

Encostada em Deus”,415.

 “Poeta

É uma pessoa

Que reverdece nele mesmo”, 420.

 “As águas são a epifania da criação”,455.

 “Sentado sobre uma pedra

No mais alto do rochedo

Aquele gavião se achava principal:     

Mais principal do que todos.

 Tem gente assim”,483.

 “E Deus choveu na roça do homem.

E o homem agradeceu aquela graça

Como quando o azul se abre para nós”,483.

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