quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PARA O DIA DO LEITOR: 7 DE JANEIRO (Serie 71 anos, 146°)

PARA QUEM NÃO GOSTA DE LER

Nada tenho a dizer aos que gostam de ler. Eles já sabem. Mas tenho a dizer a quem não gosta. Pena que, por não gostar de ler, é provável que não leia isto: "Você não sabe o que está perdendo."
Ler é uma das maiores fontes de alegria. Claro, há livros chatos. Não leia. O escritor argentino Jorge Luis Borges dizia que, se há tantos livros deliciosos, por que gastar tempo lendo um que não dá prazer? Na leitura, fazemos turismo sem sair de casa, gastando menos dinheiro e sem correr riscos.
O Sho-gun me levou pelo Japão do século 16, em meio a ferozes samurais e sutilezas do amor oriental. Cem Anos de Solidão, que reli faz meses, me produziu espantos e ataques de riso. Achei que Gabriel García Márquez deveria estar sob efeito de alucinógeno.
Lendo, você experimenta seu mundo fantástico sem precisar de "aditivos". É isso: quem lê não precisa de alucinógeno. Nunca tinha pensado nisso. A poesia do Alberto Caeiro me ensina a ver, me faz criança e fico parecido com árvores e regatos. Agora, essa maravilha de delicadeza e pureza, do Gabriel velho, com dores no peito e medo de morrer: Memórias de Minhas Putas Tristes. Li, ri, me comovi, fiquei leve e fiquei triste de o ter lido, porque agora não poderei ter o prazer de lê-lo pela primeira vez. Pena que você, não-leitor, seja castrado para os prazeres que moram nos livros.
Mas, se quiser, tem remédio.

Rubem Alves


SOBRE QUEM GOSTA DE LER
Quando você vê alguém lendo um livro, presencia uma pessoa às voltas com uma grande exigência. A palavra escrita o põe na parede: pede a ele uma interação que manda às favas a passividade. A leitura fricciona a percepção; é a fricção de duas pedras - fiat lux!
Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor. É como uma barriga grávida, num aceleradíssimo tempo de prenhez.
A leitura enfia-se no presente, fabrica o que virá. Quem lê é um da Vinci, diagramando os recursos recebidos, aplicando cor. E fazendo.
A importância primeira do ato de ler é essa negação da passividade, essa incondicional exigência de ação. É um ato de otimismo intrínseco.[1]

 Tom Zé, músico



Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 




[1] Almanaque Santo Antônio. Editora Vozes. Petropolis. 2015 p.223

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