O
objetivo desse artigo é refletir sobre a finitude humana e a finitude do nosso
mundo. Somos finitos, perecemos e experimentamos esta dura realidade ao longo
da nossa vida, principalmente nestas dimensões: De seres temporais, livres, que
temos dor, sofrimento e sabemos, mais que tudo, que morreremos, e o próprio
mundo terá também seu fim. Nunca, talvez, na história da humanidade, esta
consciência tornou-se tão preocupante como agora. Exemplo disto é a atual e
angustiante preocupação com a água.
Como seres temporais, temos
consciência de que o tempo real é só o presente. O passado é experimentado como
perda. Passou e dele só podemos ter saudade ou o que sobrou de ontem. Esse
sentimento de perda deixa-nos angustiados sobre tudo, se foi mal vivido ou mal
gerenciado por nós mesmos, ou pelas muitas dificuldades encontradas independentemente
da nossa vontade. Aí, o passado, mais do que uma perda, torna-se um fardo a ser
carregado no presente e no futuro.
Se o passado é perda ou fardo, o
presente é a única realidade temporal que possuímos. Mais angustiante é a
terceira dimensão do tempo que é o futuro. Mas, este é incerto. Não sabemos se
o teremos. Para um jovem, o futuro parece um leque de muitas possibilidades.
Quando vai se avançando a idade, este leque vai se diminuindo, e
inevitavelmente, leva-nos a perguntar: quanto tempo ainda tenho pela frente? Daí,
a sensação da incerteza que o futuro nos provoca.
Desde a antiguidade grega,
distingue-se tempo como Cronos, ou seja, o tempo, simplesmente como tal,
e Cairós, isto é, tempo, como conjunto de possibilidades, como graça,
como momento de escolha, de decisão, e por isso, ele deve ser aproveitado, no
sentido de saber dispô-lo, e não ser perdido, jogado fora. Com razão, diz um antigo
provérbio: “A felicidade consiste em viver bem cada momento”.
O certo é que, a dimensão temporal
provoca-nos o desejo permanente de eternidade. Não nascemos para o tempo, mas
para a eternidade sem fim.
Como seres livres, evidentemente,
prezamos muito a nossa liberdade vivida como dom de Deus, e como tarefa
permanente para sermos libertos de tudo aquilo que atravanca a nossa liberdade.
Um momento muito forte da nossa liberdade, é
por demais manifesto, quando temos de tomar alguma decisão, lembrando que
decisão implica escolher algo, e renunciar a outras coisas. Refiro-me, claro a
decisões que são fundamentais para a nossa vida, não à aquelas decisões que são
epidérmicas na nossa vida, como por exemplo: ir ou não ao cinema hoje. As
fundamentais são aquelas que norteiam ou nortearão nossas vidas, como por
exemplo: escolha profissional, matrimonio, opção religiosa etc.
É no momento da decisão que
percebemos o risco contido na nossa liberdade. Ela é dom, sim, mas é tarefa. É
tarefa muitas vezes difícil, angustiante, dolorida, mas, necessária para nossa
realização humana integral, não só como pessoas e, sim, com as pessoas, com o
mundo. O santo é, justamente, aquela pessoa que conseguiu integrar sua
liberdade como dom e tarefa. E o mais alto nível disto é sua total
disponibilidade, entrega e amor. Livre é enfim, o que sabe amar plenamente, ou
seja, doar-se plenamente. C. Duquoc sublinhou que Jesus foi um “ser livre”, e,
com toda a liberdade entregou-se ao Pai no seu sacrifício da cruz.
Somos também limitados por uma
tríplice realidade: a da dor, a do sofrimento e da morte.
Toda dor limita a pessoa humana.
Pode ser de maneira passageira (uma simples dor de cabeça), como de maneira
permanente (como certas doenças crônicas), como certas incapacidades, cânceres
etc. Há até mesmo uma antropologia da dor e do sofrimento, que nos mostra
fenomenologicamente, todos os seus aspectos: pode tratar-se de uma doença
passageira, como pode tratar-se de uma doença prolongada que lança a pessoa num
leito; não poder decidir por sim mesmo, com liberdade; impossibilidade de
andar, de ir aonde se quer; perda da sua privacidade e intimidade; ser incapaz
de tomar todas as suas decisões sem interferência de familiares e de outros
profissionais...
A dor é, na maioria das vezes
localizável. A pessoa diz (indicando com a mão) dói-me aqui, ali etc. Ela é
localizável. Por exemplo, dor de dente (não foi à toa que Fernando Pessoa
afirmou que a dor faz pensar), já o sofrimento, sem levar em conta a
diversidade de sofrimentos: sofrimento físico, sofrimento moral, sofrimento
psicológico, sofrimento espiritual (lembro-me de um pesquisador médico, que
chorava por não conseguir acreditar em Deus!), o sofrimento social, por
injustiça, por não ter seus direitos respeitados, por lhe faltar quase tudo
para uma vida digna, por ser discriminado, por falta de saúde, de casa, de
terra, de água etc.
Não é um local. É a pessoa toda que
sofre. Ou, populações inteiras que sofrem e se perguntam: como nos libertaremos
disso?
Há, por fim, a morte “esta megera
das gentes” como dizia Pedro Nava, para muitos, a morte é um absurdo!
Heidegger com razão constatou:
“Desde que se nasce, já se é suficientemente maduro para morrer!” ou,
simplesmente como diz o nosso povo: “Basta estar vivo para morrer”.
Este
sentimento diante da morte divide opiniões. Para um ateu como era Luiz Buñuel,
que, quando jovem, estudara em colégio de padres, confirmou e confessou que a
morte seria um absurdo, “um caminhar para a destruição, para o nada, pois nada
há depois da morte”.
Alceu Amoroso Lima (Tristão de
Athayte) bendisse o dia de sua morte, pois “partiria para a vida plena, eterna,
para a ressureição”.
Nossa finitude é real, porém, aponta
sempre para a Infinitude que almejamos.
Digitou este artigo: Ricardo Rodrigues de Oliveira (Enfermeiro e Cuidador do Autor).
Nenhum comentário:
Postar um comentário