Li o artigo do
Professor Sérgio Ricardo Coutinho1 e lembrei-me de artigo
semelhante, publicado na REB, há cerca de 47 ou 48 anos atrás em que um
religioso europeu, especialista em sociologia da religião, tratou da situação
do episcopado brasileiro naquela época, sob o ponto de vista de titulação universitária,
ou seja: doutores, mestres, especialistas etc. O referido autor constatou entre
os bispos brasileiros um número muito baixo de portadores destes títulos, o que
indicava na época, uma dificuldade de os bispos entenderem os textos do
Concílio Vaticano II e muito mais a dificuldade de suas aplicações nas próprias
dioceses.
Vários autores,
posteriormente, trataram desse empecilho que os bispos brasileiros já tinham ao
ouvir as discussões na Aula Magna do Concílio. Não conheciam no Brasil, as
discussões teológicas, litúrgicas, pastorais... que se passavam na Europa.
Ajudaram-lhes à época, a entender em parte, os principais temas, as
conferências promovidas por Dom Helder Câmara na Domus Mariae (Veja contribuições sobre esse tema, vindas do Pe.
José Comblin, do Pe. Oscar Beozzo etc).
O autor religioso
europeu, estranhamente, teve de retornar ao seu país, pela tamanha audácia de
avaliar o nosso episcopado! Observem, por isso, o risco que corre um padre ao
tocar em tão delicado tema!
Quando
o autor de Os pecados de um padre2, Pe. Andrew M. Greeley,
coloca na boca do Pe Hoffiman seu descontentamento com as nomeações de bispos
dos EUA por volta de 2004, a acusação mais frequente é de “bispos medíocres”,
“incompetentes”, “mau administradores”, “alcoólatras”, etc. Nossa situação
atualmente não está longe do que o autor norte americano denunciara.
O
Historiador Riolando Azzi em sua obra: História da Igreja no Brasil: ensaio
de interpretação a partir do povo: terceira época: 1930-19643,
relata:
“Embora
o episcopado brasileiro nunca se tenha destacado pela riqueza, tanto na época
colonial como no período imperial, gozava de muito prestígio, ocupando um lugar
privilegiado na sociedade, em modo análogo à nossa nobreza e à aristocracia
luso-brasileira. A partir da Proclamação da República, os bispos foram perdendo
lentamente o prestígio social, sobretudo nos grandes centros urbanos, embora
dentro do âmbito da instituição eclesiástica continuassem a manter uma postura
de príncipes eclesiásticos, utilizando as roupas típicas dessa dignidade
eclesiástica, com longas capas de cauda, com brasões e títulos de excelência,
sendo saudados pelos fiéis e pelo clero, mediante o ósculo do anel, em atitude
genuflexa. E, é claro, continuavam a usar o plural majestático em sua linguagem
oral e escrita.”
“Assim
sendo, tanto a falta de riqueza efetiva como a diminuição do reconhecimento
oficial de sua dignidade contribuíram para que o episcopado se apresentasse
como uma aristocracia decadente, num ambiente republicano onde emergiam, pouco
a pouco, os novos valores burgueses e democráticos, com padrões de vida cada
vez menos protocolares.”
O autor analisa a
seguir duas posições que os bispos tomaram: uma que assumiu a “posição
hierárquica na instituição eclesiásticas” que, para mim foram muito estimuladas
pelo Papa João Paulo II e pelo Papa Bento XVI, até nas vestes litúrgicas; e a
outra que começou a “adaptar-se aos novos tempos, procurando atuar de forma
mais simples e preocupada muito mais com os sérios problemas sociais do país”.
Trazendo para hoje o
que proclama o Papa Francisco: “bispos que gostem do cheiro do seu rebanho”.
Os ditadores e os
autoritários preferem o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo. Quem não se
lembra do General (Ditador) João Figueiredo? Ele declarara certa vez preferir
“cheiro de cavalo, a cheiro de povo”.
O
jornalista e escritor J. D. Vital em Como se faz um bispo: segundo o alto e
o baixo clero4, mostra parcialmente o que hoje acontece de fato
com as nomeações episcopais.
Constata-se,
atualmente, como revelou o artigo de Sérgio Ricardo Coutinho, que o episcopado
brasileiro continua a aumentar em quantidade, porém, como há pelo menos 50
anos, desqualificado, com bispos medíocres, sem liderança alguma, sem profecia,
com horizontes estreitos, repetindo a mesmice pré-conciliar.
Augura-se que a igreja do Brasil, assuma
liderança profética e tenha pastores que gostem do cheiro do seu rebanho e
escutem seus clamores.
Citações:
1.
SÉRGIO RICARDO COUTINHO. Os “novos”
bispos de Francisco no Brasil: mudar para que as coisas continuem as mesmas.
IHU. 19/02/2015.
2.
Rio de Janeiro, RJ: Ediouro, 2006.
3.
Petrópoles, RJ: Editora Vozes, 2008, p.
578.
4.
Rio de Janeiro, RJ: Editora Civilização
Brasileira, 2012.
Digitou este Artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).
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