terça-feira, 31 de março de 2015

70 ANOS DA MORTE DE DOM ALBERTO (Serie 70, 56°)

 (06/05/1945 – 06/05/2015)
http://www.arquidioceserp.org.br/bisposanteriores/1/1.jpg
            No próximo dia 06 de maio, celebraremos o 70° aniversário do falecimento de dom Alberto José Gonçalves, nosso primeiro bispo diocesano.
            Dom Alberto nasceu no dia 20 de julho de 1859 na cidade de Palmeira-PR.
            Antes de ser nomeado primeiro bispo de Ribeirão Preto ele fora: professor de diversas disciplinas no Seminário de São Paulo, tendo inclusive escrito: Gramática Latina e Compêndio de Geometria Elementar.
            No dia 16 de julho de 1888 foi nomeado Vigário da Paróquia de Curitiba. Aí, destacou-se pela construção da Matriz de Curitiba, pelo trabalho junto à Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.
            Além disso, exerceu as funções de Diretor Geral da Instrução Pública e de Comissário Fiscal dos Exames Preparatórios, Deputado da Assembleia Provincial do Paraná, Deputado da Assembleia Constituinte do Estado do Paraná, Senador da República em 1895...
            Aos 5 de dezembro de 1908, foi nomeado primeiro bispo de Ribeirão Preto, tendo tomado posse desta diocese no dia 28 de fevereiro de 1909, na Igreja São José - tendo como pregador da mesma o futuro Cardeal do Rio de Janeiro, Cônego Sebastião Leme - por estar a Catedral local, em construção.
            A dom Alberto, esta atual Arquidiocese deve-lhe, não apenas, o título de primeiro bispo, mas de ter formado o Bispado nos seguintes termos: ter formado seu primeiro patrimônio, porque Monsenhor Siqueira encarregado de formá-lo não conseguira, dada a oposição de padres e de leigos fortemente anticlericais e, ainda da oposição de gente de Batatais - SP e de Franca - SP que queria que estas cidades fossem elevadas a sede de bispado e não Ribeirão Preto; ter acabado de construir a Catedral inclusive com as pinturas de Benedito Calixto e a decoração a cargo de outros pintores; ter construído o palácio episcopal de Ribeirão Preto, inclusive com seus próprios pecúlios; ter construído seu primeiro seminário diocesano...
            Quando iniciou seu ministério em Ribeirão Preto, a novel diocese possuía 36 paróquias; quando concluiu o seu ministério, as paróquias da diocese somavam o número de 51; não obstante, o baixo número de padres seculares.
            Uma das características deste primeiro período da vida da Igreja Particular de Ribeirão Preto é o da organização de suas igrejas paroquiais, entusiasmadas pelas frequentes visitas pastorais de dom Alberto e pelo grande surto da lavoura de café, dando grande circulação de riqueza aos municípios, ao mesmo tempo em que favorecia a migração.
            De 1912 a 1920, construíram-se, na Diocese, 23 novas matrizes. No mesmo período 13 matrizes receberam radicais ou importantes reformas.
            Ao mesmo tempo, organizou-se o patrimônio do Bispado e das Paróquias, através de legislações e promoções de dom Alberto.
            Suas visitas pastorais serviram, igualmente, para esta finalidade de organizar o patrimônio – sobretudo as primeiras visitas -, bem como para as obras que tinham sido iniciadas.
            Outra característica deste período de implantação da Igreja Particular foi a presença cada vez maior dos Religiosos e Religiosas. Quando foi criada a Diocese, aqui já trabalhavam: os Agostinianos Recoletos e as Salesianas com o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Ribeirão Preto; os Salesianos e as Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora (Salesianas), em Batatais (Colégio e Santa Casa); e as Irmãs de São José e os Irmãos Marista, em Franca.
            A pedido de dom Alberto vieram, a seguir: os Padres Escalabrinianos, os Beneditinos Olivetanos, os Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, as Ursulinas, as Irmãs Franciscanas das Escolas Cristãs, os Padres do Verbo Divino (para dirigirem o Colégio Diocesano, comprado aos Salesianos e, depois transferido aos Claretianos, em Batatais), os Agostinianos (Franca), as Irmãs Zeladoras do Coração de Jesus (Casa Branca, Mococa, São João da Boa Vista), as Filhas de Sant’Ana (Pinhal), as Irmãs do Calvário (São José do Rio Pardo), as Missionárias Franciscanas do Egito (Jardinópolis), as Concepcionistas (Mococa), etc.
            Nota-se, através do aumento das paróquias e dos Religiosos e Religiosas, um crescente e evidente movimento religioso, alicerçado na prática sacramental e devocional, sobretudo levando em conta o aumento das Associações Religiosas e Irmandades.
            Em 1920, dom Alberto tomou a frente da Irmandade de São Benedito e da construção da Igreja de São Benedito, em Ribeirão Preto, com o intuito de, anexo à igreja, estabelecer uma nova escola profissional para meninos pobres.
            No mesmo ano regulamentou a Associação S. Antônio de Pádua e, por várias vezes, expediu circulares de apoio a ela.
            Em 1930, instituiu canonicamente, em Ribeirão Preto, a Associação das Damas de Caridade, “que tantos serviços já vinham prestando aos doentes pobres desta Cidade, recebendo de S. Excia. Revma. o respectivo regulamento e adquirida a existência legal”. Foi neste mesmo ano, em dezembro, que foram regulamentadas as Associações, como se depreende de seu Decreto.
            Em janeiro de 1940, foi nomeado seu Bispo Auxiliar de dom Alberto na pessoa de Dom Manuel da Silveira D’Elboux.
            “No dia 6 de maio, de 1945, às 16 horas e 30 minutos, espirava plácida e piedosamente, em seu humilde quarto, no Palácio Episcopal, o primeiro Bispo Diocesano do Ribeirão Preto, o nosso querido e bondoso Dom Alberto, rodeado dos seus auxiliares no Governo Diocesano, do seu confessor D. Miguel Ângelo Biondi, dos seus médicos e de pessoas de sua família. Em tempo oportuno, por sua própria iniciativa, recebeu os santos sacramentos com uma piedade edificante. Acompanhou com plena lucidez, que não perdeu até o último instante de vida, todas as orações dos agonisantes, inclusive a Profissão de Fé, dizendo no fim desta com voz clara e forte: “Deo gratias”. Conhecendo que essa doença seria a última, deu todas as providências relativas aos seus objetos de uso próprio, ao seu enterro e sepultamento na Catedral. Demonstrou até o fim não só aquele espírito ordenado, metódico e previdente, com que pautou toda a sua vida, assim como a sua fé firme e robusta e a sua confiança filial na misericórdia de Deus e na de Maria Santíssima cuja devoção cultivou até o último suspiro”1.
            Por tudo isso dom Alberto, agradecemos ao Senhor e ao Sr.!

Citação:

1.    Boletim Diocesano do Ribeirão Preto, n°180 (Maio, junho e julho de 1945), pp. 3 – 4.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

domingo, 29 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (6) (Serie 70, 55°)

 O TAXISTA E O SEXO

            Quando mentalmente entabulei este artigo, lembrei-me logo de uma obra clássica de um dos pais da sociologia contemporânea, Luc Boltanski (1940)1 As Classes Sociais e o Corpo e, igualmente de uma escritora brasileira militante da causa feminista Rose Marie Muraro (1930 – 2014)2. Não, não pensem, leitores, que eu vá tratar, aqui, de um assunto acadêmico! É só uma referência para dizer o que os taxistas experimentam no dia-a-dia, os pesquisadores traduzem na linguagem dos acadêmicos.
            Não se trata também de expor a vida sexual do taxista. Isso é lá com ele! O que se quer aqui, abordar é como ele presta serviços aos passageiros que desejam usufruir do sexo. Lembro-me, por isso de Boltanski e de Muraro. Os trabalhadores rurais e os trabalhadores de construção civil usam o sexo diferentemente da classe média para cima. Esses últimos pouco usam o taxi. Têm suas próprias conduções para os lugares que desejam. Os primeiros quando podem, usam o taxi para os levarem aos locais de seus sonhos: hotéis, motéis, etc.
            Estes entendem a prática sexual como satisfação pessoal, sem, porém, compromisso de vida. No entanto, quando casados o sexo é visto, ainda como prática necessária para ter filhos. O objetivo é o de mais ter filhos do que obter prazer, permanece ainda um antigo preconceito machista, patriarcal, quirial!
            Para os pertencentes à classe média e dela para cima o sexo é prazer que deve ser contabilizado ao máximo, sem compromisso, sem fidelidade.
            O taxista não está preocupado com essas considerações acadêmicas, mas percebe sutilmente o que acontece entre as quatro paredes dos casais que ele conduz.

Citações
1. As Classes Sociais e o Corpo. Editora Graal. 2004.
2. Sexualidade da mulher brasileira. Editora Rosa dos Tempos. 1996; Feminino e Masculino: uma Nova Consciência para o Encontro das Diferenças. Editora Sextante. 2002; História do Masculino e do Feminino. Editora Zit. 2007.

Digitou este artigo: Vinicius  Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

terça-feira, 24 de março de 2015

SEMANA SANTA E PÁSCOA (Serie 70, 54°)

Semana Santa
A semana santa é assim chamada porque, nela celebramos os principais mistérios da nossa fé cristã: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Ela se inicia com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
De Ramos, porque neste dia, fazemos a memória da entrada do Senhor em Jerusalém, com a benção e a procissão de ramos.
Da Paixão do Senhor, porque se proclama a Paixão segundo um dos Evangelistas Sinópticos. Neste ano é proclamada a Paixão segundo Marcos.
Vem, depois, o chamado Tríduo Pascal, que compreende a Quinta- Feira Santa, a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo que, segundo Santo Agostinho é “o sacratíssimo Tríduo do Crucificado, Sepultado e Ressuscitado”.
Quinta-feira Santa: nas catedrais, celebra-se, pela manhã a missa do Crisma. À tarde, em todas as paróquias, celebra-se a Missa da Ceia do Senhor, com o Rito do Lava-pés.
Sexta-Feira Santa: celebra-se a Paixão e Morte do Senhor. Não há missa neste dia. Mas há, a proclamação da Paixão segundo São João, as orações solenes, a adoração da Cruz e a comunhão.
Sábado Santo: à noite celebra-se a Vigília, mãe de todas as vigílias que é a Vigília Pascal, que compreende: a Celebração da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística.
Termina assim, o Tríduo Pascal.
O Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor chamado “Domingo dos domingos”, “Festa das festas”, “Rainha de todas as festas, de todos os domingos, de todos os dias do ano”. Celebramos Aquele que venceu a morte ressuscitando e dando-nos a esperança de que, também nós haveremos de ressuscitar e viveremos com Ele. Aleluia!

Segue o Tempo Pascal até o Domingo de Pentecostes que, neste ano celebra-se no dia 24 de maio.

Editou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

sábado, 21 de março de 2015

O CARRO FÚNEBRE (Serie 70, 53°)


Eles se conheceram numa loja de departamentos, frente à praça XV. Conversaram alguns minutos e ele propôs que fossem a uma choperia famosa de Ribeirão Preto em frente, também, da mesma praça. Ele contou pra ela sua vida de divorciado, tendo três filhos homens: um com 18 anos, outro com 16 e, por fim, outro de 14 anos. Ela, contou também, seu passado. Namorou firme três moços, mas o namoro não foi pra frente e assim permanecia solteira. Ambos voltaram a se encontrar outras vezes no mesmo lugar.
Um dia, combinaram encontrar-se na própria casa dela em Jardinópolis, cidade de poucos habitantes, cerca de cinco mil e quinhentos, calçadas eram só as ruas da praça da matriz e adjacências. O número de possuidores de carros era muito pequeno ao lado de cinco carros de praça. O que mais circulava era um veículo com tração animal.
Quando a mãe dela viajou de ônibus para uma peregrinação, ficou marcado como o dia da ida dele à casa dela.
Aconteceu, porém, dele ir com o carro fúnebre da empresa para a qual ele trabalhava como motorista. A empresa funerária chamava-se Mementos (que significa “lembra-te”, é o começo da frase “lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó retornarás”).
O carro fúnebre dirigido por ele, parou em frente à casa dela por volta das 8 horas da manhã, ele entrou na casa e ambos ficaram fechados por um bom tempo. Aconteceu que pessoas foram se achegando à frente da casa e parando em frente da mesma, perguntando “quem morreu?”. “Nossa, dona Zefina? Ela estava tão forte”; outros, “eu acabei de ver ela saindo de ônibus ainda hoje de manhã!”...
De repente, a frente da casa ficou lotada de populares, conversando em voz baixa, vários senhores com o chapéu na mão esquerda (sinal de respeito pela falecida), algumas senhoras com seus lenços na mão para conter as lágrimas...
A polícia foi chamada porque o pessoal já estava atrapalhando o pequeno fluxo viário naquele ponto da cidade. Um policial desceu da viatura e bateu à porta da casa da dona Zefina. Bateu, bateu, bateu... e ninguém atendeu. Só quando o policial gritou com força e deu alguns chutes na porta é que ele, o namorado, surgiu, tentando abotoar a cueca e respondeu ao mesmo que não havia nada de mais, que não havia morrido ninguém, que ele é que estava dirigindo o carro fúnebre e que não havia nada para aquele ajuntamento de pessoas: um banho de curiosos num lugar onde era difícil acontecer quebra da rotina.
Após tudo resolvido a polícia dispersou os populares, o carro fúnebre voltou para a sua origem e tudo parecia ter voltado a absoluta normalidade.
A “namorada” ficou sabendo que seu “namorado” não passava, na verdade, de um amante.
Desesperada, resolveu se matar.
Em frente da casa agora, ficou claro que tudo não passara antes, se não de prenúncio, do que aconteceria – e aconteceu – de trágico.

Não havia velório na cidade. Era feito na própria casa, donde saía depois o enterro, e assim aconteceu com ela. Foi velada e transportada para o cemitério, não em carro fúnebre, mas nas mãos de seus familiares, amigos e vizinhos, sem a presença de seu “namorado”.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

A RESPEITO DE NOMES (FICÇÃO 1) (Serie 70, 52°)


            Nome, segundo HOUAISS é: “antropônimo dado a uma criança ao nascer, no batismo ou em outra ocasião especial, de acordo com a cultura e os costumes de cada povo pelo qual ela é conhecida e chamada”; ou, também, “nome dado a uma criança ao nascer, nome batismo, nome cristão”.
            No período de cristandade, como no Brasil de 1500 até metade do século XX, davam-se nomes a lugares recém-descobertos de acordo com o dia litúrgico da igreja católica. Assim, por exemplo, São Paulo, por ter sido fundada no dia da conversão de São Paulo (25/01); Montepascoal, por ter sido descoberto no domingo de Páscoal, etc... Os nomes pessoais eram dados pelos pais segundo o nome do santo daquele dia, por exemplo: Antônio, por ter nascido no dia de Santo Antônio (13/06); João Batista (24/06); Pedro (29/06); Imaculada Conceição (08/12); Maria de Guadalupe (12/12); etc.
            Na modernidade, os pais passaram a escolher como nome para seus filhos, nomes de artista de cinema, nomes de cantores, nomes de jogadores de futebol, nomes de produtos, dos mais diferentes e, até impróprios para servirem de nomes pessoais.
            Acerca de vinte e três anos atrás batizei, numa fazenda do município de Tangará da Serra – MT dezessete crianças (Claro! Com licença do devido Pároco desta imensa paróquia, confiada aos padres jesuítas).
            Perguntei ao pai da criança que nome ela receberia. Ele prontamente respondeu-me:
            - Suvinil!
Pensei que não tivesse ouvido direito o nome e então perguntei-lhe novamente. Mas depressa ainda confirmou-me o nome, soletrando as sílabas:
            Quis rir, mas a cerimônia fez-me rir só depois de tê-la terminado.
            Hoje, felizmente, os pais, ao registrarem seus filhos são alertados a não colocarem nos mesmos, nomes que possam expô-los, no futuro, ao ridículo e à chateação.

            Afinal, o nome da pessoa deve ser sempre visto, pronunciado com muito respeito. Ele é a identidade sagrada, inviolável da pessoa e importa sempre ser reverenciado.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfemeiro e Cuidador do Autor).

terça-feira, 17 de março de 2015

O ENFERMEIRO E O GUARDA-CHUVA (Serie 70, 51°)


Um dos enfermeiros que cuidam de mim, de segunda a sexta-feira, é de Brodowski. De manhã à tarde ele observa o tempo e me fala como está o clima: se vai ou não chover. Sua preocupação não é tanto, se o volume vai ser de grande ou pequena intensidade. Para ele o problema é ter de usar o guarda-chuva, pois acha esta “indumentária” incômoda: carrega-lo chovendo ou não, aberto ou fechado é sempre “um castigo” previsto como consequência do pecado original; é trabalhoso, é custoso...
Um escritor de língua espanhola, com razão, expressou-se: “abrir um guarda-chuva é como disparar contra a chuva (RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA, 1888 – 1963)”.
Para o Reis (nome do enfermeiro), entretanto é sempre o guarda-chuva que dispara contra ele: de onde ele trabalha até a rodoviária, a distância é de cerca de 500 metros. Mas, quando chove forte, a distância parece dobrar. Os obstáculos até lá são: pessoas aglomeradas e portando guarda-chuva impedem o caminhar pela calçada, sobretudo quando paradas em ponto de ônibus; pede licença e ninguém dá: ou por indiferença ou por não querer sair da fila e perder o lugar; outro obstáculo, é andar pela beirada da calçada, e levar um jato d’água de enxurrada provocado por algum veículo; outro dia ele reclamou de um ônibus que lhe lançou um jato molhando-lhe parte da calça e do tênis; outro, é quando se chega perto do Mercadão e se fica exposto à ventania; o guarda-chuva num combate contra o vento forte apanha do vento de todos os lados; parece estar como tampa de panela em cima de panela com água fervendo, vai para cima e para baixo; decola e desloca o portador e muitas vezes, como aconteceu com o Reis, o vento ganhou e ele perdeu o guarda-chuva, restando-lhe apenas, as varetas, pois o cabo do guarda-chuva aterrissou no chão.

Por fim, quando se entra no ônibus para Brodowski, é aguentar guarda-chuva pingando de 30 a 40 pessoas ao mesmo tempo, sem reclamar.

Digitou esta Crônica: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

domingo, 15 de março de 2015

O ÓDIO AO PT (II) (Serie 70, 50°)


Inicio a segunda parte do título acima, recordando as palavras do presidente da CNBB, Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis, segundo as quais as manifestações “são normais dentro do regime democrático para que as pessoas reivindiquem seus direitos e demonstrem sua insatisfação (...) nós achamos legítimas essas manifestações contanto que elas transcorram no respeito ao patrimônio público, ao patrimônio particular, às pessoas que participam das manifestações. Mas na medida em que elas podem se transformar em manifestações de desrespeito à ordem pública, ao patrimônio público, às pessoas, evidentemente que isso cria um clima de intranquilidade, de insegurança e de violência que não contribuem em nada para a manutenção do Estado de Direito, democrático”1.
            Dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB, acrescentou: “a reação que nós sentimos também é que as manifestações de rua são de discordância, muitas vezes ideológica que é normal e diria, inclusive, necessária e democrática”1.
            Os responsáveis por estas manifestações não aceitam que o PT tenha alcançado o poder, pelo voto democrático, e transformado o sistema. “O menor foi tornado maior”! Leonardo Boff explica esta transformação como “intolerável para as classes poderosas que se acostumaram a fazer do Estado o seu lugar natural e de se apropriar privadamente dos bens públicos pelo famoso patriotismo, denunciado por Raymundo Faoro”2.
           

Citações:
1. CNBB. 12 de março de 2015;
2. ADITAL. 10 de março de 2015.

O ÓDIO AO PT (I) (Serie 70, 49°)

Neste artigo pretendo comentar como é visto, por alguns intelectuais brasileiros, o atual ódio ao PT.
Por que o ódio ao PT é destilado pela grande mídia? Que significado tem?
Este ódio provem da grande mídia; da alta burguesia; das “elites brancas” e daqueles que têm medo das transformações sociais que se deram e de que, ainda acontecem pelo Brasil.
Estes que não admitem a ascensão das classes populares e não admitem ter ao seu lado as mesmas pessoas que, antes colocaram à margem da sociedade. Onde já se viu? perguntam eles, essa “gentinha miúda” frequentar os mesmos lugares ( shopping, supermercado, aeroporto, hotel...)
Alguns cínicos alegam que o ódio é contra  “tamanha corrupção”. Claro, toda e qualquer corrupção é imoral; ilegal e odiosa. Ontem como hoje. Ocorre porém, que hoje, a corrupção é denunciada abertamente e com todos os detalhes. No passado, e não tão distante, a corrupção era velada. Onde estão as denuncias das corrupções na construção da Transamazonica e da ponte Rio-Niterói?

            Como disse Juca Kfouri: “O que queremos é, verdadeiramente, um pais mais justo e fraterno, e sem corrupção, é claro!”

Digitou este artigo: Ricardo Rodrigues de Oliveira (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

REALIDADE BRASILEIRA (I) (Serie 70, 48°)

A Nota da CNBB

            A Nota da CNBB sobre a realidade atual Brasileira é clara e precisa.
            1. A Nota descreve a realidade atual do Brasil como: “O escândalo da corrupção na Petrobras, as recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo Governo, a crise na relação entre os três Poderes da Republica e manifestações de insatisfação da população são alguns sinais de uma situação critica”.
            2. A CNBB, depois de ter descrito a situação, afirma que: “Esta situação clama por medidas urgentes. Qualquer resposta, no entanto, que atenda antes ao mercado e aos interesses políticos que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e desvia-se do caminho da justiça. Cobrar essa resposta é direito da população, desde que se preserve a ordem democrática e se respeitem as instituições da comunidade politica”.
            3. A CNBB propõe, finalmente o seguinte: Diante das suspeitas de corrupção na gestão do patrimônio público, manifestamos nossa firme convicção de que a justiça e a ética requerem uma cuidadosa apuração dos fatos e a responsabilização, perante a lei, de eventuais corruptos e corruptores. Enquanto a moralidade pública for olhada com desprezo ou considerada um empecilho à busca do poder e do dinheiro, estaremos longe de uma solução para a crise vivida no Brasil. A solução passa também pelo fim do fisiologismo político que alimenta a cobiça insaciável de agentes públicos, comprometidos com a manutenção de interesses privados. Urge, ainda, uma profunda reforma política que renove em suas entranhas o sistema político em vigor”.


No próximo artigo, tratarei do por que o “ódio ao PT”, segundo alguns intelectuais brasileiros...

Digitou este Artigo: Ricardo Rodrigues de Oliveira (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

segunda-feira, 9 de março de 2015

A LEITURA NO BRASIL (Serie 70, 47°)

            
            “Oh! Bendito o que semeia
            Livros... livros à mão cheia...
            E manda o povo pensar!
            O livro caindo n’alma
            É germe – que faz a palma,
            É chuva – que faz o mar”
(CASTRO ALVES, 1847 - 1871. “O Livro e a América”).


“Temo o homem de um livro só”
(SANTO TOMÁS DE AQUINO, 1225 – 1274).

A agência Nop World, revelou recentemente a situação do Brasil em relação à leitura de livros e ao tempo de leitura dos mesmos.
Na lista dos países do mundo, nosso país é o antepenúltimo, pois está à frente só de Taiwan e da Coreia.
Em relação ao continente americano, o Brasil está atrás da Venezuela, México e Argentina.
Os países que, atualmente mais leem no mundo são surpreendentemente a China e a Índia!
O jornalista Juan Arias, comentando esta nossa situação no jornal “El País” da data de 26 de fevereiro do corrente ano, enfatizou o seguinte: “É possível que um analfabeto ou alguém que não tenha lido um livro na sua vida possa revelar uma sabedoria natural, um senso comum agudo e até uma grande carga de poesia. Conheci algumas pessoas assim na minha vida. Entretanto, o mais natural é que um país que não lê ou que aparece, como o Brasil, entre os piores leitores do mundo, esteja comprometendo seu desenvolvimento futuro – não apenas cultural, mas também econômico” (IHU, 02/03/2015).
Leitura se aprende lendo.

Sem leitura não se tem vocabulário, não se tem estudo, não se aprende a pensar com a própria cabeça. Permanece num estágio infantil, como se não estivesse alfabetizado. O mesmo Juan Arias sentenciou: “dificilmente entrará no rio da modernidade e do progresso um país não-leitor ao mesmo tempo que será refém dos poderes dominantes”.

Digitou este Artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

ENEZITA BARROSO (1925 - 2015) In memoriam (Série 70, 46°)


            A primeira vez que eu ouvi o nome de Enezita Barroso foi em janeiro de 1954. Minha mãe tinha acabado de ter os seus filhos caçulas, gêmeos. Minha avó paterna, dona Brasilina Colli Corrêa, estava arrumando a cozinha, junto à pia quando me perguntou o nome de seus novos netos: Luís Antônio e Maria Inês. Minha avó me disse:
            - Inês! Lembra a Enezita.
            - Quem é essa Enezita?
            - É uma grande cantora, lá em São Paulo.
            Eu tinha exatamente 10 anos, nunca tinha ouvido Enezita Barroso. Só em 1965, em São Paulo, que a ouvi e vi na televisão! Desde essa época até o presente, procurei acompanhá-la pela televisão por aquilo que ela representava para a música caipira, verdadeiramente genuína e tão querida pelo povo.
            Ela entendia muito bem de folclore, que ela sempre insistiu em falar folk-lore, ou seja, música do povo ou também, tudo que é produzido pelo povo. Foi professora de folclore na USP, mas soube valorizar a música genuinamente popular, conhecida como caipira ou sertaneja. Pelos seus programas, divulgou e promoveu essa música e como ela dizia, “essa música não pode acabar nunca”.
            Foi reconhecida por muitos cantores como sua “madrinha” e assim era chamada por eles. Não era um parentesco batismal, porém, musical. Com que carinho de público eles a chamavam de “madrinha”.
            Foi chamada também de “dama da música caipira”. Tão simples, sem nunca perder seu perfil de mulher educada. Sensível à situações mais delicadas dos seres humanos.
            Ela passa para a história como mestra educadora e senhora da cultura caipira, que não podemos perder jamais.
            Que saudade já nos dá a frase por ela, tantas vezes repetida:
            - Programa: Viola Minha Viola. Êta programa que eu gosto!
            Agora, só gosto na saudade!

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

sexta-feira, 6 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (5) (Serie 70, 45°)

O TAXISTA E A MULHER
(HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, 2015)


            João Luís, quando tinha cerca de dezoito anos, acompanhou um padre que deveria celebrar a missa em uma fazenda. Enquanto o padre atendia algumas confissões, ele ficou conversando com o taxista que trouxe o padre.
             A conversa começou com algumas coisas comuns do dia a dia. Depois, o taxista passou a falar-lhe de uma situação pessoal e familiar pela qual passava.
            Disse-lhe:
            - Sabe, moço, eu estou numa situação muito triste, por que minha mulher está com câncer e ela já não me serve mais. Arrumei outra. Uai, não me serve, oque que eu vou fazer.
            João Luís pensou: mais isso não é amor. Ele concebe a mulher como seu objeto, coisa comum do machismo brasileiro “mulher é objeto de tanque, de cozinha e de cama”!
            Diante de uma mentalidade como esta, não há o que se comemorar. Só há o que se lamentar. E haja Lei Maria da Penha! Mesmo assim, cumprimento todas as mulheres brasileiras e faço votos de que sejam sujeitos e não objetos. Isso se manifesta em ter coragem para denunciar tudo aquilo que atente contra sua dignidade, seus direitos, etc. Sei que isso implica muita união de vocês, muita reivindicação e muita luta. Não lhes falte força e vigor para isso.
            Meu beijo e fraterno abraço a todas, próximas ou distantes.

Digitou esta Crônica: Ricardo Rodrigues de Oliveira (Enfermeiro e Cuidador do Autor).




DIÁRIO DE UM TAXISTA (4) (Serie 70, 44°)

TAXISTA É VITIMA


Taxista é vitima, em primeiro lugar de acidentes pequenos e/ou grandes.
Por exemplo, um pequeno acidente:  João Luís, outro dia, estava parado num semáforo, quando um idoso, dirigindo seu carro, bateu-lhe na traseira do taxi.
O idoso, saindo de seu carro, logo desculpou-se, por que teve câimbra na perna direita e em vez de frear o carro, acelerou. Disse-lhe que possuía seguro e que ele “ficasse frio” por que tudo seria resolvido a contento. Menos mal. Ficaria porém, parado para deixar o carro no conserto. Não deixou de ser vitima.
Vitima de grandes acidentes, é quando o taxista perde o carro numa batida forte e acaba perdendo dias de trabalho internado em hospital e as vezes, acaba perdendo a vida.
O taxista é, frequentemente, vitima de assalto, de roubo, de furto e outras violências. O pior é que ele, sozinho, tem de enfrentar mais de que um agressor.

Outro dia, João Luís pegou um passageiro que queria ir a Pontal. Logo depois de Sertãozinho o passageiro tirou um revolver 38, colocou-o na sua cabeça e lhe disse brutalmente que lhe passasse todo o dinheiro ou então,  ele estouraria todos os seus miolos. João Luís tremeu como uma vara verde, começou a suar e sua pressão subiu visivelmente. Percebeu que sujou nas roupas e no forro do acento. O meliante percebeu em que estado estava o assaltado e teve para com ele uma atitude de empatia, isto é, colocou-se na pele do assaltado, e dele teve compaixão e lhe disse:
- Cara, eu vou ficar só com seu dinheiro. Não vou lhe levar o carro, mas me leve agora para a rodoviária de Ribeirão Preto, para eu assaltar outro, não sei em que lugar. Mas certamente será outro taxista.
Mais situações de vitimas poderiam ser mencionadas. Não vou continuar, por que não quero que o leitor seja também minha vitima!

Digitou esta Crônica: Ricardo Rodrigues de Oliveira (Enfermeiro e Cuidador do Autor).

quinta-feira, 5 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (3) (Serie 70, 43°)

 ELE TAMBÉM AJUDA

            A outra face do taxista apresenta-se como alguém que ajuda: ajuda socorrendo pessoas que caíram no centro da cidade, por alguma causa como desmaio, perda de equilíbrio, hipoglicemia, ou até mesmo, infarto ou AVC. Para não demorar esperando a ambulância populares mesmos chamam o taxista para levar a pessoa a uma UBS ou uma UPA e, na maioria das vezes, esta ajuda não é recompensada por ninguém. Ele, porém, sente-se gratificado por ter feito um bem fundamental, salvando uma vida.
            Outras vezes, ele houve história do passageiro ou da passageira, que, com toda a sinceridade revela-lhe sua situação verdadeira de miséria.
            João Luís ouviu a história de uma senhora que mal podia andar, por isso, tinha que se servir de táxi. Contou-lhe que ela e o marido – idoso como ela – mas doente, acamado, dependia da esposa. A aposentadoria que recebiam era insuficiente para pagarem aluguel de pequena casa, luz elétrica, água, telefone, remédios, alimentação, vestuário etc. Ela procurava, para complementar a aposentadoria, vender papelão e latinhas de bebidas recolhidos pelas ruas. Vizinhos também os ajudavam e assim procuravam sobreviver. João Luís comoveu-se com a história real desta senhora. Chegando em casa contou ao pai esta realidade. Os dois montaram uma cesta básica e João Luís levou-a à casa do referido casal necessitado. Depois, a namorada do João, a irmã dela, também, mandaram outra cesta básica; e assim, se formou uma rede de ajuda a esse casal.
            Isto, sim, é caridade efetiva e primária, pois socorre a quem precisa agora. Quem tem fome, precisa comer. Quem tem cede, precisa beber... É a primeira instância da caridade. Porém, não se pode contentar com ajuda. O pobre precisa passar de dependente, de objeto de caridade à sujeito responsável por sua vida. Este segundo nível da caridade, chama-se caridade promocional, que pode ser resumida no provérbio chinês que diz: “Ao invés de dar o peixe, ensine a pescar”. Convenhamos, contudo, que é preciso verificar sobre tudo hoje, se há ainda, peixe em rios com tão baixo nível de água.
            O mais importante nível da caridade é aquele que leva em conta que precisamos transformar as estruturas injustas. São elas que geram a pobreza, a miséria, a marginalização e o rebaixamento das pessoas, a ponto de elas se tornarem descartáveis.

            A ajuda, entretanto, é sempre bem-vinda.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (enfermeiro e cuidador do Autor).

quarta-feira, 4 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (2) (Serie 70, 42°)

OS PIAUIENSES

O taxista não funciona apenas como terapeuta porque escuta problemas pessoais. Ele funciona, também, como uma caixa de ressonância dos problemas do país, do estado, do município e das situações de trabalho, de habitação, de saúde, de transporte etc, etc, etc, que os passageiros sentem e lhe revelam sem pudor.
            João Luís e outro taxista, foram chamados a buscar uma família na praça de um bairro bem popular de Ribeirão Preto. Um carro pegou duas senhoras e duas crianças, mais algumas malas. João Luís pegou apenas um homem e muitas malas.
            Quando João Luís perguntou ao seu passageiro, para onde ia, ele respondeu:
- Pra rodoviária.
- E, desculpe a pergunta: vocês vão viajar para onde?
- Prô Piauí!
- Nossa!  E quanto tempo de viajem?
- Moço, 70 horas de viajem.
- De ferias?
- É. Saudades da família, da terrinha da gente... Muito embora a gente vá, sem ter conseguido receber o 13 salário e as ferias. O “homem” disse que a gente vai receber quando voltar. Eles judiam muito da gente que trabalha na construção civil aqui em Ribeirão Preto. Moço, ate parece que somos escravos! A marmita que servem é muito ruim, não tem sabonete “pra” gente lavar as mãos, não tem papel higiênico.... a gente tem de usar pedaço de saco de cimento, “cê” sabe né... nós somos muito mal tratados pelos empreiteiros que não preenchem conforme a lei as nossas carteiras de trabalho! Não temos convenio de saúde. Há um numero muito grande de acidentes de trabalho e ate morte, ninguém vigia se nós trabalhamos em condições efetivas de segurança. E quando morre alguém, sempre a firma diz, que a culpa foi do morto, que não usou os instrumentos de segurança...
João Luís percebeu que estavam chegando na rodoviária, desejou uma boa viajem e boa estadia na terra deles. Ficou triste com o relato espontâneo da situação dos trabalhadores da construção civil, relatada pelo seu passageiro, afinal, estamos longe do Brasil que queremos, e há muito a fazer para que as situações melhorem!

Digitou esta crônica: Ricardo Rodrigues de Oliveira (enfermeiro e cuidador do Autor).

segunda-feira, 2 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (1) (Serie 70, 41°)

OS TRÊS POTIGUARES
  
            Há profissões que no seu cumprimento, revelam-se como “terapeutas”: sem falar nos profissionais de saúde, são eles: professores, barbeiros e, por exemplo, curiosamente, taxistas. A proximidade das pessoas, a confiança que nasce daí, a intimidade e a necessidade de a pessoa comunicar sua preocupação, sua ansiedade, seu temor, fazem com que as pessoas se abram informalmente.
            Aqui, numa série de artigos alternados pretendo revelar o que se passa realmente entre passageiros e taxistas.
            Quando eu era menino os taxistas de hoje eram chamados de “chauffeur” o que quer dizer traduzido do francês, aquele que esquenta o motor para o carro funcionar; isso acontecia, antigamente, com o motorista pondo a manivela no carro e a movia até o motor começar a funcionar. Era ainda chamado de “chauffeur” de praça porque, numa praça da cidade sempre havia um local reservado para isso, que hoje é chamado de báia.
            Atualmente, os carros para isso destinados, ou seja, transporte de passageiros, são chamados de táxi e seus motoristas taxistas.
            Para maior clareza, transcrevo as definições de HOUAISS1:
            - Táxi: “veículo de aluguel para transporte de passageiros, com um taxímetro que marca o preço da corrida ou viagem;
            - Taxistas: “condutor de táxi”.
            Pois é: o taxista, na maioria das vezes quando é bom profissional, competente e responsável, sabe deixar seu cliente à vontade, descontraído, apresentando-se ao mesmo com o próprio nome e perguntando o nome do passageiro. Assim ele se abre à confiança do mesmo e este passa a confessar-lhe suas preocupações do momento. O objetivo da sua viagem – que pode ser curta ou longa, como por exemplo: ir de uma cidade à outra. Sabendo ouvir seu cliente, informalmente passa a ser seu terapeuta. É por isso que os taxistas tem na memória um número incalculável de histórias, que se fossem escritas produziriam um enorme volume.
            Aqui, vou contar, apenas, algumas histórias que se deram com meu amigo e taxista João Luís Mora Siqueira que, como sempre, com o seu bom humor, boa memória, astuto observador, me contou informalmente e às retive na minha memória.
            Tudo isso dentro da não violação de segredos, nem da identidade das pessoas e/outros detalhes que possam identificar pessoas.
            A primeira destas histórias é a dos três potiguares.
            Potiguar, como se sabe, é o nascido no estado do Rio Grande do Norte, o mesmo que rio-grandense-do-norte.
            O João Luís, um dia, foi chamado para ir buscar três passageiros, no aeroporto Viracopos em Campinas (SP). Chegou um pouco antes do pouso do avião, que vinha de Natal (RN), com duas senhoras e um senhor. O senhor procurava pelo táxi de Ribeirão Preto (SP) e logo o encontrou. Os três entraram no táxi e logo começou o diálogo. O João Luís apresentou seu nome, perguntou o nome deles e iniciou-se o quebra-gelo.
            A primeira pergunta, após ter ouvido a apresentação de seus passageiros, foi a de uma senhora que quis saber se demorava chegar a Ribeirão Preto.
            Querendo brincar com a senhora, assustando-a, disse-lhe que a viagem demoraria cerca de seis horas! Ao que a senhora lhe respondeu:
            - Virgem Maria! Não sabia que fosse tão longe não.
            O taxista logo se desmentiu e disse-lhe que entre duas horas e duas e meia, estariam em Ribeirão Preto.
            O João Luís percebeu que nos rostos dos três havia uma enorme tristeza estampada. Quando ele preguntou se vinham a “Ribeirão” para passear. Uma delas lhe respondeu:
            - Não, moço. Nós estamos indo para lá, porque meu filho está muito mal, no Hospital das Clínicas. Ele foi operado de um câncer na cabeça e não está nada bem. Ele pediu para um dos seus amigos, que desse um jeito de trazer seus pais e a madrinha, pois ele queria despedir-se deles, antes de morrer.
            E mostrando o marido, disse:
            - Esse é meu marido, ela é a madrinha dele de batismo. Os seus amigos que estão aqui, são como irmãos dele. São da mesma cidadezinha a mais de 300 quilômetros de Natal. São amigos desde pequenos. Cresceram, resolveram vir, aqui pro sul, com a esperança de ganhar dinheiro, montar uma coisa juntos e, vencerem em Ribeirão Preto. Juntos construíram uma padaria, trabalharam e, quando parecia ter sido alcançado o objetivo, meu filho um dia amanheceu com uma forte e insuportável dor de cabeça. Os amigos imediatamente o levaram a uma UBDS (Unidade Básica de Saúde), pensando que fosse um atendimento rápido e simples. Mas, não. O médico avisou aos amigos que se tratava de caso de grande complexidade e por isso, ele foi encaminhado para o Hospital das Clínicas, onde, logo, passou por cirurgia, que não adiantou. O médico informou-lhes da gravidade do seu estado, dizendo até que o amigo estava com poucos dias de vida.
            - Os dois, prontamente puseram-se de acordo e providenciaram a nossa vinda para “Ribeirão” por avião. É por isso, “Sô moço” que nós estamos aqui, graças a Deus.
            A chegada dos familiares, deu-se num sábado.
            O filho do casal faleceu na primeira terça-feira.
             

            Citações
1.  ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, RJ: Editora Objetiva Ltda, 2001.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).