Eles se conheceram numa
loja de departamentos, frente à praça XV. Conversaram alguns minutos e ele
propôs que fossem a uma choperia famosa de Ribeirão Preto em frente, também, da
mesma praça. Ele contou pra ela sua vida de divorciado, tendo três filhos
homens: um com 18 anos, outro com 16 e, por fim, outro de 14 anos. Ela, contou
também, seu passado. Namorou firme três moços, mas o namoro não foi pra frente
e assim permanecia solteira. Ambos voltaram a se encontrar outras vezes no
mesmo lugar.
Um dia, combinaram
encontrar-se na própria casa dela em Jardinópolis, cidade de poucos habitantes,
cerca de cinco mil e quinhentos, calçadas eram só as ruas da praça da matriz e
adjacências. O número de possuidores de carros era muito pequeno ao lado de
cinco carros de praça. O que mais circulava era um veículo com tração animal.
Quando a mãe dela
viajou de ônibus para uma peregrinação, ficou marcado como o dia da ida dele à
casa dela.
Aconteceu, porém, dele
ir com o carro fúnebre da empresa para a qual ele trabalhava como motorista. A
empresa funerária chamava-se Mementos (que significa “lembra-te”, é o
começo da frase “lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó retornarás”).
O carro fúnebre
dirigido por ele, parou em frente à casa dela por volta das 8 horas da manhã,
ele entrou na casa e ambos ficaram fechados por um bom tempo. Aconteceu que
pessoas foram se achegando à frente da casa e parando em frente da mesma,
perguntando “quem morreu?”. “Nossa, dona Zefina? Ela estava tão forte”; outros,
“eu acabei de ver ela saindo de ônibus ainda hoje de manhã!”...
De repente, a frente da
casa ficou lotada de populares, conversando em voz baixa, vários senhores com o
chapéu na mão esquerda (sinal de respeito pela falecida), algumas senhoras com
seus lenços na mão para conter as lágrimas...
A polícia foi chamada
porque o pessoal já estava atrapalhando o pequeno fluxo viário naquele ponto da
cidade. Um policial desceu da viatura e bateu à porta da casa da dona Zefina.
Bateu, bateu, bateu... e ninguém atendeu. Só quando o policial gritou com força
e deu alguns chutes na porta é que ele, o namorado, surgiu, tentando abotoar a
cueca e respondeu ao mesmo que não havia nada de mais, que não havia morrido
ninguém, que ele é que estava dirigindo o carro fúnebre e que não havia nada
para aquele ajuntamento de pessoas: um banho de curiosos num lugar onde era
difícil acontecer quebra da rotina.
Após tudo resolvido a
polícia dispersou os populares, o carro fúnebre voltou para a sua origem e tudo
parecia ter voltado a absoluta normalidade.
A “namorada” ficou
sabendo que seu “namorado” não passava, na verdade, de um amante.
Desesperada, resolveu
se matar.
Em frente da casa
agora, ficou claro que tudo não passara antes, se não de prenúncio, do que
aconteceria – e aconteceu – de trágico.
Não havia velório na
cidade. Era feito na própria casa, donde saía depois o enterro, e assim
aconteceu com ela. Foi velada e transportada para o cemitério, não em carro
fúnebre, mas nas mãos de seus familiares, amigos e vizinhos, sem a presença de
seu “namorado”.
Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).
Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (Enfermeiro e Cuidador do Autor).
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