quinta-feira, 5 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (3) (Serie 70, 43°)

 ELE TAMBÉM AJUDA

            A outra face do taxista apresenta-se como alguém que ajuda: ajuda socorrendo pessoas que caíram no centro da cidade, por alguma causa como desmaio, perda de equilíbrio, hipoglicemia, ou até mesmo, infarto ou AVC. Para não demorar esperando a ambulância populares mesmos chamam o taxista para levar a pessoa a uma UBS ou uma UPA e, na maioria das vezes, esta ajuda não é recompensada por ninguém. Ele, porém, sente-se gratificado por ter feito um bem fundamental, salvando uma vida.
            Outras vezes, ele houve história do passageiro ou da passageira, que, com toda a sinceridade revela-lhe sua situação verdadeira de miséria.
            João Luís ouviu a história de uma senhora que mal podia andar, por isso, tinha que se servir de táxi. Contou-lhe que ela e o marido – idoso como ela – mas doente, acamado, dependia da esposa. A aposentadoria que recebiam era insuficiente para pagarem aluguel de pequena casa, luz elétrica, água, telefone, remédios, alimentação, vestuário etc. Ela procurava, para complementar a aposentadoria, vender papelão e latinhas de bebidas recolhidos pelas ruas. Vizinhos também os ajudavam e assim procuravam sobreviver. João Luís comoveu-se com a história real desta senhora. Chegando em casa contou ao pai esta realidade. Os dois montaram uma cesta básica e João Luís levou-a à casa do referido casal necessitado. Depois, a namorada do João, a irmã dela, também, mandaram outra cesta básica; e assim, se formou uma rede de ajuda a esse casal.
            Isto, sim, é caridade efetiva e primária, pois socorre a quem precisa agora. Quem tem fome, precisa comer. Quem tem cede, precisa beber... É a primeira instância da caridade. Porém, não se pode contentar com ajuda. O pobre precisa passar de dependente, de objeto de caridade à sujeito responsável por sua vida. Este segundo nível da caridade, chama-se caridade promocional, que pode ser resumida no provérbio chinês que diz: “Ao invés de dar o peixe, ensine a pescar”. Convenhamos, contudo, que é preciso verificar sobre tudo hoje, se há ainda, peixe em rios com tão baixo nível de água.
            O mais importante nível da caridade é aquele que leva em conta que precisamos transformar as estruturas injustas. São elas que geram a pobreza, a miséria, a marginalização e o rebaixamento das pessoas, a ponto de elas se tornarem descartáveis.

            A ajuda, entretanto, é sempre bem-vinda.

Digitou este artigo: Vinicius Maniezo Garcia (enfermeiro e cuidador do Autor).

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