quarta-feira, 4 de março de 2015

DIÁRIO DE UM TAXISTA (2) (Serie 70, 42°)

OS PIAUIENSES

O taxista não funciona apenas como terapeuta porque escuta problemas pessoais. Ele funciona, também, como uma caixa de ressonância dos problemas do país, do estado, do município e das situações de trabalho, de habitação, de saúde, de transporte etc, etc, etc, que os passageiros sentem e lhe revelam sem pudor.
            João Luís e outro taxista, foram chamados a buscar uma família na praça de um bairro bem popular de Ribeirão Preto. Um carro pegou duas senhoras e duas crianças, mais algumas malas. João Luís pegou apenas um homem e muitas malas.
            Quando João Luís perguntou ao seu passageiro, para onde ia, ele respondeu:
- Pra rodoviária.
- E, desculpe a pergunta: vocês vão viajar para onde?
- Prô Piauí!
- Nossa!  E quanto tempo de viajem?
- Moço, 70 horas de viajem.
- De ferias?
- É. Saudades da família, da terrinha da gente... Muito embora a gente vá, sem ter conseguido receber o 13 salário e as ferias. O “homem” disse que a gente vai receber quando voltar. Eles judiam muito da gente que trabalha na construção civil aqui em Ribeirão Preto. Moço, ate parece que somos escravos! A marmita que servem é muito ruim, não tem sabonete “pra” gente lavar as mãos, não tem papel higiênico.... a gente tem de usar pedaço de saco de cimento, “cê” sabe né... nós somos muito mal tratados pelos empreiteiros que não preenchem conforme a lei as nossas carteiras de trabalho! Não temos convenio de saúde. Há um numero muito grande de acidentes de trabalho e ate morte, ninguém vigia se nós trabalhamos em condições efetivas de segurança. E quando morre alguém, sempre a firma diz, que a culpa foi do morto, que não usou os instrumentos de segurança...
João Luís percebeu que estavam chegando na rodoviária, desejou uma boa viajem e boa estadia na terra deles. Ficou triste com o relato espontâneo da situação dos trabalhadores da construção civil, relatada pelo seu passageiro, afinal, estamos longe do Brasil que queremos, e há muito a fazer para que as situações melhorem!

Digitou esta crônica: Ricardo Rodrigues de Oliveira (enfermeiro e cuidador do Autor).

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