sábado, 12 de setembro de 2015

EX-PADRES (Serie 71, 9°)


            Até cerca de 1965 – data do final do Concílio Vaticano II, era raro encontrar ex-padres e nem se quer se tocava no assunto. Era tabu. Parecia tratar-se de um assunto muito sigiloso, pois, tratava-se de um homem que abandonou o ministério presbiteral (“largou a batina”). Ex-comungado um “défroqué”1, um fora da Igreja, da sociedade.
            Não obstante tudo isso, conheci três ex-padres deste período que me surpreenderam enormemente!
            O primeiro chamava-se Diógenes de Brandemburgo. Morava em Jurucê, era dono do cartório local. Casado. Tinha filhos. Falava muitíssimo bem. Ficava sempre no coral da igreja, onde dirigia o coro. Quando ele faleceu, o, então, padre Diógenes da Silva Matthes (hoje, bispo emérito de Franca), diretor espiritual do Seminário, chamou-me em particular, comunicou-me a morte do sr. Diógenes e sigilosamente, baixinho, segredou-me “ele fora padre”! Foi-me uma grande surpresa e causou-me um espanto inesquecível!
            O segundo ex-padre morava uns tempos em Jardinópolis e outros tempos, se não me engano, em Araguari-MG. Era conhecido como professor Francisco Vaz. Sua esposa era dona Rufina Vaz (“dona Fina”). Possuíam filhos e um deles era a Irmã Maria Terezinha Vaz, do Colégio Sagrado Coração de Jesus, local.
            Várias vezes acompanhei padres em visita ao Prof. Vaz. Admirava o respeito e o tratamento diferenciado que eles dispensavam a este senhor. Só anos mais tarde, tomei conhecimento de que o tal professor fora padre!
            O terceiro ex-padre foi curiosamente o padre que me levou para o Seminário Diocesano, em Ribeirão Preto. À época ele era o pároco de Jardinópolis: Cônego Hélio Lacerda. Deixou o ministério, quando era pároco de Santa Rita do Passa Quatro. Casou-se e deste matrimônio teve três filhos. Um deles – foi ele mesmo quem me disse – trabalha na EPTV de Campinas – São Carlos e aparece frequentemente na tela, por volta do meio-dia e seu nome é Eduardo Lacerda.
            Depois de 1965, sobretudo na região de Ribeirão Preto apareceram muitos ex-padres. Foi um período de “debandada ministerial”. Não há mais, felizmente, preconceito, nem desprezo, nem qualquer tipo de humilhação. Com licença papal, podem se casar normalmente e participar, igualmente, da eucaristia como todo fiel. Pelo menos por enquanto não podem exercer o ministério presbiteral. No Brasil, há até mesmo uma associação de ex-padres!



1.      Palavra francesa que se refere pejorativamente a padre. É, também, nome de um filme (“Le Défroqué”) referente a situação de um homem que deixou de ser padre. O filme veio para o Brasil em 1954 com o nome de “O Renegado”.

Digitou este Artigo Vinicius Maniezo Garcia enfermeiro e cuidador do autor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário