Até cerca de 1965 – data do final do
Concílio Vaticano II, era raro encontrar ex-padres e nem se quer se tocava no
assunto. Era tabu. Parecia tratar-se de um assunto muito sigiloso, pois,
tratava-se de um homem que abandonou o ministério presbiteral (“largou a batina”).
Ex-comungado um “défroqué”1, um fora da Igreja, da sociedade.
Não obstante tudo isso, conheci três
ex-padres deste período que me surpreenderam enormemente!
O primeiro chamava-se Diógenes de
Brandemburgo. Morava em Jurucê, era dono do cartório local. Casado. Tinha filhos.
Falava muitíssimo bem. Ficava sempre no coral da igreja, onde dirigia o coro.
Quando ele faleceu, o, então, padre Diógenes da Silva Matthes (hoje, bispo
emérito de Franca), diretor espiritual do Seminário, chamou-me em particular,
comunicou-me a morte do sr. Diógenes e sigilosamente, baixinho, segredou-me “ele
fora padre”! Foi-me uma grande surpresa e causou-me um espanto inesquecível!
O segundo ex-padre morava uns tempos
em Jardinópolis e outros tempos, se não me engano, em Araguari-MG. Era
conhecido como professor Francisco Vaz. Sua esposa era dona Rufina Vaz (“dona
Fina”). Possuíam filhos e um deles era a Irmã Maria Terezinha Vaz, do Colégio
Sagrado Coração de Jesus, local.
Várias vezes acompanhei padres em
visita ao Prof. Vaz. Admirava o respeito e o tratamento diferenciado que eles
dispensavam a este senhor. Só anos mais tarde, tomei conhecimento de que o tal
professor fora padre!
O terceiro ex-padre foi curiosamente
o padre que me levou para o Seminário Diocesano, em Ribeirão Preto. À época ele
era o pároco de Jardinópolis: Cônego Hélio Lacerda. Deixou o ministério, quando
era pároco de Santa Rita do Passa Quatro. Casou-se e deste matrimônio teve três
filhos. Um deles – foi ele mesmo quem me disse – trabalha na EPTV de Campinas –
São Carlos e aparece frequentemente na tela, por volta do meio-dia e seu nome é
Eduardo Lacerda.
Depois de 1965, sobretudo na região
de Ribeirão Preto apareceram muitos ex-padres. Foi um período de “debandada
ministerial”. Não há mais, felizmente, preconceito, nem desprezo, nem qualquer
tipo de humilhação. Com licença papal, podem se casar normalmente e participar,
igualmente, da eucaristia como todo fiel. Pelo menos por enquanto não podem
exercer o ministério presbiteral. No Brasil, há até mesmo uma associação de
ex-padres!
1. Palavra
francesa que se refere pejorativamente a padre. É, também, nome de um filme (“Le
Défroqué”) referente a situação de um homem que deixou de ser padre. O filme
veio para o Brasil em 1954 com o nome de “O Renegado”.
Digitou este Artigo Vinicius Maniezo Garcia enfermeiro e cuidador do autor.
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