sábado, 31 de outubro de 2015

DIOGUINHO (1863-1897?) - ( Serie 71 anos, 62º)


            Pe. Chico, como é que você inventa de escrever sobre Dioguinho? Onde já se viu uma coisa dessas?  Pois é! Acontece que desde menino ouvi estórias de Dioguinho, contadas pela minha avó materna, Dona Maria da Conceição Costa Pinto Silva que, na cozinha, escolhendo arroz ou feijão me contava, não pensava, à época que muita coisa que me contou fosse verdade ou, pelo menos tivesse um fundo de verdade, do qual, passado mais de um século, ainda se constitui em objeto de livros. [1] até mesmo de filmes: “Dioguinho” (1917 e 2002).
            Baseado no texto de Luiz Antônio Nogueira, têm-se como certo que:
“ Dioguinho nasceu em Botucatu dia 9 (nove) de Outubro de 1863, aprendeu as primeiras letras na Escola Botucatuense. Era um garoto inteligente, mas, briguento, participava de muitas brigas na saída e fora da escola.
Dioguinho com 15 (quinze) anos de idade foi trabalhar com engenheiro e mestres agrimensores que faziam serviços para a estrada de ferro sorocabana, que estava chegando a região de Botucatu, isso por volta de 1878, aprendeu a profissão de agrimensor. Dioguinho com 18 (dezoito) anos, casou-se na cidade de Itatinga com a jovem Antônia de Mello, moça de boa formação. Dioguinho foi trabalhar com o seu concunhado Antônio Canrardelli, que na época tinha uma fábrica de candeias (lamparinas).Dioguinho era bom agrimensor, foi convidado para trabalhar para fazendeiros de café na região de Tatuí.”
            Cometeu muitos crimes de assassinato e foi muitas vezes absolvido pela justiça, crimes esses, cometidos por motivos fúteis, outras vezes por motivo de vingança ou, ainda, a mando de alguém. Tornou-se, assim, um “justiceiro” na região de Ribeirão Preto, até que em 1 de maio de 1897, foi considerado desaparecido e, por isso aumentou-se ainda mais a lenda de que saíra vivo da emboscada que lhe armara o Departamento de Policia do Estado de São Paulo.
            O mito Dioguinho continua até hoje!

Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 




[1]  Dioguinho, publicado em 1901 por João Rodrigues Guião, Dioguinho, narrativas de um cúmplice de dialecto, publicado em 1903 por Antonio de Godoi Moreira e Costa, e Dioguinho, o matador dos punhos de renda, do jornalista João Garcia, publicado em 2002, Além da justiça: o homicida Dioguinho de Marília Schneider (2003}. Tambem, o texto de Luis Antonio Nogueira, “Dioguinho” em SãoSimão.net


PAULO BOMFIM E BOMFIM PAULISTA (Serie 71 anos, 61°)


Em artigo recente tracei a biografia de Paulo Bomfim, a partir da lembrança do distrito de Bomfim Paulista. Neste artigo, servindo-me de uma pagina desse poeta confirmo pelo seu próprio testemunho, a origem de Bomfim Paulista como homenagem ao seu avô Francisco Rodrigues dos Santos Bomfim, nestes termos: “A tocaia.
Em sua coluna “Há um século, O Estado de São Paulo reproduz noticia de 14 de setembro de 1900: “Ribeirão Preto. Correu aqui o boato de que havia sido preso nessa capital um individuo de cor preta, que confessara ter sido o autor do misterioso assassinato do milionário Francisco Rodrigues dos Santos Bomfim, a mando de outrem, facto acontecido há cerca de três anos, em Cravinhos, município desta comarca.” Com a tocaia que ceifou a vida do meu avô Francisco, os Bomfim se dispersaram pela rosa dos ventos do sertão. O nome do desbravador permanece junto a Ribeirão Preto, em Bomfim Paulista, por ele fundada; no bairro que também guarda seu nome em Campinas, onde meu pai nasceu, e na primeira igreja que mandou erguer em Cravinhos sob a invocação de São Benedito, em 1888, juntamente com o Cemitério Municipal que ofereceu à cidade em 1892, onde se encontra sepultado. Ao lado de seu jazigo, o tumulo do troleiro que morreu na emboscada tentando defende-lo.”[1]
Curiosa e surpreendente é a ligação do que até agora se falou com o que ele chamou ao final desse texto  de “lendas”: “A lenda do velho Bomfim e a lenda do Dioguinho”, que segundo ele “prosseguiram percorrendo, paralelamente, os trilhos da Mogiana.”[2]
Paulo Bomfim narra o seguinte:
“certa feita, visitando com minha avó Maria as fazendas que pertenceram a esse antepassado, ela aponta o batente de uma porta marcado por uma carga de chumbo: - Foi tiro do Dioguinho. Era inimigo de seu avô e prometera mata-lo. Li em algum lugar que Dioguinho teria assassinado Francisco Bomfim, mas o certo é que quando ele foi vitima da tocaia que o matou, Dioguinho havia desaparecido há mais de um ano. Em 1943, fui com meu pai a Cananeia onde conhecemos o Coronel Martiniano de Carvalho, veterano de Canudos. Ficamos amigos e um noite, sob a luz sonolenta do lampião de querosene, o militar vira-se para papai e diz: - Dr. Bomfim, sei da inimizade de seu pai com o Dioguinho e vou contar um segredo que guardo há quarenta anos. Eu comandava a “captura” de bandidos quando me hospedei numa fazenda nas barrancas do Rio Mogi-Guassu. O fazendeiro ficou meu amigo. Indaga se eu poderia guardar m segredo. Dou-lhe minha palavra. Manda arrear os cavalos e me levava até o fundo de uma invernada onde existia uma palhoça. Abre a porta, convida-me a entrar e, no lusco-fusco da tapera diviso um vulto deitado sobre um catre. Está todo deformado.
-       Sabe que é ele?
-        Não – respondo
-       É Dioguinho.
-       Mas como pode ser? – indago
-       Quando a policia, comandada pelo Tenente Coronel França Pinto atirou nele e em seu irmão, Dioguinho, mortalmente ferido, rodou o rio e veio dar numa praia em minha fazenda. Recolhi o homem que fora duramente atingido pelas balas. Estava paralitico e acabei por traze-lo para este rancho onde se encontra esperando pela morte.
O coronel Martiniano de Carvalho, meu pai e eu ficamos em silencio. Pela primeira vez essa versão é escrita.”
            Li, a poucos anos – o que acho ter sido a ultima obra sobre Dioguinho – de João Garcia Duarte, o livro Dioguinho: o matador dos punhos de renda, publicado em (2002).
            Não me lembro, todavia, de este autor ter feito qualquer alusão a este final do famoso matador que agiu na nossa região entre 1894 a 1897!


Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 




[1] PAULO BOMFIM. O caminheiro. São Paulo. Ed. Green Florest Brasil, 2001, p.108-109.
[2] Idem, p. 109

O SÍNODO CONTINUA - (Serie 71 anos, 60º)

O SÍNODO CONTINUA


Francisco de Assis Correia

            O evento Sínodo – foi encerrado pelo Papa Francisco no dia 25 de outubro próximo passado.
            O encerramento, contudo, não significa que o objetivo do mesmo tenha se esgotado. Primeiro, por que as conclusões publicadas ainda dependem do parecer final ou documento final do Papa. Segundo, por que, queiramos ou não, este Sínodo mudou para sempre a maneira de a Igreja abordar a temática da família e do matrimonio. O teólogo leigo italiano, Andrea Grillo - professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua- por exemplo, em relação a este tema escreveu recentemente: “O Sínodo que "se superou" na disciplina das bodas cristãs, abrindo o caminho para um repensamento das práxis com que se abordar as crises matrimoniais, teve que assumir um problema eclesial muito maior e espinhoso: ou seja, a pretensão de não perder monopólio da sexualidade ordenada à vida unida, indissolúvel e fecunda.
Desde que o Estado moderno "requisitou" a competência sobre o matrimônio, a Igreja muitas vezes reagiu de modo apenas institucional, exibindo uma competência original e inoxidável sobre o "sacramento-contrato". Essa história, de dois séculos de duração, ainda influencia pesadamente sobre o modo de abordar as questões individuais: não raramente, ao lado do "pastor", sempre apareceu um "farmacista" à espreita, com a sua balança. Muitas vezes na mesma pessoa!
Aceitar que haja uma "diferença" entre família e matrimônio é, para essa mentalidade clássica, o começo do fim. O Sínodo nos disse que os "pastores" prevaleceram sobre não poucos "farmacistas", além de alguns "lobos". Para inúmeros Pastores presentes no Sínodo, essa reviravolta foi não um trágico fim, mas um início promissor”[1].
            Terceiro, não se pode resumir o tema do Sínodo à questão: “Comunhão aos divorciados e recasados”. Este é um dos pontos que deverá ser decidido, depois de um criterioso discernimento à luz do “Principio da Misericórdia”, sobre o qual tanto tem insistido o Papa Francisco.  Alias, um dos Padre sinodais, mais influente, Cardeal – Arcebispo de Washington, Dom Donald Wuerl afirmou: “A Igreja Católica está se deslocando do legalismo à misericórdia”. [2]
            Quarto, anoto, ainda, outras questões muito pertinentes, levantadas, também por Andrea Grillo:
A insuficiência por si só das distinções clássicas:
- Familiaris consortio e a diferença entre comunhão eclesial e comunhão sacramental;
- Foro externo, foro interno: e o "foro íntimo"?
- Caminho penitencial e caminho eucarístico: ainda são possíveis?

Grillo conclui, prudentemente da seguinte forma:
“Sobre essas "perguntas abertas", se medirá a discussão e a experiência eclesial dos próximos meses: a menos que Francisco não nos surpreenda mais uma vez, "jogando com antecipação" já em algumas semanas, talvez em torno do limiar jubilar. Quem poderia excluir isso?”


  Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 





[1] O Sínodo: o texto e o evento. Artigo de Andrea Grillo”. IHU.  31/10/2015
[2]  Cardeal Wuerl: A Igreja Católica está se deslocando do legalismo à misericórdia”. IHU. 31/10/2015.

UM ANO SEM MANOEL DE BARROS (Serie 71, 59°)


            No dia 13 próximo, se completará o primeiro aniversario da morte de Manoel de Barros (1916- 2014). Essa data é muito importante por que marca, de um lado, a morte do poeta e de outro, a minha volta à atividade literária de tempos atrás. Ricardo Rodrigues de Oliveira, então meu enfermeiro, conseguiu me convencer de que poderia, não obstante minha total deficiência visual, iniciada em março de 2013, voltar a escrever: eu ditaria e ele digitaria os textos e, eventualmente, me auxiliaria em pesquisas. Foi assim,  que o primeiro texto, nesta condição, nasceu o artigo sobre o falecimento de Manoel de Barros.  Depois disso, juntou-se a esta mesma atividade o enfermeiro Vinicius Maniezo Garcia. Com essas quatro mãos é que surgiu o volume, de minha autoria, intitulado O cem dos setenta. Mas lembre-se de que o volume, embora encadernada, é constituída de paginas digitadas. Poucos exemplares: um para o autor, dois para os digitadores, um para a biblioteca do Seminário Arquidiocesano de Brodowski, outro para a Casa da Cultura “Dr. Paulo Portugal” de Jardinópolis– SP  e mais um para dois ou três amigos.
            Volto agora, ao mencionado artigo de um ano atrás, porém, só recordando a biografia de Manoel de Barros.
            Neste dia 13/11/2014, faleceu em Campo Grande Manoel de Barros.       
Este grande poeta – pouco conhecido – admirador do Pe. Antônio Vieira, -”encantador de palavras”-, nasceu em Cuiabá – MT, no Beco da Marinha, à beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916.
          Morou em Corumbá - MS – e, ultimamente, em Campo Grande – MS.
          Foi advogado, fazendeiro e poeta, descoberto aos setenta anos de idade! Seu nome completo era Manoel (daí o apelido familiar de Néquinho) Wenseslau Leite de Barros.
         Aos 8 anos foi para o Colégio interno em Campo Grande e, depois, foi para o Rio de Janeiro onde se formou em Direito em 1949.
          Passou uns tempos na Bolívia e no Peru seguindo depois para Nova Iorque, onde estudou cinema e pintura.
          Voltando para o Rio de Janeiro, conheceu a mineira Stella com a qual se casou. Tiveram três filhos: Pedro, João e Martha.
          Graças a Millor Fernandes, Fausto Wolff, Antônio Houaiss, João Antônio e outros tornou-se conhecido nacional e internacionalmente.
          Chegou-se a compará-lo, na poesia, ao que fez, na prosa, Guimarães Rosa: revolução na poesia!


 Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.