Quando me perguntam qual o poeta
brasileiro que eu prefiro, sempre respondo não ter um preferido, mas alguns me
tocam mais a fundo. Assim, toca-me profundamente a poesia de Murilo Mendez, por
aquilo que ela tem de transcendente, de profundeza, de contemplação e de
espiritualidade não evasiva, mas profundamente concreta.
Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora, 13
de maio de 1901 – Lisboa, 13 de agosto de 1975) foi um poeta e prosador, expoente do surrealismo brasileiro.
Murilo Monteiro Mendes era filho de Onofre Mendes e Eliza M. de Barros Mendes.
Fez seus primeiros estudos em Juiz de Fora e depois, no Colégio Salesiano de
Niterói. Telegrafista,
auxiliar de contabilidade, notário e Inspetor do Ensino Secundário do Distrito
Federal. Foi escrivão da quarta Vara de Família do Distrito Federal, em 1946.
De 1953 a 1955 percorreu diversos países da Europa, divulgando, em
conferências, a cultura brasileira. Em 1957 se estabeleceu em Roma, onde
lecionou Literatura Brasileira. Manteve-se fiel às imagens mineiras, mesclando-as às
da Sicília e Espanha, carregadas de história.
Sua obra é
imensa: "A Poesia em Pânico" (1937); "O Visionário" (1941);
"As Metamorfoses" (1944); "Mundo Enigma" e "O Discípulo
de Emaús" (1945); "Poesia Liberdade" (1947); "Janela do
Caos" (1949), na França, numa edição especial com litografias de Francis
Picabia; "Contemplação de Ouro Preto" (1954); e, no mesmo ano, também
na França, saiu "Office Humain", antologia de poemas traduzidos para
o francês; Parábola (1946-1952) e Siciliana (1954–1955), publicados em Poesias
(1925–1955), Tempo Espanhol (1959); A Idade do Serrote (1968), Livro de
memórias e Poliedro (1972).
Foi casado
com Maria da Saudade Cortesão, mas não tiveram filhos
São
Francisco de Assis de Ouro Preto
Solta,
suspensa no espaço,
Clara
vitória da forma
E
de humana geometria
Inventando
um molde abstrato;
Ao
mesmo tempo, segura,
Recriada
na razão,
Em
número, peso, medida;
Balanço
de reta e curva,
Levanta
a alma, ligeira,
À
sua Pátria natal;
Repouso
da cruz cansada,
Signo
de alta brancura;
Gerado,
em recorte novo,
Por
um bicho rastejante,
Mestiço
de sombra e luz;
Aposento
da Trindade
E
mais da Virgem Maria
Que
se conhecem no amor;
Traslado,
em pedra vivente,
Do
afeto de um sumo herói
Que
junta o braço do Cristo
Ao
do homem seu igual.
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Digitou esse texto
Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
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