sábado, 31 de outubro de 2015

O SÍNODO CONTINUA - (Serie 71 anos, 60º)

O SÍNODO CONTINUA


Francisco de Assis Correia

            O evento Sínodo – foi encerrado pelo Papa Francisco no dia 25 de outubro próximo passado.
            O encerramento, contudo, não significa que o objetivo do mesmo tenha se esgotado. Primeiro, por que as conclusões publicadas ainda dependem do parecer final ou documento final do Papa. Segundo, por que, queiramos ou não, este Sínodo mudou para sempre a maneira de a Igreja abordar a temática da família e do matrimonio. O teólogo leigo italiano, Andrea Grillo - professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua- por exemplo, em relação a este tema escreveu recentemente: “O Sínodo que "se superou" na disciplina das bodas cristãs, abrindo o caminho para um repensamento das práxis com que se abordar as crises matrimoniais, teve que assumir um problema eclesial muito maior e espinhoso: ou seja, a pretensão de não perder monopólio da sexualidade ordenada à vida unida, indissolúvel e fecunda.
Desde que o Estado moderno "requisitou" a competência sobre o matrimônio, a Igreja muitas vezes reagiu de modo apenas institucional, exibindo uma competência original e inoxidável sobre o "sacramento-contrato". Essa história, de dois séculos de duração, ainda influencia pesadamente sobre o modo de abordar as questões individuais: não raramente, ao lado do "pastor", sempre apareceu um "farmacista" à espreita, com a sua balança. Muitas vezes na mesma pessoa!
Aceitar que haja uma "diferença" entre família e matrimônio é, para essa mentalidade clássica, o começo do fim. O Sínodo nos disse que os "pastores" prevaleceram sobre não poucos "farmacistas", além de alguns "lobos". Para inúmeros Pastores presentes no Sínodo, essa reviravolta foi não um trágico fim, mas um início promissor”[1].
            Terceiro, não se pode resumir o tema do Sínodo à questão: “Comunhão aos divorciados e recasados”. Este é um dos pontos que deverá ser decidido, depois de um criterioso discernimento à luz do “Principio da Misericórdia”, sobre o qual tanto tem insistido o Papa Francisco.  Alias, um dos Padre sinodais, mais influente, Cardeal – Arcebispo de Washington, Dom Donald Wuerl afirmou: “A Igreja Católica está se deslocando do legalismo à misericórdia”. [2]
            Quarto, anoto, ainda, outras questões muito pertinentes, levantadas, também por Andrea Grillo:
A insuficiência por si só das distinções clássicas:
- Familiaris consortio e a diferença entre comunhão eclesial e comunhão sacramental;
- Foro externo, foro interno: e o "foro íntimo"?
- Caminho penitencial e caminho eucarístico: ainda são possíveis?

Grillo conclui, prudentemente da seguinte forma:
“Sobre essas "perguntas abertas", se medirá a discussão e a experiência eclesial dos próximos meses: a menos que Francisco não nos surpreenda mais uma vez, "jogando com antecipação" já em algumas semanas, talvez em torno do limiar jubilar. Quem poderia excluir isso?”


  Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 





[1] O Sínodo: o texto e o evento. Artigo de Andrea Grillo”. IHU.  31/10/2015
[2]  Cardeal Wuerl: A Igreja Católica está se deslocando do legalismo à misericórdia”. IHU. 31/10/2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário