No voo de retorno à Roma, o papa Francisco
deu aos jornalistas, uma entrevista que é como o que um balanço de sua viagem à
África. Extraio, aqui, os principais tópicos da entrevista que foi publicada
pelo IHU 01/12/2015.
Sobre suas viagens
“Se as coisas forem bem, acho que a
próxima viagem será ao México. As datas ainda não estão precisas. Se eu vou
voltar para a África? Não sei. Estou idoso, as viagens são pesadas! O momento
mais memorável: aquela multidão, aquela alegria, aquela capacidade de festejar,
de fazer festa, mesmo tendo o estômago vazio. Para mim, a África foi uma
surpresa. Deus sempre nos surpreende, mas a África também nos surpreende. Eu me
lembro de tantos momentos, mas sobretudo a multidão... Eles se sentiram
"visitados", têm um senso da acolhida muito grande, e eu vi isso nas
três nações. Depois, cada país tem a sua identidade: o Quênia é um pouco mais
moderno e desenvolvido. A Uganda tem a identidade dos seus mártires: o
povo ugandês, tanto os católicos quanto os anglicanos, venera os mártires. A
República Centro-Africana tem vontade de paz, reconciliação, perdão. Eles
viviam até quatro anos atrás entre católicos, protestantes, muçulmanos como
irmãos. Ontem eu fui aos evangélicos, que trabalham tão bem, e depois eles
vieram à missa. Hoje [segunda-feira], eu fui à
mesquita, rezei na mesquita, o imã subiu no papamóvel para dar uma
pequena volta entre os refugiados. Há um pequeno grupo muito violento, acho que
cristão ou que se diz cristão, mas não é o Isis, é outra coisa [os
anti-Balaka]. Agora, serão feitas as eleições, eles escolheram um presidente de
transição, uma mulher presidente, e buscam a paz: nada de ódio.
Sobre politica
Se intervir no campo político significa
fazer política, não. Sejam padres, pastores, imãs, rabinos. Mas que se faça
política indiretamente, pregando os valores, os valores verdadeiros, e um dos
maiores valores é a fraternidade entre nós. Somos todos filhos de Deus, temos o
mesmo Pai. Eu não gosto da palavra tolerância, devemos fazer convivência,
amizade. O fundamentalismo é uma doença que existe em todas as religiões. Nós,
católicos, temos alguns – muitos – que acreditam ter a verdade absoluta e vão
em frente sujando os outros com a calúnia, a difamação e fazem mal. Digo isso
porque é a minha Igreja. O fundamentalismo religioso deve ser combatido. Não é
religioso, falta Deus, é idolátrico. Convencer as pessoas que têm essa
tendência: eis o que devem fazer os líderes religiosos. O fundamentalismo que
acaba em tragédia ou comete crimes é uma coisa ruim, mas acontece em todas as
religiões.
Sobre o dialogo com o Islã
Pode-se dialogar, eles têm tantos valores,
e esses valores são construtivos. Eu também tenho a experiência de amizade com
um islâmico, um dirigente mundial. Podemos falar. Você tem os seus valores, e
eu, os meus, você reza, e eu rezo. Tantos valores: a oração, o jejum. Não pode
apagar uma religião, porque há alguns ou muitos grupos fundamentalistas em um
certo momento da história. É verdade, as guerras entre religiões sempre
existiram. Também nós devemos pedir perdão: Catarina de Médici, que não era uma
santa, e aquela Guerra dos Trinta Anos, a noite de São Bartolomeu... Devemos
pedir perdão também nós. Mas eles têm valores, pode-se dialogar. Hoje, eu
estive na mesquita, o imã quis vir comigo. No papamóvel estavam o papa e o imã.
Quantas guerras nós, cristãos, fizemos? O saque de Roma não foi feito pelos
muçulmanos.
Sobre sua viagem ao Mexico
As viagens, na minha idade, não
fazem bem, deixam rastros. Eu vou para o México e, em primeiro lugar, vou
visitar a Senhora, a Mãe da América [Nossa Senhora de Guadalupe]. Se não fosse
por Ela, eu não iria para a Cidade do México pelo critério da viagem: visitar
três ou quatro cidades que nunca foram visitadas pelos papas. Depois, vou para Chiapas,
depois para Morelia e, quase certamente, no caminho de volta para Roma, haverá
um dia para Ciudad Juarez. Sobre os outros países latino-americanos: em 2017,
fui convidado para ir a Aparecida, a outra padroeira da América de língua
portuguesa, e de lá se pode visitar algum outro país. Mas não sei, não há
planos.
Seu amor pela África
A África é vítima, a África sempre foi
explorada por outras potências. Os escravos da África eram vendidos na América.
Há potências que buscam apenas tomar as grandes riquezas da África, talvez o
continente mais rico, mas não pensam em ajudar os países a crescer, não pensam
em fazer com que todos possam trabalhar. A África é mártir da exploração.
Aqueles que dizem que da África vêm todas as calamidades e todas as guerras não
conhecem bem o dano que certas formas de desenvolvimento fazem à humanidade. E,
por isso, eu amo a África, porque foi vítima de outras potências.
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador
do autor.
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