Pe. Chico, como é que você inventa de escrever sobre
Dioguinho? Onde já se viu uma coisa dessas?
Pois é! Acontece que desde menino ouvi estórias de Dioguinho, contadas
pela minha avó materna, Dona Maria da Conceição Costa Pinto Silva que, na
cozinha, escolhendo arroz ou feijão me contava, não pensava, à época que muita
coisa que me contou fosse verdade ou, pelo menos tivesse um fundo de verdade,
do qual, passado mais de um século, ainda se constitui em objeto de livros. [1]
até mesmo de filmes: “Dioguinho” (1917 e 2002).
Baseado no
texto de Luiz Antônio Nogueira, têm-se como certo que:
“ Dioguinho nasceu em Botucatu dia 9 (nove) de Outubro de
1863, aprendeu as primeiras letras na Escola Botucatuense. Era um garoto
inteligente, mas, briguento, participava de muitas brigas na saída e fora da
escola.
Dioguinho com 15 (quinze) anos de idade foi trabalhar com
engenheiro e mestres agrimensores que faziam serviços para a estrada de ferro
sorocabana, que estava chegando a região de Botucatu, isso por volta de 1878,
aprendeu a profissão de agrimensor. Dioguinho com 18 (dezoito) anos, casou-se
na cidade de Itatinga com a jovem Antônia de Mello, moça de boa formação.
Dioguinho foi trabalhar com o seu concunhado Antônio Canrardelli, que na época
tinha uma fábrica de candeias (lamparinas).Dioguinho era bom agrimensor, foi
convidado para trabalhar para fazendeiros de café na região de Tatuí.”
Cometeu
muitos crimes de assassinato e foi muitas vezes absolvido pela justiça, crimes
esses, cometidos por motivos fúteis, outras vezes por motivo de vingança ou,
ainda, a mando de alguém. Tornou-se, assim, um “justiceiro” na região de
Ribeirão Preto, até que em 1 de maio de 1897, foi considerado desaparecido e, por
isso aumentou-se ainda mais a lenda de que saíra vivo da emboscada que lhe
armara o Departamento de Policia do Estado de São Paulo.
O mito
Dioguinho continua até hoje!
“certa feita, visitando com minha avó
Maria as fazendas que pertenceram a esse antepassado, ela aponta o batente de
uma porta marcado por uma carga de chumbo: - Foi tiro do Dioguinho. Era inimigo
de seu avô e prometera mata-lo. Li em algum lugar que Dioguinho teria
assassinado Francisco Bomfim, mas o certo é que quando ele foi vitima da tocaia
que o matou, Dioguinho havia desaparecido há mais de um ano. Em 1943, fui com
meu pai a Cananeia onde conhecemos o Coronel Martiniano de Carvalho, veterano
de Canudos. Ficamos amigos e um noite, sob a luz sonolenta do lampião de
querosene, o militar vira-se para papai e diz: - Dr. Bomfim, sei da inimizade
de seu pai com o Dioguinho e vou contar um segredo que guardo há quarenta anos.
Eu comandava a “captura” de bandidos quando me hospedei numa fazenda nas
barrancas do Rio Mogi-Guassu. O fazendeiro ficou meu amigo. Indaga se eu
poderia guardar m segredo. Dou-lhe minha palavra. Manda arrear os cavalos e me
levava até o fundo de uma invernada onde existia uma palhoça. Abre a porta,
convida-me a entrar e, no lusco-fusco da tapera diviso um vulto deitado sobre
um catre. Está todo deformado.
-
Sabe que é ele?
-
Não –
respondo
-
É Dioguinho.
-
Mas como pode ser? – indago
- Quando
a policia, comandada pelo Tenente Coronel França Pinto atirou nele e em seu
irmão, Dioguinho, mortalmente ferido, rodou o rio e veio dar numa praia em
minha fazenda. Recolhi o homem que fora duramente atingido pelas balas. Estava
paralitico e acabei por traze-lo para este rancho onde se encontra esperando
pela morte.
O coronel Martiniano de Carvalho, meu pai e
eu ficamos em silencio. Pela primeira vez essa versão é escrita.”
Digitou esse texto
Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
[1] Dioguinho,
publicado em 1901 por João Rodrigues Guião, Dioguinho, narrativas de um
cúmplice de dialecto, publicado em 1903 por Antonio de Godoi Moreira e Costa, e
Dioguinho, o matador dos punhos de renda, do jornalista João Garcia, publicado
em 2002, Além da justiça: o homicida Dioguinho de Marília Schneider (2003}.
Tambem, o texto de Luis Antonio Nogueira, “Dioguinho” em SãoSimão.net
[2] PAULO BOMFIM. O caminheiro. São
Paulo. Ed. Green Florest Brasil, 2001, p.108-109.
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