segunda-feira, 2 de novembro de 2015

DIOGUINHO (2) - (Serie 71 anos, 63°)



Pe. Chico, como é que você inventa de escrever sobre Dioguinho? Onde já se viu uma coisa dessas?  Pois é! Acontece que desde menino ouvi estórias de Dioguinho, contadas pela minha avó materna, Dona Maria da Conceição Costa Pinto Silva que, na cozinha, escolhendo arroz ou feijão me contava, não pensava, à época que muita coisa que me contou fosse verdade ou, pelo menos tivesse um fundo de verdade, do qual, passado mais de um século, ainda se constitui em objeto de livros. [1] até mesmo de filmes: “Dioguinho” (1917 e 2002).
            Baseado no texto de Luiz Antônio Nogueira, têm-se como certo que:
“ Dioguinho nasceu em Botucatu dia 9 (nove) de Outubro de 1863, aprendeu as primeiras letras na Escola Botucatuense. Era um garoto inteligente, mas, briguento, participava de muitas brigas na saída e fora da escola.
Dioguinho com 15 (quinze) anos de idade foi trabalhar com engenheiro e mestres agrimensores que faziam serviços para a estrada de ferro sorocabana, que estava chegando a região de Botucatu, isso por volta de 1878, aprendeu a profissão de agrimensor. Dioguinho com 18 (dezoito) anos, casou-se na cidade de Itatinga com a jovem Antônia de Mello, moça de boa formação. Dioguinho foi trabalhar com o seu concunhado Antônio Canrardelli, que na época tinha uma fábrica de candeias (lamparinas).Dioguinho era bom agrimensor, foi convidado para trabalhar para fazendeiros de café na região de Tatuí.”
            Cometeu muitos crimes de assassinato e foi muitas vezes absolvido pela justiça, crimes esses, cometidos por motivos fúteis, outras vezes por motivo de vingança ou, ainda, a mando de alguém. Tornou-se, assim, um “justiceiro” na região de Ribeirão Preto, até que em 1 de maio de 1897, foi considerado desaparecido e, por isso aumentou-se ainda mais a lenda de que saíra vivo da emboscada que lhe armara o Departamento de Policia do Estado de São Paulo.
            O mito Dioguinho continua até hoje!
            Gostaria, agora, de acrescentar uma versão dada por Paulo Bomfim[2]:
“certa feita, visitando com minha avó Maria as fazendas que pertenceram a esse antepassado, ela aponta o batente de uma porta marcado por uma carga de chumbo: - Foi tiro do Dioguinho. Era inimigo de seu avô e prometera mata-lo. Li em algum lugar que Dioguinho teria assassinado Francisco Bomfim, mas o certo é que quando ele foi vitima da tocaia que o matou, Dioguinho havia desaparecido há mais de um ano. Em 1943, fui com meu pai a Cananeia onde conhecemos o Coronel Martiniano de Carvalho, veterano de Canudos. Ficamos amigos e um noite, sob a luz sonolenta do lampião de querosene, o militar vira-se para papai e diz: - Dr. Bomfim, sei da inimizade de seu pai com o Dioguinho e vou contar um segredo que guardo há quarenta anos. Eu comandava a “captura” de bandidos quando me hospedei numa fazenda nas barrancas do Rio Mogi-Guassu. O fazendeiro ficou meu amigo. Indaga se eu poderia guardar m segredo. Dou-lhe minha palavra. Manda arrear os cavalos e me levava até o fundo de uma invernada onde existia uma palhoça. Abre a porta, convida-me a entrar e, no lusco-fusco da tapera diviso um vulto deitado sobre um catre. Está todo deformado.
-       Sabe que é ele?
-        Não – respondo
-       É Dioguinho.
-       Mas como pode ser? – indago
-       Quando a policia, comandada pelo Tenente Coronel França Pinto atirou nele e em seu irmão, Dioguinho, mortalmente ferido, rodou o rio e veio dar numa praia em minha fazenda. Recolhi o homem que fora duramente atingido pelas balas. Estava paralitico e acabei por traze-lo para este rancho onde se encontra esperando pela morte.
O coronel Martiniano de Carvalho, meu pai e eu ficamos em silencio. Pela primeira vez essa versão é escrita.”

Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 




[1]  Dioguinho, publicado em 1901 por João Rodrigues Guião, Dioguinho, narrativas de um cúmplice de dialecto, publicado em 1903 por Antonio de Godoi Moreira e Costa, e Dioguinho, o matador dos punhos de renda, do jornalista João Garcia, publicado em 2002, Além da justiça: o homicida Dioguinho de Marília Schneider (2003}. Tambem, o texto de Luis Antonio Nogueira, “Dioguinho” em SãoSimão.net


[2] PAULO BOMFIM. O caminheiro. São Paulo. Ed. Green Florest Brasil, 2001, p.108-109.

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