Engraxate,
ou engraxador, como diz Houaiss, por ofício, é aquele que “engraxa calçados e
peças de couro em geral”.
Desempenhei
este ofício dos dez aos doze anos de idade: vestia camisa de manga curta, calça
curta, descalço (para não gastar o calçado e quando me dava conta, o mesmo já
me não servia; aos dezoito anos, o que calço, hoje: número 44). Quem me fez a
caixa de engraxate foi meu pai (marceneiro, carpinteiro, ferreiro...). Andava
pelo centro de Jardinópolis tendo com o tempo meus próprios fregueses.
Aos
sábados, pelas nove horas da manhã já saía procurando sapatos para engraxar.
Usava duas marcas de graxa: DUAS ANCORAS e NUGGET. Esta última custava mais
caro que a primeira e, por isso, seu preço era o dobro da primeira. Por
exemplo: a “engraxada” custava dois cruzeiros; com a Nugget, o preço era quatro
cruzeiros!
Ia
primeiro à casa de dona Leontina Nappe Elias: ali havia sempre de dois a três
pares para serem engraxados. A generosa senhora, não só me pagava o preço
devido, mas ainda me dava uma gorjeta. Quando eu fui para o Seminário deixei o
ofício de engraxate. Dona Leontina, porém, sempre tinha uns trocados para meus
gastos particulares. Abençoada dona Leontina!
Dalí,
ia para a Sorveteria do “Sô” Tunico (Antônio Jacob). Engraxava seus sapatos, no
quintal da sua casa bem em frente à porta da cozinha, onde dona Dulce
habitualmente fritava deliciosos pasteis. Doce e maternalmente ela me tratava,
não me deixando sair sem comer alguns pasteis.
Depois,
ficava ali na esquina e sempre havia fregueses. Num sábado, fiquei muito feliz
porque ganhei mais do que meu pai num dia de trabalho. Ele ganhava 80 cruzeiros
por dia. Eu ganhei 120 naquele sábado!
Outra
lembrança que guardo, deste tempo de engraxate foi a de um acidente com um
caminhão-baú de “A Campineira”, nas proximidades do Córrego Luciano, então
estrada velha para Sales Oliveira. Enchi minha caixa de engraxate de bolacha.
Nunca tinha comido tanta bolacha!
Digitou este artigo Vinicius Maniezo Garcia enfermeiro e cuidador do autor.
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