Na Família
Cristã, edição italiana, do dia 10 de março do corrente Pe. Federico Lombardi
volta ao tema do terceiro ano de pontificado do Papa Francisco, com o artigo
denominado “Três anos de Francisco: o Papa narrado por seu porta-voz”:
Eu estava no
meu gabinete na Santa Sé, e meus colegas me esperavam na sala de conferências
para um primeiro comentário. Sentia-me emudecido... Aos poucos fui criando
coragem e disse duas coisas que me pareciam claras, e que achava importante
colocar em relevo, como duas grandes novidades: o nome Francisco – pela
primeira vez – e o fato de que era latino-americano.
Tomar um nome que ninguém tinha escolhido ainda – e que nome!
– indicava liberdade, coragem e clareza formidáveis. Pobres, cuidado da
criação, paz, como teria explicado, poucos dias depois, o próprio Papa. Sua
proveniência do “fim do mundo” trazia naturalmente uma perspectiva nova, um
ponto de vista diferente sobre as situações e as perguntas da humanidade e da
Igreja, que não teriam deixado de se fazer presentes. Parece que não me
enganei.
Confesso que as outras novidades naquela
tarde ou dos dias sucessivos – veste, modo de apesentar-se ao povo,
deslocamento em ônibus junto com os outros, automóveis utilitários... – não me
pareciam tão perturbadores: fortes, mas espontâneos. Nestas coisas era
relativamente fácil reconhecer um coirmão jesuíta.
Nos dias seguintes, porém, as novidades
não faltaram e também eu compreendi melhor, pouco a pouco, a personalidade do
novo Papa. Por exemplo, por um certo tempo continuei a pensar que, na medida
que o papa tomaria maior consciência do novo cargo e das exigências práticas,
ele mesmo teria decidido de voltar a usar o apartamento papal, ou de qualquer
forma, buscaria uma solução diferente da Santa Marta. Mas não foi assim.
A determinação de mudar, não só o lugar,
mas também os equilíbrios consolidados do sistema organizativo da vida do Papa,
das relações com os colaboradores, estava, desde o início mais firme e clara do
que eu poderia ter imaginado. Não foi fácil aprender a converter-se ao seu novo
estilo, à sua liberdade de expressão espontânea, às suas anotações pessoais e
aos seus telefonemas...; mas, aos poucos, fomos compreendendo e apreciando seus
motivos e seu grande valor. Muitos “de longe” o compreenderam mais rapidamente
do que nós, “próximos”.
Santa Marta e as outras novidades
Novidade era também o estilo da sua
relação pessoal de pastor com os outros, e com o povo. A novidade da
Missa matinal na Santa Marta, com um bom grupo de fiéis, sua homilia, que logo
aprendemos a esperar com grande interesse cada dia, seu contato pessoal, no
final da missa, com todos os presentes. A capacidade de envolver o povo no
Ângelus ou nas celebrações, interpelando-o diretamente e convidando-o a
responder ou a rezar junto... A liberdade dos gestos e a concretude das
expressões tocavam imediatamente, mas em profundidade, o coração das pessoas.
Neste sentido, uma das primeiras
experiências importantes que fiz pessoalmente foi aquela da Missa da Santa
Ceia, na primeira Quinta-feira Santa, no cárcere juvenil de Casal Marmo.
Segundo o uso litúrgico habitual, estava previsto que o lava-pés seria feito
somente com rapazes. Permiti-me de fazer chegar ao Papa um discreto recado
sobre o desconforto dos jovens e do capelão, e a resposta foi praticamente
imediata. Como todos sabemos lavou também os pés de meninas e de muçulmanos,
como já tinha feito em Buenos Aires...
Pessoalmente, como sacerdote, o aspecto que mais me tocou, no
novo pontificado, é o fato que o Papa Francisco conseguiu em tempo brevíssimo
fazer entender a muitíssima gente – seja dentro, que “fora” da Igreja – que
Deus os ama, deseja e perdoa sempre, sem nunca cansar. Disse e repetiu
infinitas vezes desde os primeiros dias. Todos tínhamos sofrido muito com a
imagem de uma Igreja severa, do “não”, antes que do “sim”, fortificada sobre
preceitos prevalentemente negativos e fora do tempo. Sabíamos perfeitamente que
era uma imagem injusta, completamente diferente daquela que procurávamos dizer
e testemunhar; mas o clima cultural dominante ia num sentido e nós não
conseguíamos muda-lo.
Sinodalidade: caminhar juntos
Não há dúvidas de que o papa Francisco
conseguiu isto de modo bem eficaz, o que me deu grande e profunda alegria. E
não se trata de algum aspecto secundário do serviço: o Jubileu da Misericórdia
alarga e aprofunda a mensagem de amor, de perdão, de reconciliação: confirma-o
e o faz passar através de inúmeras portas em todos os ângulos da Terra, a
começar não de Roma, mas de Bangui, das periferias levada ao centro espiritual
do mundo...
Papa Francisco fala de “Sinodalidade”,
vive em primeira pessoa a condição de crente em caminho, e coloca a Igreja em
caminho, para que saia de si para o encontro das periferias, porque somos
“discípulos missionários”. Renovou profundamente os métodos e o espírito das
assembleias do Sínodo dos Bispos, pôs em caminho uma “reforma” da Cúria romana,
que não se sabem bem quando terminará... Mas isto não é problema, o mais
importante é que se ponha em caminho, confiando-se ao Espírito do Senhor, sem
sermos nós a querer prefigurar onde e quando devemos chegar.
Francisco certamente é corajoso e confiante, caminha na fé e
na esperança. Para viver serena e alegremente com ele, seu pontificado deve
procurar participar das suas posturas, caso contrário se sentira turbado e
amedrontado, ou se sentirá bloqueado e incapaz de percorrer as vias e
territórios novos nas relações pastorais, sobretudo quando se trata de temas
delicados e complexos como aqueles da família ou das relações ecumênicas...
Cultura do encontro
Uma das palavras de Francisco que me
soaram novas, e levei algum tempo para compreender, foi aquela da “cultura do
encontro”. Compreendi, então, que para ele o encontro concreto entre as pessoas
é fundamental. Encontro com Deus, encontro pessoal com Jesus Cristo acima de
tudo, mas também encontro com seus colaboradores, com líderes religiosos, com
responsáveis das nações, e o encontro com indivíduos quem procuram de uma
palavra de conforto e de proximidade (seus telefonemas! Obviamente uma gota na
miríade de pessoas que gostariam, mas, em todos os casos, uma mensagem exemplar
para todos).
Fiz mais vezes, sempre na ousadia de ser
compreendido, um pequeno paralelo entre o mundo do papa Bento e o do papa
Francisco, quando relatavam seus encontros e colóquios com chefes de Estado.
Bento XVI: a concisa, precisa e excepcionalmente lúcida indicação dos temas
tratados. Francisco: as características da personalidade humana e das atitudes
do interlocutor. Ambas aproximações de extraordinária profundidade. Em
Francisco, o encontro com outra pessoa concreta aparece em plena e prioritária
evidência.
Certamente os encontros do Papa Francisco são uma das vias
mestras da presença dinâmica da Igreja, também em nível ecumênico,
inter-religioso e internacional. Basta pensar aos já múltiplos encontros do
Papa com o patriarca ecumênico Bartolomeu, ao recentíssimo encontro com o
patriarca de Moscou Kirill, ou a nova linha de relações ecumênicas com o mundo
evangélico pentecostal representado, por exemplo, pelo seu amigo pastor
Traettino de Caserta, ou a participação à anunciada celebração dos 500
anos da Reforma, em Lund, na Suécia... À celebre amizade com o rabino Abraham
Skorka e o muçulmano Omar Abboud, e ao tríplice abraço diante do Muro das
Lamentações: um sinal destemido e novo.
Em nível internacional, a clamorosa
reaproximação entre Cuba e Estados Unidos foi, certo, ao menos em parte,
propiciado pelo carisma de Francisco e do seu impulso na direção da reconciliação
entre os povos. O evidente, e já mais vezes mencionado, desejo de conseguir um
encontro com a China, poderia enfim tornar-se uma realidade? Certamente
Francisco não faz mistério que incita nesta direção. Ele crê na força dos
encontros ainda mais que nas mesas de negociação. Ele serve, assim,
pessoalmente, ao diálogo e à paz.
Uma referencia para todos
Em três anos de pontificado, papa
Francisco viajou para todos os continentes, à exceção da Oceania (Ásia, Europa,
África, América Latina e Caribe, América do Norte), respondendo às expectativas
de povos muito diferentes, mas sempre desejosos e atentos aos seus gestos e
palavras. Já tinha falado no Parlamento Europeu, em 2015 falou aos Movimentos
Populares, como também ao Congresso Americano e às Nações Unidas em Nova Iorque
e em Nairóbi. Publicou a Encíclica Laudato si’, na qual interceptou com
grande largueza de horizontes e equilíbrio as grandes perguntas da humanidade,
sobre a cuidado da “casa comum”, criticando radicalmente a “cultura do descartável”,
em contexto de responsabilidade e de reflexão global, atenta à ciência, à
religião humana, à visão religiosa da pessoa e do mundo. Sua autoridade assumiu
dimensão de fato “global”, respeitada universalmente e capaz de oferecer um
verdadeiro serviço de orientação à humanidade em caminho.
Muitas coisas aconteceram em três anos. Um caminho de escuta
do Espírito, mais do que na atuação de projetos e estratégias humanas. Não
esqueçamos, portanto, de rezar pelo papa Francisco, como ele nos pede todos os
dias.[1]
Vito Mancuso avalia os três anos de
pontificado do papa Francisco, nestes termos:
Os gestos do papa Bergoglio são revolucionários?
Talvez, sim, na medida em que é
revolucionário o Evangelho. Estes gestos nos impressionaram por são genuínos,
pela energia interior, porque têm um sabor de pão feito em casa. Mas o problema
deste pontificado é que à radicalidade dos gestos não corresponde a do governo.
O Papa não é chamado necessariamente a ser profeta mas ele é aquele que deve governar
a Igreja católica, o seu primeiro legislador. E a fortíssima popularidade de
Francisco, particularmente no primeiro período, poderia tê-lo a opções mais
corajosas.
Falemos dos dois Sínodos sobre a Família. Foram um desastre?
Falar de desastre é impossível porque
foram celebrados, produziram documentos. Mas não os considero um sucesso,
porque ainda estamos esperando a exortação apostólica que o Papa deve escrever
para entender como resolverá o principal nó: o dos sacramentos aos divorciados
que novamente casaram.
A solução apontada no último sínodo, que confia tudo à
decisão do confessor, lhe parece inadequada?
O orientamento do pontificado deve ter uma
direção precisa, mesmo respeitando o discernimento de cada pastor. Vamos
privilegiar o cuidado pastoral de cada pessoa ou a tradição? Isto, no momento,
não está claro.
O Papa devia proceder com uma reforma 'motu próprio'?
Acho que sim. Mas são tantos os campos em
que poderia fazer opções de governo mais claras. Quando foi eleito, se pensava
que faria um boa limpeza na estrutura mas, pelo contrário, ainda vemos
escândalos, como revelaram os livros de Nuzzi e
Fittipaldi.
Houve erros na seleção de colaboradores, como Balda e
Chaouqui.
E mais, não basta fazer a opção de Santa Marta enquanto há cardeais vivendo
ricamente no luxo. Também na questão da pedofilia, as grandes palavras -
tolerância zero, proximidade das vítimas - não tiveram consequências canônicas.
Por exemplo, não levaram à demissão de prelados poderosos e paparicados.
O cardeal Pell deveria ser obrigado a pedir demissão?
Lembro as palavras de Francisco: um bispo
que encobriu, ainda que parcialmente, padres culpados destes crimes horríveis
não pode ficar no posto. Isto ele disse mais de uma vez. Há a questão não
resolvida das mulheres na Igreja. Todos os Papas exaltam o gênio feminino. Mas
no mundo protestante há mulheres que são bispas, ou ao menos, pastoras. Entre
nós não se chega nem a falar do diaconato".
Quais são, no entanto, até agora, as 'pérolas' deste
pontificado?
A atenção aos pobres, à justiça social, à
ecologia, a esplêndida encíclica Laudato si'.
Francisco é um dos poucos líderes mundiais com uma coerência pessoal: vive em
primeira pessoa o que diz, a sua mensagem é límpida. Vai até o México, na
fronteira, e enraivece alguns políticos americanos, fala da saúde do planeta e
se posiciona contra as multinacionais. Faz muito bem o profeta e isto o ajuda a
obter os grandes sucessos da diplomacia pontifícia. Refiro-me às relações com
as outras religiões, à intervenção na Síria, no primeiro ano, à operação Cuba.
E a Itália. Para a Conferência Episcopal Italiana - CEI - as
uniões civis foram uma prova importante. Qual foi o papel do Papa?
Em parte, houve a influência de Francisco.
O empenho do mundo católico no tal Family day pareceu-me menos totalizante do
que no passado. Mas também aqui há uma certa ambiguidade: refiro-me à
intervenção de Bagnasco a favor do voto secreto no Senado, que foi uma recaída
nas tendências ruininas (Cardeal Ruini, ex-vigário da diocese de Roma) de
interferência. Por que o presidente da CEI não foi substituído? Quer-se dar a
imagem de uma Igreja perenemente unida e concorde cerrando fileira atrás do
Papa. Mas isto é somente retórica eclesiástica. Há uma foto, que tuitei. Para
mim ela é um emblema do isolamento do Papa.
E as nomeações de novos bispos?
Este é um dos aspectos positivos do
pontificado, ao menos para quem, como eu, que partilha a visão de Martini,
que falou de uma Igreja
católica duzentos anos atrasada. O critério não é mais o vertical.
São pescados, de baixo, pastores que demonstraram grande proximidade do povo de
Deus. Assim foi a nomeação de Palermo,
Pádua, Trento e aqui em Bolonha, onde Zuppi,
apoia a construção de uma mesquita, e chega depois de Biffi que, mais que
outros, esbravejava contra os muçulmanos.
Este Papa será capaz, no futuro, de ainda nos surpreender?
Otimismo da vontade, pessimismo da razão.
Eu temo o efeito boomerang. Nos apareceu como um Papa que mudaria tudo e, no
entanto, quase tudo está parado. Houve uma clara caída do número de fieis nas
audiências de 2015 comparadas com as de 2014. E também o Jubileu não está
andando como previsto.
Na Igreja católica estão aumentando de
intensidade duas forças diametralmente opostas: os inovadores, onde me incluo,
e os que, ao contrário, pedem para voltar à "sadia tradição". Uma
característica difusa, sobretudo entre os padres jovens. O Papa está no centro.
Se não decide, ele se arrisca de passar como um belo meteoro luminoso.[2]
O
jornal oficioso do Vaticano, publicou:
Com efeito, a partir da noite da eleição o
Papa testemunhou e anunciou incessantemente o Evangelho, de maneira
transparente e imediata, para falar a todos. Numa continuidade evidente com os
predecessores e com o seu predecessor (que pela primeira vez desde há muitos
séculos renunciou ao pontificado), a ponto de assumir e assinar a sua última
encíclica, quase terminada e por ele feita sua. Ao mesmo tempo, com novidade de
expressões e de olhar, como indicaram imediatamente a escolha do nome e a
proveniência, declarada pelo próprio Pontífice acabado de eleger, «quase do fim
do mundo», ambas sem precedentes.
Por conseguinte, a missão orientada para o
anúncio do Evangelho, antes de tudo testemunhado em primeira pessoa, mas também
reconhecido no compromisso de muitas pessoas. Como na vigília do terceiro
aniversário da eleição em conclave o Papa quis repetir, observando que «muitas
mulheres e homens suportam coisas pesadas, incómodas, para não destruir a
família, para ser fiéis na saúde e na doença, nas dificuldades e na vida
tranquila: é a fidelidade. E são corajosos!».
Ao cuidado da família e ao acolhimento das
famílias feridas, Francisco dirigiu nestes anos uma atenção constante com
palavras, gestos e decisões. Convidando a Igreja e sobretudo cada uma das
comunidades cristãs a um caminho comum que culminou na convocação de duas
assembleias sinodais sobre um tema tão crucial. Com uma escolha que, depois de
meio século da instituição do Sínodo dos Bispos por Paulo VI, está em perfeita
coerência com as indicações conciliares.
Primeiro bispo de Roma que por razões de
idade não participou no Vaticano II, Bergoglio é também o primeiro Papa a ser
seu filho em sentido pleno. Assim à escolha da sinodalidade uniram-se as do
diálogo ecuménico e entre as religiões, juntamente com o realce da
colegialidade. Eloquente neste sentido foi sobretudo a decisão, tomada
exatamente um mês depois da eleição, de constituir um conselho de cardeais que
o está coadjuvando na obra de reforma das estruturas centrais da Igreja.
Com efeito, a necessidade de renovação é
contínua, precisamente como a exigência da conversão. Assim, apoiado por um
consenso muito vasto na Igreja e em medida notável fora dos seus confins
visíveis, Francisco é determinado. E face a oposições e resistências
inevitáveis mantém firme a chamada à misericórdia, ao coração do Evangelho.
Como demonstrou a proclamação de um ano santo extraordinário que quis iniciar
pessoalmente em Bangui, coração da África. Para dizer ao mundo que, apesar de
tudo, este é o tempo favorável para mudar.[3]
A Huffington Post publicou: Papa
Francisco, ano quarto
No dia 13 de março, o Papa
Francisco inicia o seu quarto ano como o Bispo de Roma e pastor para
o mundo. Os seus três primeiros anos foram fascinantes em muitos sentidos,
atraindo uma quantidade excepcional de atenção, inclusive para uma era saturada
de mídia. Através da palavra e do exemplo, ele prega o evangelho que continua
perto do ensino do próprio Jesus. Não é um papado dos privilégios, das
prerrogativas e da pomposidade, mas um papado da defesa profética dos pobres,
marginalizados, fracos, enfermos, imperfeitos, descartados, contra sistemas
econômicos e políticos que os tratam como preguiçosos e perdedores, merecedores
de desprezo e punição. Com pelo menos um candidato
presidencial nos EUA esbanjado a sua riqueza abundante, falando alto
sobre a necessidade de se praticar a tortura e sobre o fim dos direitos
humanos, rebaixando o Papa Francisco, estão à vista de todos a grosseria e o
ódio da hostilidade juntamente com uma voz eloquente em defesa dos pobres.
Muitos católicos e outros ao redor do
mundo acompanham de perto o que o Papa Francisco diz e faz. Ele atrai grandes
multidões quando viaja tanto para os centros do poder, tais como a Casa Branca
em Washington, como para lugares relativamente marginais. Em séculos passados,
as pessoas que tivessem permissão para se encontrar com o papa deviam se
genuflectir e beijar os seus pés. Hoje, vemos estes papéis invertidos, quando é
o papa, o Vigário de Cristo, quem se ajoelha para lavar é beijar os pés de
prisioneiros e empobrecidos. Em séculos passados, a pena de morte era imposta
até mesmo nos Estados Papais; mas, pelo menos, desde o papado do Beato Paulo
VI, e especialmente desde o papado de São João Paulo II, os pontífices papas
pedem por misericórdia e reabilitação para até mesmo os crimes mais hediondos.
A Igreja, hoje, ensina que a dignidade dessas pessoas como seres humanos e o
chamado delas ao discipulado de Cristo continuam intactos, não importa o que de
errado fizeram. Em seu discurso ao
Congresso americano, o Papa Francisco levantou o tópico da defesa da
vida humana e se focou na necessidade de abolir a pena de morte em todos os
lugares. O ensinamento da Igreja sobre a pena capital desenvolveu-se em uma direção
que a exclui em todos os casos. Aqueles que dizem que o ensino católico é
inalterável não sabem muito de história.
O tipo de pessoa beatificada e canonizada
pode também mudar. Ainda que Dom Oscar Romero
tenha sido morto em 1980 enquanto presidia uma missa, a causa de sua
beatificação foi retardada durante décadas por apologistas da violência da ala
direitista em El Salvador. Mas, perto do fim do papado de Bento XVI e
decididamente com o Papa Francisco, os atrasos chegaram a um fim: o Papa
Francisco fez de Romero um mártir e transformou o seu serviço aos pobres em um
exemplo para outros. Pôr-se em defesa dos oprimidos e marginalizados, dos
refugiados e migrantes, não é mais uma coisa entre tantas outras para
Francisco: ela está exatamente no centro da vocação cristã.
A encíclica do
papa sobre o meio ambiente (Laudato Si’) possui uma abundância de
notas de rodapés, notas que muitas pessoas provavelmente não leram, mesmo entre
as que pensam que deram ao documento uma cuidadosa atenção. No entanto, uma das
coisas mais interessantes a respeito desta encíclica é como ela se fundamenta
não só no ensino dos primeiros papas e concílios, mas também nos ensinamentos
recentes das conferências episcopais ao redor do mundo: na América Latina, na
Ásia, na Nova Zelândia, bem como na Europa e América do Norte. Uma encíclica é
um documento de ensino publicado por um papa; Francisco deixa claro que ele
também ensina de um jeito colegiado, uma forma que não é meramente suas
opiniões peculiares, pessoais, para se aceitar ou não de acordo com o capricho
de cada um. A Laudato Si’ é um ensino católico oficial tanto quanto qualquer
outra encíclica já produzida. Ela também convida ao diálogo, especialmente
sobre os aspectos práticos de como deter as mudanças climáticas e preservar o
ambiente natural.
A oposição a esta encíclica não demorou a
chegar, particularmente a partir de interesses escusos que poderiam ver a
acumulação da riqueza extravagante ameaçada por legislações nacionais ou por acordos
internacionais destinados a reduzir a dependência sobre os
combustíveis fósseis e outros fatores-chave na degradação ambiental. O Papa
Francisco demonstra como é o pobre, e as partes mais pobres do planeta, que
mais sofrem com tal degradação. Alguns alegam que o Papa Francisco e a Igreja
Católica não conseguem entender os empresários, mas não seria o contrário:
certos empresários que não conseguem reconhecer a verdade e a justiça do ensino
social católico? Como outras vozes proféticas, o Papa Francisco convida os seus
ouvintes ao arrependimento e à conversão radical. Às vezes, ele soa como um
pregador quaresmal, mesmo quando não se está no período da Quaresma. Por
exemplo: as suas “felicitações de Natal” à Cúria Romana em dezembro de 2014
ecoaram João Batista no deserto convocando para uma reforma drástica da vida.
Mas tais apelos são, sobretudo, um chamado a uma vida nova, de graça e misericórdia,
e a um discipulado aprofundado e humilde de Jesus, o Bom Pastor.
Nos meses de outubro de 2014
e 2015,
os bispos se reuniram em sínodo na cidade de Roma para discutir e debater o
acompanhamento pastoral da família. O Papa Francisco definiu o assunto, a mesmo
tempo fomentando um debate livre e um discernimento orante a respeito de
algumas das questões mais difíceis, onde o cuidado pastoral misericordioso é
desafiado pelos que buscam sustentar o que afirmam ser leis, regras, normas
imutáveis e não intercambiáveis. Para os rigoristas, a adesão ao que diz o
texto da lei supera todas as demais considerações, não importa quais sejam as
consequências catastróficas de uma tal severidade. Como os jansenistas do
século XVII, eles não confiam nos jesuítas, enxergando-os como brandos em se
tratando do pecado e excessivamente otimistas a respeito da natureza humana.
Mas Francisco, o papa jesuíta, em sua homilia de encerramento do Sínodo dos
Bispos 2015, afirmou que os verdadeiros defensores da doutrina são os que
defendem não a sua letra, mas sim o seu espírito: eles põem as pessoas acima
das ideias, e a misericórdia de Deus acima das condenações. Para o Papa
Francisco, que chama a si mesmo de pecador, a misericórdia não é simplesmente o
tema de um ano especial; é o elemento perene do que é divino e, mais
plenamente, humano.[4]
O vaticanista espanhol José Manuel Vidal concedeu entrevista
em que ele diz: “O Papa tem o inimigo em casa e são inimigos muito poderosos”,
afirma vaticanista espanhol
Meu balanço é muito positivo. Eu acredito
que foi espetacular o que conseguiu. Primeiro, mudando a tendência de fundo, ao
descongelar o concílio, ao voltar a colocar o espírito do concílio – com tudo o
que isto acarreta – em primeiro plano. Só isso é fundamental, é uma mudança
tremenda. Depois, mudou o espaço do Papa, seu tempo. Agora, o Papa já não
dedica o seu tempo aos grandes, nem aos ricos, nem à hierarquia. Dedica seu
tempo fundamental aos pequenos, aos mais pobres. Este Papa não é como os outros
em nenhum sentido, em nenhum aspecto. Na forma de vestir, na forma de andar,
inclusive no exemplo. Este Papa prega com o exemplo. Sua grande contribuição é
que tudo o que diz, primeiro faz. Não exige dos demais o que ele não fez
primeiro. Eu acredito que esses são os grandes avanços, além dos avanços
concretos. Criou magistério, ou seja, a coisa não pode retroceder porque já
existe magistério criado.
Esta mudança de tendência que, em sua
avaliação, o Papa Francisco empreendeu é irreversível?
Eu acredito que é irreversível. Primeiro,
porque criou magistério. A tendência não é só uma mudança esporádica, gestual,
de linguagem e superficial. É uma mudança de fundo, que também está apoiada no
magistério e, portanto, o próximo Papa nunca poderá recuar. Poderá atenuar, mas
será obrigado a seguir esta tendência. Entre outras coisas, porque as pessoas
não o entenderiam. Afinal, a Igreja é como qualquer outra instituição que vende
seu produto às pessoas, e ele está seduzindo o povo com esse tipo de Igreja
aberta, samaritana, hospital de campanha, com lugar para todos. Essa é a
dinâmica. Portanto, caso não queiram perder capital humano, e não querem
perdê-lo porque já estão ao fundo, o próximo Papa terá que seguir o caminho
marcado, com suas adaptações, com outra forma, mas seguindo as linhas de fundo.
Apesar disso, você sustenta que “o poder
real quem tem é a Cúria”. Em que estado se encontra a reforma da Cúria,
empreendida pelo Papa? Está estagnada?
Não, isso caminha. Claro que não tão
depressa como alguns gostariam. Reformou-se o IOR (Banco Vaticano), todo o
mecanismo econômico. Isso está limpo. Também está limpo o setor das
comunicações, está reformado, por isso cria uma Secretaria de Comunicação, com
um prefeito novo (Darío Viganò). E agora resta o outro polo para mudar, os grandes
dicastérios da Cúria, está nisso. Eu acredito que antes do verão (boreal) vão
ser mudados absolutamente todos.
Você denunciou a “invisibilização” da
mensagem do Papa. Em sua opinião, dos grandes temas que ele apresenta, quais
são os que provocam mais irritação?
Eu acredito que a denúncia do sistema capitalista que cria
descartes, que deixa grandes setores da população nas sarjetas da história e da
vida, e que não é capaz de fazer com que um trabalhador com um trabalho digno
seja capaz de levar o pão para casa todos os dias. O fato de que o Papa de
Roma, convertido em líder absolutamente global – com uma autoridade moral que
ninguém discute, está acima de qualquer líder global neste momento –, questione
a raiz do sistema operativo do capitalismo, o capitalismo que cria
desigualdade, que não satisfaz as demandas de terra, teto e trabalho, está
produzindo irritação no grande sistema mercantilista, corporativista que rege o
mundo. Já não podem freá-lo. Por isso, agora, a estratégia consiste em
invisibilizar e silenciar os argumentos que atacam a raiz de um sistema que
cria cada vez mais pobreza, por isso suas grandes mensagens a este respeito
nunca aparecem.
Segundo vaticanistas, o Papa enfrenta uma forte resistência
em setores da Cúria. Quais são esses detratores?
Os grupos de poder na Cúria funcionam como
lobbies, como cordas que se sujeitam entre si e há um cabeça em cada uma dessas
cordas. Normalmente, esses cabeças são italianos, os grandes cardeais italianos
como Sodano, Bertone, Re e alguns estrangeiros que foram acrescentados. Todos
eles funcionam como autênticos atrelamentos, então se o Papa começa a lhes
cortar privilégios, começa a caminhar em um sentido que não querem, eles atuam
na obscuridade e à luz abertamente. O que aconteceu? Deram de cara com um Papa
que tem uma capacidade de manobra estratégica, política impressionante e que
tem caráter. Está convencido de que tem uma missão para cumprir e sabe que
precisa cumpri-la, e se alguém lhe obstrui o caminho, irá tirá-lo do meio.
É um Papa solitário?
Eu acredito que tem muitíssimo mais apoio
das bases que qualquer outro Papa do povo e talvez menos apoio do alto clero
que qualquer outro Papa. Tem o inimigo em casa e são inimigos muito poderosos,
porque estão acostumados a mexer os pauzinhos nas sombras e fazem isto há mais
de 30 anos. Em outro momento, qualquer outro Papa teria cedido diante do poder
de manobra de toda esta gente que está metida na Cúria.
Até onde acredita que o Papa pode chegar
com suas reformas, sem provocar um cisma, como advertem conservadores europeus?
O Papa não quer arrebentar a corda.
Esticar muito a corda significa romper, e na Igreja o máximo bem é a comunhão,
que significa que a unidade não seja rompida, que não haja um cisma. Então, por
isso terá cuidado. Por isso, nos temas mais delicados vai muito devagar e ao ir
devagar desconcerta as pessoas de esquerda. O equilíbrio entre esticar e não
arrebentar é o que mais vai lhe custar, é o que mais lhe está custando neste
momento.
A respeito dos casos de pedofilia, você
afirma que o Papa gostaria de “dar um soco na mesa”. No entanto, o tribunal que
criou em junho, para julgar os bispos acusados de acobertar padres, parece não
avançar tão rápido. Qual é a sua opinião?
Não está avançado. Eu acredito que as
inércias levam um pouco à política anterior, a querer esconder, acobertar, a
não colocar em funcionamento realmente eficaz, então o que estão fazendo ao
Papa, no atual momento, para que não alcance seus objetivos é lhe dizer sim,
mas delongar muito para ativar medidas concretas. Já faz quase um ano que
colocou em andamento esse tribunal e não está sendo operativo. Criou uma
comissão, da qual fazem parte cardeais, bispos e vítimas, e dessa comissão
acaba de sair uma das vítimas porque diz que (a comissão) não está fazendo
nada.[5]
Alberto Melloni escreveu:
“Os três anos de Francisco. Artigo de Alberto Melloni”
Esse papa cristão não acredita em um uso
imperioso do governo. Talvez também assume como óbvio que, depois dele, pode
chegar um Pio XIII, que pode reorganizar todo o jogo. Ele vive as suas
convicções sobre a sinodalidade como um modo de ser da Igreja, e sobre o
Evangelho como anúncio que fala para todos, e sobre o pobre como sacramento do
Cristo pobre.
A opinião é de Alberto
Melloni, historiador da Igreja italiano, professor da Universidade
de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII
de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 14-03-2016. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Mesmo hoje, quando se olha para o conclave
de 2013, percebe-se a dificuldade que Francisco produziu em todos. A fim de não
se defrontar com o cristianismo do papa – porque este papa é um cristão que diz
que o Evangelho basta –, debruça-se sobre uma leitura adocicada do conclave,
como se o bispo de Roma, um dos pouquíssimos que, na Igreja Católica, ainda é
indicado com o antigo método da eleição, fosse feito pelo Espírito, em grande
segredo. Em vez disso, o direito canônico é minucioso ao dizer que o bispo de
Roma funciona ao contrário: são homens de carne e osso que carregam a
responsabilidade da sua escolha diante de Deus.
O segredo era uma cautela
antiressurgimental; e as regras querem, acima de tudo, que a designação não dê
origem a desconfortos e contestações.
Isso é tão verdade que até mesmo Bergoglio, há três anos,
quando se assomou à sacada, usou uma fórmula bastante tradicional: "O
dever do conclave é de dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais
foram buscá-lo quase no fim do mundo". Mas aquela eleição de um papa
cristão do Sul – como se no Norte do mundo tivessem acabado – pôs as mãos em
uma desordem sistêmica por causa da qual a Igreja estava se debatendo e que
tinha pouquíssimos precedentes nos cinco séculos passados.
Não era uma questão de escândalos da
Cúria: porque o mais recente dos seus vícios tem cerca de 500 anos. Não era uma
questão de dinheiro: porque, se os únicos ladrões de Roma estivessem dentro dos
muros vaticanos, Roma seria o Éden. Não era o problema de antagonismos
virulentos entre pequenos homens e pequenos mundos do poder eclesiástico
italiano que tinha contraído doenças terríveis, ao ter relações desprotegidas
com a direita mais opaca da Europa. Não era nem mesmo a questão dos escândalos
de fundo sexual: estes também estão muito longe de serem específicos. Não era a
existência de uma engrenagem depreciativa em que, de vez em quando, até mesmo
algum maquinista esmagava o dedo. E muito menos a abertura de lojas onde se
compram e vendem cartas pessoais do papa para alimentar rumores e fortunas à
sombra de moralismos muito falsos.
O sentido da decadência decorria da
sensação de que um erro radical no diagnóstico desses males tinha feito a
Igreja entrar em um impasse implacável, diante do qual Ratzinger tinha se
retraído, esperando, assim, abrir o caminho para alguém que, com maior força,
pudesse usar aquele desastre para imputá-lo ao Concílio, ao pós-Concílio, às
aberturas e às esperanças que tinham percorrido a Igreja nos 50 anos
anteriores.
O pré-conclave, como todos já sabem,
amadureceu um diagnóstico oposto, até mesmo desfocado: não eram as Conferências
Episcopais, as teologias da libertação, as aspirações de diálogo que tinham
feito mal para a Igreja, mas "os italianos". E, portanto, era preciso
buscar um papa que excluísse "os italianos" da corrida, das capitulações
do conclave, do amanhã de uma Igreja que, na dureza límpida do elóquio de
Bergoglio, na sua austera simplicidade, pudesse fazer uma reviravolta.
E a reviravolta chegou pontualmente,
letalmente: pondo diante dos olhos de 1,2 bilhão de fiéis e de alguns outros
bilhões de curiosos a simplicidade de um cristão, de um papa cristão. Que, com
o seu cristianismo, seduz e desloca, orienta e desorienta os três
"partidos", se assim se pode dizer, que na Igreja Católica se
consolidaram no início do século XIX e que – se se pudesse brincar com coisas
tão sérias – poderíamos chamar de PRP, PNF, PCI e MPB.
Ele desorientou o Partido Reclamão Progressista: aquele que,
graças à contínua produção de conservadorismos estranhos por parte da
autoridade, que culminaram com o retorno das rendas e das bijuterias barrocas
de uma liturgia narcisista, podia ficar parado diante da moviola e denunciar a
sua inutilidade com preciosismos dolentes.
Ele desorientou o Partido das Nostalgias
Febris, atravessado por lamentos que se passam por "Tradição" e que,
durante décadas, se contentou com esconder as próprias tibiezas doutrinais e
morais em um rigorismo cujo exagero levantava suspeitas em cada pessoa sábia.
Desorientou o Partido dos Cínicos Impunes: aquele cujos
expoentes vociferantes se sentem parte de um "poder eterno" e olham
de forma dissimulada para Francisco, que, como dizem alguns, "até pode ser
cristão, como você diz, mas não é nada imortal".
Mas o papa também desorientou o Movimento
dos Papagaios Bergoglianos: aqueles que, até 40 meses atrás, faziam tudo
"in veritate", e agora veem "misericórdia" até mesmo nas
borras de café, bebidos estritamente "nas periferias". Desorientados
pelo fato de que "Deus teve piedade da Igreja". Não porque a
"escolha" de Bergoglio venha de Deus de modo diferente daquela que
levou todos os outros bispos – que são todos vigários de Cristo para as Igrejas
locais "nas quais e a partir das quais" se gera a comunhão universal
– às cátedras da catolicidade: tomar esse caminho um pouco espiritualista obrigaria,
de fato, a se perguntar sobre como é possível que, para um "assim",
Ele escolheu tantos "assado".
É melhor, então, como ele fez naquela
noite, se limitar a dizer que a escolha de Francisco foi feita pelos cardeais.
Alguns, sabendo que "o homem é assim", como dizia o mais importante e
hábil dos seus eleitores; alguns, deixando-se levar pela onda de um consenso
que, em 2005, não pôde ser medido até o fim, porque o cardeal Martini em pessoa
temia que, se, com a retirada de Ratzinger, se fosse rumo a um duelo
Ruini-Bergoglio, o papado se tornaria novamente italiano.
Esse papa cristão, portanto, não acredita
em um uso imperioso do governo. Talvez também assume como óbvio que, depois
dele, pode chegar um Pio XIII, que pode reorganizar todo o jogo. Ele vive as
suas convicções sobre a sinodalidade como um modo de ser da Igreja (explicava
isso muito bem um dos seus teólogos de confiança, Dom Marcello
Semeraro, no L'Osservatore Romano do dia 11 de março), e sobre o
Evangelho como anúncio que fala para todos, e sobre o pobre como sacramento do
Cristo pobre, como uma possibilidade que coloca cada um diante de um dilema: se
ele fizer os bispos "cristãos" e mostrar que os bispos também podem
se tornar cristãos, se ele fizer os cristãos "cristãos" e mostrar que
os cristãos mornos também podem se tornar cristãos, ele terá cumprido a sua
vocação de pastor.
Se não conseguir, tanto faz: a única ovelha
que permaneceu no rebanho, olhando do redil as 99 que vagam entre sórdidas
mesquinhezes, poderá vê-las voltarem com os seus pastores cheios de ambições
frustradas para as margens do cercado, invejosas por verem lá dentro uma ovelha
com um pastor que cheira ao odor cristão do
Bom Pastor.[6]
De Marco Politi:
“Papa Francisco, a solidão do maratonista”
Francisco começou uma obra de limpeza no
IOR, fechando milhares de contas, estabelecendo regras detalhadas para a
abertura e o monitoramento das contas correntes, criando uma comissão
antilavagem de dinheiro, firmando acordos de cooperação judiciária com muitos
Estados, deixando que agências internacionais independentes peneirassem as
finanças vaticanas, instituindo um Secretariado para a Economia, encarregado
pelo controle dos contratos (eterna fonte de corrupção) e pelo monitoramento
dos orçamentos das administrações individuais da Santa Sé.
Francisco é o primeiro pontífice que
processou por pedofilia um arcebispo diplomata vaticano (Jozef
Wesolowski), colocando-o na prisão, e que criou um tribunal especial
para os bispos negligentes na perseguição dos abusos sexuais nas suas dioceses.
Francisco iniciou uma reforma da Cúria.
Propôs uma nova abordagem pastoral na temática sexual – da superação do veto à
comunhão aos divorciados recasados ao respeito pelas escolhas de vida dos
homossexuais – até recebendo no Vaticano um transexual com a sua namorada.
Francisco lançou a ideia de colocar as
mulheres em posições de responsabilidade na Igreja, lá onde "se decide e
se exerce a autoridade". Francisco dialoga com os não crentes e é o
primeiro pontífice a escrever uma encíclica (sobre a ecologia) partindo de
dados científicos para chegar às escolhas que um cristão deve fazer em nome do
Evangelho, em vez de colocar na cátedra a "doutrina", pregando para a
ciência como ela deve se comportar.
Francisco começou a nomear bispos,
escolhendo-os entre pessoas não carreiristas, imersas na vida paroquial de
todos os dias. Cutucando os padres a não serem burocratas dos sacramentos e os
bispos a não se acreditarem como príncipes. E fustigando os males que afligem
parte do pessoal da Cúria: narcisismo, autorreferencialidade, Alzheimer
espiritual.
Francisco desvinculou a Santa Sé da
política italiana, relançou a presença internacional do Vaticano no cenário
internacional, abriu um diálogo com os ortodoxos russos e com os protestantes
no 500º aniversário da Reforma de Lutero. Ele mediou entre EUA e Cuba, evitou
em 2013 uma invasão ocidental na Síria (que hoje Obama reconhece que teria sido
um trágico erro). Convidou para Roma o presidente chinês, Xi Jinping. Esses são
fatos.
Mas o fato que mais chama a atenção
enquanto ele começa o quarto ano do seu pontificado é a enorme resistência que
o aparato eclesiástico lhe opõe, não só na Cúria Romana, mas também na massa
dos episcopados espalhados pelo mundo. É uma resistência que nasce do
tradicionalismo, do conservadorismo mais estreito, do medo do novo, do cômodo
apego à rotina, de uma visão doutrinária do cristianismo, da recusa da maioria
dos padres e bispos de assumirem um estilo de vida pobre, abandonando o dos
funcionários do sagrado. Novos escândalos financeiros indecentes explodem, como
mostrou o Vatileaks 2.
A maioria dos bispos não apoiou Francisco
nos dois Sínodos sobre a família para que houvesse regras claras para a
readmissão à Eucaristia dos divorciados recasados e para que fosse reconhecido
o valor positivo das uniões homossexuais. A maioria dos bispos não move um dedo
para fazer com que as mulheres assumam papéis de liderança nos inúmeros órgãos
eclesiásticos (onde não estão em jogo poderes sacramentais). A maioria dos
bispos se recusa a apoiar a regra de que um bispo tem a obrigação de denunciar
à autoridade judiciária um padre predador de menores. Muitos cardeais eleitores
– dos Estados Unidos e não só – não votariam mais em Bergoglio em um conclave.
A Igreja é um organismo enorme, composto
por mais de 1,2 milhão de fiéis. Um enorme corpo institucional, inervado por
milhares de bispos, centenas de milhares de padres, freiras, freis, centenas e
centenas de milhares de membros de associações, movimentos, instituições de
vários gêneros. Mover esse corpo na direção de uma reforma radical, que sacuda
das estruturas e das práticas da Igreja "200
anos de pó" – como disse o cardeal Martini antes de morrer – é
uma operação muito fatigante.
Com a lucidez do bobo da corte, Benigni disse que Francisco
"tenta puxar a
Igreja para Jesus Cristo". Nesse esforço, Bergoglio está
substancialmente sozinho, no sentido de que só uma minoria na Igreja o apoia
concretamente. A grande maioria dos fiéis o aplaude, mas fica olhando.
Falta, de baixo, um forte movimento de bispos, padres,
teólogos, fiéis comprometidos. Como aconteceu, ao contrário, durante o Concílio
Vaticano II, quando, em muitas partes da Igreja, se manifestavam iniciativas de
apoio ativo à virada reformadora.
Ao contrário, desencadeou-se na rede uma
campanha anti-Bergoglio extremamente agressiva. Francisco, criticam-no alguns
dos seus defensores, cometeu dois erros: não mudou todos os chefes da Cúria e
não transformou as suas exortações em instruções a serem seguidas. Isso não
parece estar no seu temperamento.
[7]Só
40% dos católicos praticantes italianos (SWG, agosto de 2015) acha que ele vai
conseguir mudar a Igreja e a Cúria. Assim, ele continua a sua corrida na
solidão do maratonista. E o tempo do pontificado, por sua declaração, não é
muito.
Eugenio Scalfari escreveu:
Três anos atrás, Bergoglio decidiu se chamar Francisco.
Artigo de Eugenio Scalfari.
O Papa Francisco completou no dia 13 de
março três anos do
seu pontificado. Ainda me lembro de quando o cardeal camerlengo da
Santa Igreja Romana, assomando-se à sacada do Palácio Apostólico depois da
fumaça branca, comunicou o nome que o papa tinha escolhido: a praça lotada e a
Via della Conciliazione já haviam explodido em um aplauso ensurdecedor, mas,
quando conheceu aquele nome, o aplauso se tornou uma ovação e aumentou ainda
mais quando Francisco apareceu.
Pessoalmente, eu acompanhava o evento pela
televisão: temos janelas que nos mostram o Panteão sob os olhos de quem olha o
panorama; pouco mais adiante, o excêntrico campanário de São Ivo, depois a
cúpula da Santa Inês e, por fim, no fundo, a cúpula de São Pedro, de
Michelangelo.
Eu olhei intensamente aquele panorama,
depois desviei o olhar para a minha esquerda: havia o Janículo, e se via
distintamente a estátua de Garibaldi a cavalo. Lembro-me também do episódio que
faz parte da história da Itália do Ressurgimento: Garibaldi e a sua
"legião lombarda" tinham combatido em 1849 na Porta San Pancrazio
contra os franceses que queriam esmagar a república romana e levar novamente o
papa para lá. Garibaldi, depois de um sangrento confronto, ordenou a retirada.
Enquanto os poucos garibaldinos que permaneceram atravessavam o Janículo, Nino
Bixio apontou o canhão de que dispunham para a cúpula de São Pedro com a ideia
de fazê-la saltar pelos ares, mas Garibaldi o viu e o deteve: "Você
enlouqueceu?". Assim, ele o impediu, e a cúpula, desse modo, foi salva.
Eu tinha sob os meus olhos Francisco e
Garibaldi.
Confesso que essa associação feita pelos
meus pensamentos me comoveu. Na minha idade, comover-se é fácil, mas nunca
pensaria que, com o Papa Francisco, eu teria um contato estreito, a tal ponto que
ele, em um certo ponto da nossa relação, me disse que me considerava como um
amigo e, enquanto me dizia isso, me abraçou.
Peço desculpas por ter começado contando
os meus sentimentos antes de entrar no mérito deste artigo dedicado a Francisco
no dia do seu aniversário como pontífice, mas os sentimentos fazem entender
melhor os pensamentos que deles derivam, e esses sentimentos produziram uma
amizade muito valorizada por mim (e espero que também por ele) entre o papa
católico e um não crente como eu sou.
Escrevi várias vezes e já o disse várias
vezes em voz alta que Francisco é um revolucionário. Um espírito profético e
revolucionário. Ele mesmo também tem uma linguagem afetuosamente irônica e, em
um telefonema recente, do dia 2 de dezembro, ele começou me dizendo: "Alô,
sou um revolucionário". Era a tarde do dia posterior ao seu retorno de uma
viagem à África, onde ele abriu a primeira porta desse Jubileu.
Como todos sabem, esse Jubileu
extraordinário (os ordinários ocorrem a cada 25 anos) é dedicado à Misericórdia,
e é daí que eu quero partir para indicar os pontos de fundo desse evento
revolucionário.
A misericórdia é um valor típico do
Sagrado, mas não apenas: é ou, melhor, deveria ser também um valor civil, até
mesmo social. Alguns o confundem com o perdão, mas não é assim. O perdão
pressupõe um pecado que o pecador admite que fez e do qual se arrepende. Esse
não é apenas um fato religioso. Se o que uma religião define como pecado for
também um crime que diga respeito à justiça e às leis, a confissão pode ser
considerada como um atenuante, mas que não apaga o crime, com as consequências
do caso.
Como fato religioso, em vez disso, o
arrependimento comporta a absolvição acompanhada por um percurso penitencial.
Eu me lembro que o cardeal Martini, de
cuja amizade fui honrado, me disse que o sacramento mais importante de todos é
a confissão e o percurso penitencial que o pecador deve seguir, e ele
certamente não é obrigado a recitar alguns Pater Noster e algumas Ave-Marias.
Para os pecadinhos, tudo bem, mas não para os graves.
Francisco, quando fala dos pecadores, faz
duas considerações. A primeira é a pouca importância dos "pecadinhos"
determinados pelo caráter da pessoa, pelo ambiente em que vive, pelas tentações
que sofre e as quais, às vezes, não sabe resistir.
Mas, depois, restam os pecados
verdadeiros, graves, produzidos pelas escolhas do mal em vez do bem. Deus nos
deu o livre arbítrio, e como (assim pensa o papa) dentro de nós, de todos nós,
existe uma vocação para o bem e uma para o mal, se escolhemos esta última, o
pecado é grave, e o pecador deve tomar o processo penitencial que tem o
objetivo de convencer aquela alma para seguir a vocação do bem. Esse, aliás, é
o objetivo da Igreja missionária que Francisco lançou como tarefa exclusiva da
religião católica.
Sobre esse ponto, nas nossas conversas,
houve um aprofundamento. Se o pecador não se arrepende e, depois, cai doente e
chega ao ponto da morte e, naquele momento, se arrepende, o perdão de Deus é
certo.
À objeção apresentada por mim de que esse
arrependimento poderia ser feito como uma hipotética vantagem para o Além, a
resposta de Francisco foi: o Senhor vê dentro das almas e, portanto, sabe se o
arrependimento é real ou determinado por um cálculo de segurança. E, depois,
acrescentou mais outra coisa: "Pode acontecer que o moribundo tenha o
desejo de se arrepender, mas não chegue ao arrependimento propriamente dito.
Isso é suficiente para o Senhor, e essa alma está salva".
Eu perguntei: a Igreja missionária tenta
evocar a escolha do bem, mas quem decide em que consiste o bem? A Igreja ou a
pessoa chamada a escolher com o seu critério? A resposta foi: "A pessoa, a
menos que não seja uma escolha intimamente hipócrita". Eu tive essa
indicação durante os nossos encontros e também a escrevi, mas depois a reencontrei
no L'Osservatore Romano quando ele publicou algumas declarações públicas de Sua
Santidade.
Não é revolucionário? Qual é o pontífice
que chegou a lançar uma Igreja missionária desse tipo? E, acima de tudo, qual é
o papa que quis que a atividade da Igreja fosse exclusivamente reservada à
missão, renunciando a todo temporalismo político?
A Igreja sempre foi missionária, e a Ordem
dos Jesuítas principalmente, mas a Missão sempre conviveu com o temporalismo
que Francisco, ao contrário, desconfessou sem reservas.
O verdadeiro confronto com uma parte do episcopado mundial e,
especialmente, do ocidental ocorre nessas questões. Francisco considera a
Igreja institucional como uma espécie de hospital de campanha ou como o armazém
onde se conservam os recursos para financiar os serviços.
A única frase que, nas nossas conversas,
eu o ouvi dizer em francês foi: "L'intendance suivra". A intendência
era precisamente a Igreja institucional, que deve ter contatos e resolver
questões políticas "de serviço" com governos estrangeiros.
Não é por acaso que, à frente da
Secretaria de Estado, está Pietro Parolin. É um ótimo diplomata, mas, ao mesmo
tempo, é um sacerdote capaz de curar as almas. Talvez seja a pessoa mais
próxima de Sua Santidade, o seu mais íntimo interlocutor.
Mas há um outro ponto fundamental na
Missão que o Papa Francisco assumiu como objetivo a perseguir: a Misericórdia,
da qual já mencionamos, mas que é oportuno aprofundar.
A Misericórdia não tem nada a ver com o
perdão dos pecados. É um dom, é o requisito motivador da religião cristã, é a
característica saliente da divindade. A definição mais clara e direta está no
lema "Ama o teu próximo como a ti mesmo", que dá uma legitimidade ao
amor para consigo – necessário para assegurar a sobrevivência do indivíduo –
contanto que seja compartilhado com igual amor pelo próximo.
Sua Santidade, porém, nestes tempos
obscuros que estamos vivendo, modificou esse lema dizendo "Ama o teu
próximo mais do que a ti mesmo". É aí que está a sua revolução que se
transfere para a política.
A política, a alta e nobre como
Aristóteles a considerava, deve levar em consideração e assumir os valores que
os tempos pedem. Amar o próximo mais do que a si mesmo deve se tornar um valor
que se realiza especialmente com políticas sociais, pleno emprego, assistência
aos fracos, inclusão dos excluídos, educação à ética pública, competência,
honestidade. Pensem na corrupção desenfreada, pensem nos refugiados e nos
imigrantes, e vejam qual é o sentido político-religioso do Papa Francisco.
Por fim, há o conceito do deus único, do
qual ele fez a característica mais distintiva do seu pontificado.
Que o deus é único é um conceito até mesmo óbvio. Isso não
descarta que igualmente difundido é o convencimento de que esse deus único é
seu, e a sua propriedade é exclusiva. Assim, há o deus muçulmano, o deus judeu,
o deus católico, o deus cristão, mas não católico, que, por sua vez, se
distingue em ortodoxo, luterano, protestante, anglicano, valdense e assim por
diante. Naturalmente, há também os deuses hindus e outras divindades do Oriente
Médio e Distante.
Francisco reitera continuamente que não
pode ser reivindicada a propriedade de deus. Diversas são as escrituras e os
modos para chegar a ele. Moisés, Abraão, Jesus Cristo, Maomé e outros. Mas
esses percursos, enquanto são feitos, nunca devem obscurecer a unicidade da
divindade em geral e das monoteístas em particular.
Essa posição de Francisco exclui o
fundamentalismo, combate-o e, de algum modo, excomunga-o. Esse é outra
contribuição de alta política do papa. O fundamentalismo é o pai do terrorismo
que se vale de uma religião profanada à sua imagem e semelhança, e está
ensanguentando todo o mundo dos modos mais horríveis e desumanos.
Por fim, há a relação de Francisco com os
não crentes. Somos muitos que cultivam essa relação, motivada pelo fato de que,
entre as prescrições que concluíram o texto final do Concílio Vaticano II,
destaca-se aquela que fala da necessidade de que a Igreja se encontre com a
cultura moderna.
Francisco fez dessa necessidade uma das suas tarefas
principais. Talvez a mais difícil, porque a modernidade nasce e envolve uma
cultura inspirada pelo relativismo e pela laicidade.
A relação entre laicidade e fé religiosa,
de fato, não é fácil de se instaurar e também envolve (mas Francisco está bem
consciente disto) alguma mudança na Igreja.
Devo dizer que o lema "Ama o teu
próximo mais do que a ti mesmo" certamente é um ponto de encontro com uma
laicidade retamente entendida. Mas é preciso trabalhar ainda sobre isso, de um
lado e de outro, para realizar esse encontro com plenitude de resultados,
mantendo as diferenças nos modos de conceber a relação entre além e aquém.
Caríssimo Francisco, feliz aniversário
pontifical e muitos votos pelo teu trabalho de paz, de amor pelo próximo, de
misericórdia, que os não crentes também compartilham.[8]
De John L. Allen Jr:
“Na
marca de três anos, Francisco é um papa ao estilo “tanto uma coisa quanto
outra”
Compreende-se por que esse debate ainda
continua, pois há provas abundantes para sustentar quaisquer das opções.
É possível, no entanto, que a resposta
correta esteja diante de nós o tempo todo, e o fato de às vezes ser difícil
captarmos o seu significado pode acabar dizendo mais sobre a nossa cultura
polarizada do que sobre o papa.
Baseado em tudo que vimos e ouvimos, parece claro que a
resposta certa é “as duas coisas”.
Nesse sentido, o Papa Francisco pode ser
entendido como sendo a personificação viva da ideia de “tanto uma coisa quanto
outra”, que faz parte do DNA católico, mas que está cada vez mais difícil de se
compreender em um mundo onde falsas dicotomias existem em abundância.
Historicamente, conforme o Papa Bento XVI disse certa vez, o
catolicismo foi a grande tradução cristã do “tanto uma coisa quanto outra”.
Quando o protestantismo levantou a dúvida sobre se as Escrituras ou a Tradição
baseiam-se na autoridade, o catolicismo respondeu que eram “as duas coisas”. Da
mesma forma, quando Martinho
Lutero perguntou se a Salvação advém da fé ou da obra, a resposta
católica novamente foi “as duas coisas”.
Francisco tem muito disso consigo.
Em vários fronts, o seu papado vem
significando uma novidade boa para a ala progressista da Igreja. Isso é
especialmente verdade em se tratando de seus movimentos no departamento
pessoal: em Madri, Chicago, Bolonha e alhures, o papa substituiu prelados
fortemente conservadores por líderes de centro-esquerda. Tais nomeações são
importantes, porque estes bispos irão exercer influência por um longo tempo.
No entanto, Francisco é também claramente
“conservador”, no sentido de que ele é o papa há três anos e ainda não alterou
uma única vírgula no catecismo, o compêndio oficial do ensino católico. Ele disse
não à ordenação feminina, não ao casamento gay,
definiu o aborto como o mais terrível dos crimes, defendeu a proibição do
controle de natalidade e nos demais temas polêmicos ele se declarou um “filho
leal da Igreja”.
Francisco representa uma maior
misericórdia e compaixão às pessoas que não vivem de acordo com tais ideais, o
que ficou expresso em seu dizer “Quem sou eu para julgar?” sobre os gays em
julho de 2013.
Ao mesmo tempo, de forma alguma isso
implica ser brando na questão do pecado. Na verdade, quando Francisco fala
sobre as estruturas e os comportamentos, e não de pessoas de carne e osso, ele
pode ser marcadamente julgador.
Este é um pontífice que obviamente crê que
o diabo é real, que existe um diabo pessoal e um inferno, e que a tentação ao
pecado é um fato constante na vida.
Em termos de sua personalidade, a sua
ênfase na humildade e simplicidade não é um mero exercício de relações
públicas. O seu sonho de uma “Igreja pobre
para os pobres” remonta aos anos de arcebispo de Buenos Aires,
quando era conhecido como o bispo das favelas.
Se você quiser ter um olhar para o
interior deste papa, aqui vai uma dica: por debaixo deste aspecto exterior
reside amente de um estrategista jesuíta brilhante. Ele tem uma estratégia, e
não é nada bobo.
Francisco é um líder reformador, porque isso fazia parte dos
desejos do grupo que o elegeu três anos atrás. Ele está se esforçando para
injetar transparência, responsabilização e profissionalismo nas operações
vaticanas, começando pelas finanças.
Ele igualmente é um líder revolucionário,
ainda que no nível da prática pastoral, e não no nível doutrinal.
Se isso soar abstrato demais, apresento
este exemplo concreto: um casal gay quer matricular o filho em uma escola
católica. Uma opção seria dizer não, a fim de não causar escândalo. Uma outra
opção é dizer sim, sustentado no fato de que ter algum contato com a fé é
melhor do que nenhum. Ambas as respostas estão de acordo com o ensino católico,
porém enviam mensagens diferentes.
A revolução de
Francisco está se desdobrando neste nível, levando a Igreja em
direção a uma postura mais acolhedora.
Em outras palavras, uma razão por que
Francisco continua sendo um teste difícil de se decifrar é que o seu destino é
ser um papa ao estilo “tanto uma coisa quanto outra” numa era que “é e não é”.
Claro, isso não significa defender cada
decisão ou declaração que o papa faz. A maior parte do que um pontífice diz ou
faz não é matéria de dogma, sendo iminentemente discutível – um ponto que
Francisco seria o primeiro a concordar, conforme demonstrou recentemente, por
exemplo, com relação à declaração conjunta que assinou em fevereiro com o Patriarca
Kirill da Igreja Ortodoxa Russa, e que foi vista por alguns como um
golpe de propaganda política para Moscou.
Por outro lado, o Papa Francisco nos traz
uma grande alegria em um mundo polarizado: até onde diz respeito a Igreja
Católica, e com uma dose saudável de moderação, é bem possível ficarmos felizes
com uma pequena fatia do bolo e, com ela, nos deliciarmos também.[9]
Robert
Mickens escreveu:
“Três anos de um pontificado extraordinário. Mas… chegou a
hora de o papa abordar temas candentes”
De certa alguma forma, é difícil acreditar
que, neste domingo (13-03-2014), o primeiro papa jesuíta e nascido no Novo
Mundo estará celebrando apenas o seu terceiro aniversário de pontificado.
O papa marcará esta data de um jeito que
não deve surpreender ninguém: ele o fará jantando com alguns dos desabrigados
que frequentemente procuram comida e um lugar para descansar na região em torno
do Vaticano.
O único papa a tomar o nome do santo pobre
e querido de Assis está trabalhando pesado para mudar a mentalidade de seus
companheiros católicos, encorajando-os – pela palavra e pelo exemplo – a se
tornarem “uma Igreja
pobre para os pobres”.
Ele também tem dado testemunho sobre o que
significa ser uma Igreja humilde e misericordiosa, que caminha com a humanidade
pecadora em um diálogo respeitoso, e como um viajante companheiro numa jornada
incerta, em vez de uma Igreja centrada em pregar absolutos morais e
admoestações – na maior parte sobre as chamadas “questões pélvicas” – desde uma
distância segura de seus santuários higienizados.
Um pouco de ar fresco
Dentro da comunidade eclesial em si, o Papa
Francisco restaurou o senso de “normalidade” sobre o que significa
ser Igreja, principalmente pondo de lado as polêmicas polarizantes em torno do
que constitui a interpretação correta do Concílio
Vaticano II e abandonando tentativas inúteis de simular a vida e o
culto católicos do período pré-Vaticano II.
Apesar da oposição feroz dentro da Cúria
Romana – oposição ainda que dissimulada –, ele se pôs metodicamente a reformar
a burocracia central da Igreja. Infelizmente, as mudanças foram poucas até
agora, mas Francisco prometeu que, nesse objetivo, não irão dissuadi-lo.
E o mais importante: ele igualmente está
lançando cuidadosamente as bases para aquilo que pode ser a mudança mais
significativa na estrutura de governo da Igreja em mais de mil anos: a mudança
de uma forma monárquica e centralizada de comando para um modelo sinodal e
subsidiário mais próximo da prática da Igreja primitiva.
O pontífice de 79 anos, assim como João
XXIII fez mais de meio século atrás, trouxe um ar fresco e uma grande esperança
extremamente necessários às pessoas na Igreja e no mundo todo. E, por isso, ele
ganhou com razão a admiração de católicos e não católicos.
Tudo isso é muito encorajador.
Porém…
Sim, sempre há um “porém”. E, nesse caso,
ele é bem grave e bastante preocupante.
Todas as coisas boas que o Papa Francisco
conseguiu até agora não só corre o risco de ser ofuscado, mas todo o seu
pontificado pode ser significativamente posto em perigo caso ele não comece
imediatamente a agir de forma mais decisiva em, pelo menos, duas questões que
preocupam profundamente um segmento significativo de seu rebanho: a pedofilia
e o papel das
mulheres dentro da Igreja.
A sua negação – ou simplesmente a sua
falta de interesse em – abordar seriamente estes dois temas causa perplexidade
e é profundamente decepcionante para muitos católicos que, por outro lado, o
acham um papa extraordinariamente inspirador. Ele vai perder o apoio destas
pessoas e afastar inúmeras outras caso não comece a agir.
Abusos sexuais clericais e bispos errantes
É um fato simples e indiscutível que o
Papa Francisco não priorizou, em seu pontificado, tratar os casos de abuso
sexual dentro da Igreja Católica. Os poucos passos que ele deu – a criação de
uma comissão consultiva para a proteção (tutela) dos menores de idade e um
tribunal para responsabilizar os bispos por má-conduta no tratamento em casos
dessa natureza – vieram após a insistência de outros, principalmente do Cardeal
Sean O’Malley, arcebispo de Washington, membro do Conselho dos Cardeais.
Mas nenhum destes dois órgãos – a Comissão para
a Tutela dos Menores e o tribunal eclesiástico – produziu
resultados visíveis. A comissão composta por 17 membros, presidida por O’Malley,
reuniu-se somente duas vezes desde que foi criada há dois anos. E ela já
removeu (pelo menos temporariamente) um dos dois sobreviventes de abusos
sexuais participantes da Comissão – Peter Saunders, britânico
– por ser sendo demasiado crítico sobre a inação do papa e de um de seus
assessores principais (o Cardeal George Pell),
que supostamente teria acobertado casos de pedofilia e bullying décadas atrás
na Austrália.
Incrivelmente, Francisco nunca participou
de um encontro desta Comissão, apesar dos pedidos para que ele se fizesse
presente. Ele nunca também se encontrou com os seus membros enquanto grupo. Na
verdade, demorou mais de um ano depois de sua eleição até que viesse a se
encontrar oficialmente com alguém que fora sexualmente abusado em sua juventude
por um padre. O sr. Saunders
esteve entre os seis sobreviventes que o papa viu nesse encontrou inicial em
julho de 2014 em sua residência no Vaticano.
Desde então, Francisco se reuniu com
sobreviventes de abusos sexuais clericais somente uma outra vez. Isso foi em
setembro de 2015 durante a sua visita à Filadélfia. Um grupo de
sobreviventes da Austrália que viajou para Roma poucas semanas atrás para
presenciar o depoimento via videoconferência dado por Pell à Comissão Real
[australiana] para Respostas Institucionais ao Abuso Sexual Infantil tentou ter
um encontro com
o papa. Mas o grupo não teve sucesso.
O padre jesuíta Federico Lombardi,
porta-voz do Vaticano, alegou que Francisco não recebeu o pedido para se
encontrar com o grupo. Porém os australianos contestaram essa afirmação e
mostraram uma cópia de um fax que haviam enviado à residência papal. Mesmo que
os funcionários aqui – coordenados por Dom Georg Gänswein – não tivessem
repassado o pedido para as autoridades competentes, é absolutamente impossível
que o papa (ou, pelo menos, as pessoas próximas dele) de nada soubessem do
desejo das vítimas australianas.
Quatro dias antes de o grupo voltar para a
Austrália, a imprensa italiana informou o desejo deles de se encontrar com o
papa. Não deveria sequer haver a necessidade de eles submeterem um pedido
oficial. O Papa Francisco, famoso por seus telefonemas inesperados a pessoas
simples e por ter a iniciativa de se encontrar com todos os tipos de pessoas
possíveis, deveria ter estendido este seu convite para incluir os sobreviventes
australianos.
Será que algum de seus assessores mais
próximos o incentivou a agir assim? Se não, por que não houve um encontro entre
ele e os sobreviventes? E o que feio feito do departamento jurídico especial
“para julgar bispos em relação a crimes de abuso de poder quando conectado com
o abuso de menores” que, em junho passado, seria criado dentro do tribunal da
Congregação para a Doutrina da Fé – CDF?
Este setor não deu em nada.
Já se passaram nove meses desde que o
anúncio foi feito e, no entanto, Francisco sequer nomeou o secretário ou alguém
mais para supervisionar este novo departamento. Esse novo mecanismo do tribunal
da CDF era para servir como prova de que o Vaticano estava sendo falando sério
a respeito da responsabilização dos bispos em casos de má-conduta relativa a
casos de abusos
sexuais em suas jurisdições eclesiásticas.
Sem dúvida, houve uma forte oposição ao
plano. E ele veio certamente também de dentro da própria congregação doutrinal.
Afinal de contas, o seu prefeito, o Cardeal Gerhard Müller, fora denunciado
repetidas vezes por fiéis em sua antiga diocese alemã de Regensburg por
permitir que padres, sabidamente culpados de abuso sexual, permanecessem no
ministério.
Mas a bem da justiça e de sua própria
credibilidade, o Papa Francisco precisa superar esta oposição e este impasse.
Caso contrário, os seus comentários concernentes à responsabilização dos bispos,
coisa que ele fez no mês passado enquanto voltava da visita ao México,
continuarão a soar como falsos.
“Um bispo que troca um sacerdote de
paróquia quando se reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o
melhor que pode fazer é apresentar sua renúncia”, disse o papa. “Está claro?”,
acrescentou ele, evidentemente para mostrar a sua seriedade.
Mas um papa pode também exigir uma tal
renúncia. E se um bispo se recusa, ele pode trocá-lo. Isso não aconteceu, a
menos que tenha sido feito secretamente, o que dificilmente é uma vitória para
o princípio de transparência, que é o que está por detrás de tudo isso.
Cada vez mais, por causa de sua falta de
ação, a muitas pessoas parece que, quando se trata da questão dos abusos
sexuais infantis cometidos pelo clero, o Papa Francisco ainda não entendeu a
mensagem.
A Igreja estará vazia sem elas
E provavelmente existem mais pessoas ainda
que enxergam o papa argentino como, lamentavelmente, fora de contato com as
problemáticas relacionadas às mulheres, especialmente a necessidade de criar
mais áreas de participação para elas na vida e nos níveis de tomadas de decisão
da Igreja.
Mesmo se deixarmos de lado a questão da ordenação
feminina ao sacerdócio – ainda que ninguém na Igreja tenha um
argumento teológico coerente e convincente a oferecer sobre o porquê elas não
podem participar no presbitério –, existem tantas outras áreas onde se precisa
desesperadamente da presença delas.
O problema acima mencionado dos casos de
pedofilia é somente um exemplo. Se as mulheres estivessem envolvidas em forjar
a resposta inicial da Igreja àquilo que agora estamos começando a entender se
tratar de uma pandemia mundial em geral, provavelmente se teria lidado de forma
diferente com as coisas e, provavelmente, ter-se-ia uma ação mais eficiente.
Aqui estamos diante de uma área onde o “gênio feminino” e os “instintos
maternais” singulares (que certos hierarcas gostam de apontar) teriam sido
certamente úteis.
As mulheres ocupam cargos importantes na
Igreja, na medida em que coordenam importante entidades prestadoras de serviços
à comunidade, tais como escolas, hospitais e organizações de caridade. Alguns
bispos possuem mulheres como secretárias executivas, chanceleres diocesanas,
canonistas e professoras seminaristas.
Mas esta tal inclusão é deixada aos caprichos ou à
engenhosidade de cada bispo.
Estruturalmente, as mulheres continuam sendo cidadãs de
segunda classe na Igreja Católica. E qualquer menina de 10 anos de idade que
(surpresa!) não tenha interesse algum na Igreja sabe disso: mesmo se a mãe dela
ou sua avó, ainda tentando amar e permanecer nessa comunidade de fé, ache
difícil reconhecer este fato.
O Papa Francisco tem a autoridade e o
poder de mudar esta situação. E é melhor ele começar a fazer isso já.
Francisco vem sendo um papa inspirador,
podendo contar com o apoio e a oração de tantos fiéis que querem – e precisam –
desesperadamente que ele tenha sucesso em reformar e renovar a Igreja.
Mas se ele não encontrar um modo de fazer
das mulheres cidadãs plenas nesta comunidade, dando-lhes uma voz igual em todas
as áreas de tomada de decisão e serviço na Igreja, até mesmo aquelas (e
aqueles) jovens que ainda se interessam no desenvolvimento espiritual e que
nutrem o sentimento de pertença irão continuar a olhar para outros lugares.
[10]O
Ano Quatro do pontificado de Francisco, o Bispo de Roma, está começando. Chegou
a hora de ele abordar estas questões
candentes.
Francesco Antônio Grana se interroga:
Papa Francisco: o que restará desses três anos?
Pouco importa, em vez disso, se restará
algo desses três anos de pontificado para os adoradores, por mera conveniência,
do soberano de plantão. Curiais treinados há séculos a se ajoelharem a papas
extremamente diferentes entre si: do paterno Roncalli ao introvertido Montini,
do tímido Luciani ao vulcânico Wojtyla, do manso Ratzinger ao ciclone
Bergoglio. O importante é ostentar o sorriso na frente, para depois apunhalar
pelas costas.
O que restará desse pontificado pouco
importa também para aqueles que sabem que, na lógica da alternância que há
muito tempo vigora também na Igreja Católica, a um "papa midiático"
segue-se um menos vendável na mídia de massa. Foi assim com Roncalli e Montini,
depois com Wojtyla e Ratzinger, e também será com Bergoglio e o seu sucessor.
Decepcionados, talvez, ficarão os chamados
reformadores, aqueles que elegeram Francisco para demolir a Cúria Romana, o seu
poder, o seu centralismo, as suas burocracias em detrimento de um catolicismo
pulsante e em forte expansão na Ásia, na América Latina e na África.
Decepcionados como os judeus de 2.000 anos
atrás, que se encontravam escolhendo entre o pacífico Jesus e o revolucionário
Barrabás. No fim, diante da rendição impotente do primeiro diante dos
conquistadores romanos e das calúnias farisaicas, a escolha recaiu sobre o
segundo que, embora com a espada, assegurava que satisfazia os ideais
revolucionários dos rebeldes.
O que restará de um pontificado nascido de
um gesto, o da renúncia de Bento XVI, inédito para a história recente da Igreja
Católica. Um "reino", o de Francisco, feito de humildade e serviço,
de vida compartilhada com os últimos; ontem, com os descartados de Buenos
Aires; hoje, com os de Roma e do mundo.
Um papa que almoça à mesa com os
empregados vaticanos, no refeitório da sua espartana residência da Casa Santa
Marta, com os mendigos que dormem ao redor da Praça de São Pedro, com os presos
dos cárceres do mundo, com os toxicodependentes com os quais recentemente
compartilhou uma pizza. É um papa que, com o seu estilo de vida mais do que com
as suas palavras, põe em discussão continuamente 2.000 anos de catolicismo.
Francisco faz mal para a Igreja de Roma?
Há aqueles que estão profundamente convencidos disso e não têm sequer o pudor
de esconder o seu pensamento. Pior se vestem as batinas filetadas de bispos e
cardeais. Viu-se isso no recente Sínodo sobre a família com a carta dos 13
purpurados contra as possíveis aberturas do papa sobre os
divorciados recasados.
Francisco faz bem para o mundo com os seus
apelos concretos em favor dos migrantes e com o extraordinário sucesso
diplomático do degelo entre Cuba e Estados Unidos, reconhecido pelas
chancelarias de ambos os países? Três anos são muito poucos para traçar uma
avaliação de um pontificado voltado a levar a Igreja, com a autoridade que
merece, novamente para o cenário da geopolítica mundial. Aquela Igreja
"perita em humanidade", como diria o Bem-aventurado Paulo VI na ONU,
primeiro pontífice a falar nesse encontro, no dia 4 de outubro de 1965.
Depois de três anos de pontificado,
enquanto o mundo está apenas começando a aprender, a amar, mas também a odiar
Bergoglio, não é possível avaliar plenamente a sua bastante acelerada obra de
reforma, em dois setores em particular: economia e pedofilia. Também não é
possível dizer se o fato de ele levar o papel do papa ao de um normal bispo do
mundo é realmente bom ou mau para a Igreja. Sabe-se lá se esse seu desejo de
normalidade, de ir a uma pizzaria, de continuar tendo intimidade com os amigos
de antigamente não levará, depois, o sucessor de um amanhã distante a voltar a
colocar a tiara sobre a cabeça.
Três anos são decisivamente poucos para
dizer o quanto Francisco incidiu realmente na Igreja, talvez muito pouco, e, no
mundo, talvez realmente muito. O quanto Francisco desequilibrou o poder curial
a partir de dentro, talvez quase nada, e pôs em discussão os párocos de todo o
mundo que continuam expondo do lado de fora das suas igrejas as listinhas de
preços para missas e sacramentos.
[11]Porém,
para Albino Luciani, bastaram apenas 33 dias para afirmar a "revolução do sorriso"
dentro da Igreja. Amado e odiado, Bergoglio rejeita a audiência, dentro e fora
da Cúria Romana, e continua sendo um homem antes de ser papa.[12]
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
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