No
seu ultimo dia de viagem ao México, ontem, dia 17 de fevereiro de 2016, em
Ciudad Juarez, segundo a jornalista Rita Siza[1],
a referida cidade é o lugar onde “milhares de pessoas morreram nos últimos anos
a tentar passar para o Texas – existe um pequeno altar que Francisco fez questão de incluir no seu trajeto: foi ali que se construiu o palco que
acolheu a última missa celebrada pelo Papa no México, para a qual foram
distribuídos mais de 215 mil bilhetes. Além disso, a cerimônia tinha direito a
transmissão em direto do outro lado da fronteira – as portas do estádio Sun
Bowl, de El Paso, estavam abertas e esperava-se uma multidão de 30 mil pessoas.
A
solidariedade manifestada pelo Papa com os migrantes que tentam entrar nos EUA
valeu críticas do favorito na corrida à nomeação republicana para a Casa
Branca, Donald Trump, que prometeu reforçar o muro que separa os dois países se
for eleito Presidente. “Não me parece que o Papa perceba o perigo que a
fronteira com o México representa”, declarou o milionário, que causou polêmica
ao descrever os imigrantes mexicanos como criminosos, traficantes e violadores.
Antes
da missa, Francisco visitou o Centro de Reinserção Social número 3 do complexo penal de Juárez, “o
inferno”, como era conhecido o estabelecimento prisional mais perigoso do
México nos tempos em que era dominado pelo cartel Sinaloa. “Aqui matava-se por nada”, recordou um ex-detido de 48
anos, referindo-se à sequência de motins, agressões e violações a que assistiu
durante o seu encarceramento.
Era
uma réplica da vida que se vivia fora da cadeia: para os moradores de Juárez, a
visita do Papa é a prova acabada das mudanças profundas por que a cidade passou
nos últimos cinco anos, depois de ficar conhecida em todo o mundo como o epicentro da violência e brutalidade dos cartéis do narcotráfico
e o símbolo do fracasso da guerra às drogas.
A
chegada em força do Exército, a purga das forças policiais locais, e o fim da
guerra territorial entre cartéis contribuiu para que, entre 2010 e 2015, o
número de homicídios em Ciudad Juárez
caísse do recorde de 3000 para 300 – uma descida tão impressionante que chega a
iludir a dura realidade que ainda se vive na cidade. Raptos e abusos de
mulheres continuam a ser ocorrências comuns; toxicodependentes e sem abrigo, ou
prostitutas e “falcões” ocupam bairros inteiros e afugentam os visitantes; a
extorsão ainda “come” uma parte das receitas do comércio.
Mas
se a presença de Francisco deu azo a elogios ao sucesso das medidas de segurança, também ofereceu uma
oportunidade para a população “reclamar” das suas condições de vida: do
desemprego ou dos baixos salários, da carência de infraestruturas e também de
escolas. O Papa esteve reunido com uma delegação de empresários e dirigentes
políticos, a quem lembrou que “o melhor investimento que se pode fazer é nas
pessoas, nas famílias”. Para “os jovens que estão expostos à falta de
oportunidades de estudo ou de trabalho sustentável” é muito fácil “cair no
ciclo do narcotráfico e da violência”, observou Francisco”.
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
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