quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

VIAGEM DO PAPA AO MÉXICO – 12 (Serie 71 anos, 182°)

Para concluir esta serie de textos  sobre a viagem do papa ao México, transcrevo agem o artigo de Gianfranco Brunelli[1], que faz um feliz balanço desta viagem.
            “Mas, na Declaração conjunta há elementos positivos. Certamente é reafirmada a memória compartilhada do primeiro milênio do cristianismo, bem como a admissão das divisões atuais. Continua a página 22, mas repentinamente recorda que “a nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos autorizam a permanecer inertes ante outros desafios que requerem uma resposta comum”. É como se Francisco tivesse arrastado consigo também Kirill, imprimindo impulso a uma história que como dividida se torna comum. Os ortodoxos reforçam a voz cristã que se torna una diante de muitos males, das situações de angústia, de pobreza também moral e de guerra.
Forte é a referência ao martírio compartilhado pelos cristãos de toda confissão, a partir das zonas de guerra do Oriente Médio: “Em muitos países do Oriente Médio e da África do Norte os nossos irmãos e irmãs em Cristo são exterminados por famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são devastadas e saqueadas barbaramente, os seus objetos sacros profanados, os seus monumentos destruídos. Na Síria, no Iraque e em outros países do Oriente Médio, constatamos com dor o êxodo maciço dos cristãos da terra da qual começou a difundir-se a nossa fé e onde eles viveram, desde os tempos dos apóstolos, junto a outras comunidades religiosas”. Mais problemática e apenas acenada é a questão religiosa e política da Ucrânia. Roma não vai interferir no cisma interno às Igrejas ortodoxas e os greco-católicos sofrem certamente menos obstáculos de Moscou.
Mas, não é para amanhã. Antes é preciso resolver as situações de guerra. E Roma não pode dar sequer a impressão de sacrificar a outros desígnios a sua Igreja. A três anos de sua eleição, Francisco confirma do México o estilo do seu pontificado. O México é um banco de prova para a Igreja católica. Terra também ela de martírio e de limitação das liberdades religiosas num tempo ainda não distante.
Terra onde hoje não existe a relação entre Estado e Igreja a preocupar, mas como a Igreja possa estar presente e crível num contexto onde se concentram ilegalidades e violência, narcotráfico e desolação juvenil. Terra onde uma parte minoritária da Igreja tentou, nos anos noventa, um testemunho diverso e uma fidelidade mais radical ao Evangelho, sobretudo nas dioceses “indígenas” do Chiapas, e onde Roma interveio para bloquear aqueles fermentos de novidade.
Hoje o bispo de Roma reconhece aquela renovação, colocando-o fora de toda ideologia. O Papa tem passagens comoventes quando fala do estilo cristão inspirado pela Madona de Guadalupe. “A Morenita custodia os olhares daqueles que a contemplam, reflete a fisionomia daqueles que a encontram. É preciso aprender que há algo de irrepetível em cada um daqueles que nos olham à procura de Deus. Toca a nós não nos tornarmos impermeáveis a tais olhares. Custodiar em nós cada um deles, conservando-os no coração, protegendo-os”.
O Papa vindo da Argentina modifica a relação centro e periferia. O centro não é mais em Roma. Roma permanece sendo o símbolo. Aqui estão as tumbas de Pedro e de Paulo. Agora o centro é em qualquer lugar. Em cada lugar, em cada consciência. Não basta sequer evocar per diferença as periferias. Elas são o lugar hermenêutico do cristianismo, a figura de sua credibilidade.
Daqui partir – repete o Papa – para julgar sobre a verdade do nosso encontro com Deus? Do homem vestido ou daquele nu? Daquele armado ou daquele desarmado? Deus, diz Francisco, percorre a história até o extremo de si. Em sua anulação na cruz mensura e assume toda a distância do ser. Por isso o Papa evoca a figura dos homens e das mulheres descartadas, derrotadas, abandonadas. Cuba é definida, na declaração conjunta com Kirill, “na encruzilhada entre Norte e Sul, entre Leste e Oeste", Ilha “símbolo das esperanças do 'Novo Mundo' e dos dramáticos eventos da história do século vinte”.
Mas, não é a geopolítica que move Francisco. Cuba, neste sentido, é ocasional. O encontro ocorreu no aeroporto. Nem o são as ideologias que representavam ainda uma chave necessária para compreender os dois últimos pontificados. É a evangelização. Isto é, o anúncio que as Igrejas cristãs devem levar a todo lugar, a todos e a cada um. O centro é a mensagem e o seu destinatário. Deus e o homem. Esta é a resposta do Papa Francisco à crise epocal em ato e à relação inevitável e decisiva entre cristianismo e globalização. Aos bispos mexicanos ele disse que não confia nos carros e nos cavaleiros dos modernos faraós. Não será a proteção do poder que vai favorecer e iluminar esta nova idade do testemunho cristão. Mas a coluna de foto. É o Papa do êxodo.



 Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de Oliveira, enfermeiro cuidador do autor. 





[1] IHU. 17/02/2016.

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