Para concluir
esta serie de textos sobre a viagem do
papa ao México, transcrevo agem o artigo de Gianfranco Brunelli[1],
que faz um feliz balanço desta viagem.
“Mas, na Declaração conjunta há elementos
positivos. Certamente é reafirmada a memória compartilhada do primeiro milênio
do cristianismo, bem como a admissão das divisões atuais. Continua a página 22,
mas repentinamente recorda que “a nossa consciência cristã e a nossa
responsabilidade pastoral não nos autorizam a permanecer inertes ante outros
desafios que requerem uma resposta comum”. É como se Francisco tivesse
arrastado consigo também Kirill,
imprimindo impulso a uma história que como dividida se torna comum. Os
ortodoxos reforçam a voz cristã que se torna una diante de muitos males, das
situações de angústia, de pobreza também moral e de guerra.
Forte
é a referência ao martírio compartilhado pelos cristãos de toda confissão, a partir das zonas de guerra do Oriente Médio:
“Em muitos países do Oriente Médio e da África do Norte os nossos irmãos e
irmãs em Cristo são exterminados por famílias, aldeias e cidades inteiras. As
suas igrejas são devastadas e saqueadas barbaramente, os seus objetos sacros
profanados, os seus monumentos destruídos. Na Síria,
no Iraque e em outros países do Oriente Médio,
constatamos com dor o êxodo maciço dos cristãos da terra da qual começou a
difundir-se a nossa fé e onde eles viveram, desde os tempos dos apóstolos,
junto a outras comunidades religiosas”. Mais problemática e apenas acenada é a
questão religiosa e política da Ucrânia. Roma não vai interferir no cisma interno
às Igrejas ortodoxas e os greco-católicos sofrem certamente menos obstáculos de
Moscou.
Mas,
não é para amanhã. Antes é preciso resolver as situações de guerra. E Roma não
pode dar sequer a impressão de sacrificar a outros desígnios a sua Igreja. A
três anos de sua eleição, Francisco confirma do México o estilo do seu
pontificado. O México é um banco de prova para a Igreja católica. Terra também ela de martírio e de
limitação das liberdades religiosas num tempo ainda não distante.
Terra
onde hoje não existe a relação entre Estado e Igreja a preocupar, mas como a
Igreja possa estar presente e crível num contexto onde se concentram
ilegalidades e violência, narcotráfico e desolação juvenil. Terra onde uma
parte minoritária da Igreja tentou, nos anos noventa, um testemunho diverso e
uma fidelidade mais radical ao Evangelho, sobretudo nas dioceses “indígenas” do Chiapas,
e onde Roma interveio para bloquear aqueles fermentos de novidade.
Hoje
o bispo de Roma reconhece aquela renovação, colocando-o fora de toda ideologia.
O Papa tem passagens comoventes quando fala do estilo cristão inspirado pela Madona de Guadalupe. “A Morenita custodia os olhares daqueles que a
contemplam, reflete a fisionomia daqueles que a encontram. É preciso aprender
que há algo de irrepetível em cada um daqueles que nos olham à procura de Deus.
Toca a nós não nos tornarmos impermeáveis a tais olhares. Custodiar em nós cada
um deles, conservando-os no coração, protegendo-os”.
O Papa vindo da Argentina modifica a relação centro e periferia. O centro não é mais
em Roma. Roma permanece sendo o símbolo. Aqui estão as tumbas de Pedro e de
Paulo. Agora o centro é em qualquer lugar. Em cada lugar, em cada consciência.
Não basta sequer evocar per diferença as periferias. Elas são o lugar
hermenêutico do cristianismo, a figura de sua credibilidade.
Daqui
partir – repete o Papa – para julgar sobre a verdade do nosso encontro com
Deus? Do homem vestido ou daquele nu? Daquele armado ou daquele desarmado?
Deus, diz Francisco, percorre a história até o extremo de si. Em sua anulação
na cruz mensura e assume toda a distância do ser. Por isso o Papa evoca a
figura dos homens e das mulheres descartadas, derrotadas, abandonadas. Cuba é definida, na declaração conjunta com Kirill, “na encruzilhada entre Norte e
Sul, entre Leste e Oeste", Ilha “símbolo das esperanças do 'Novo Mundo' e
dos dramáticos eventos da história do século vinte”.
Mas,
não é a geopolítica que move Francisco. Cuba,
neste sentido, é ocasional. O encontro ocorreu no aeroporto. Nem o são as
ideologias que representavam ainda uma chave necessária para compreender os
dois últimos pontificados. É a evangelização. Isto é, o anúncio que as Igrejas
cristãs devem levar a todo lugar, a todos e a cada um. O centro é a mensagem e
o seu destinatário. Deus e o homem. Esta é a resposta do Papa Francisco à crise
epocal em ato e à relação inevitável e decisiva entre cristianismo e
globalização. Aos bispos mexicanos ele disse que não confia nos carros e nos cavaleiros dos
modernos faraós. Não será a proteção do poder que vai favorecer e iluminar esta
nova idade do testemunho cristão. Mas a coluna de foto. É o Papa do êxodo.
Digitou esse texto Ricardo Rodrigues de
Oliveira, enfermeiro cuidador do autor.
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